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EDITORIAL

A nova flechada de Janot e a dinâmica das lutas

12/09/2017- Brasília- DF, Brasil- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante lançamento da campanha Todos juntos contra a corrupção, no Conselho Nacional do Ministério Público Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Editorial de 15 de setembro,

A poucas horas de acabar seu mandato, o procurador-geral da República disparou sua última “flechada”. Rodrigo Janot denunciou Temer pela segunda vez ao STF. O presidente é acusado de liderar organização criminosa e obstruir a Justiça. De acordo com Janot, Temer é o chefe de uma quadrilha formada pela cúpula do PMDB na Câmara.

A “flechada” do procurador-geral atinge ministros, ex-ministros e ex-deputados. Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Henrique Alves, Moreira Franco e Eliseu Padilha são alguns desses nomes.

A nova denúncia também envolve Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS. Ambos tiveram o benefício da delação anulados e prisão preventiva decretada.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o esquema de corrupção propiciou aos acusados, pelo menos, R$ 587,1 milhões em propina.

Janot e a Lava Jato
Rodrigo Janot fez uma ação ousada. Dessa vez, acusou Temer e Joesley juntos. Assim, busca fechar um flanco que pesou muito na primeira denúncia: o favorecimento aos criminosos da JBS, que tinham ganho, de forma escandalosa, imunidade penal com a delação.

O procurador-geral, que se despede do comando da PGR nesta sexta-feira (15), dá sequência, com a nova denúncia, aos agudos choques entre a Lava Jato e a cúpula do sistema político-partidário.

Janot acusa Temer de chefe de quadrilha e o PMDB de organização criminosa. Moro faz o mesmo com Lula e o PT. Por sua vez, os principais partidos e políticos do sistema, do PT ao PSDB, se unem contra a Lava Jato.

Neste cenário, o capital financeiro internacional e a maioria dos grandes empresários nacionais querem a continuidade de Temer, que está aplicando um selvagem programa de destruição de direitos e privatizações, além de brutais cortes nos gastos sociais, chamados de ajuste fiscal. Os grandes capitalistas estão em festa com a política econômica do governo.

Por outro lado, a maioria dos deputados federais, comprada com emendas parlamentares e cargos, mantém-se, até aqui, na base de sustentação de Temer. Desse modo, parece provável que a recente “flechada” de Janot seja abortada no Congresso. Contudo, não é possível descartar novas reviravoltas que mudem o cenário, uma vez que a instabilidade política é enorme.

Enquanto isso, o dia nacional de lutas foi fraco
Se a luta entre frações reacionárias da classe dominante – Lava Jato versus sistema político – segue quente, dominando o cenário político, o mesmo não ocorre com as mobilizações sociais.

O dia nacional de luta (14), convocado por entidades sindicais, foi bastante fraco, ficando aquém do necessário, infelizmente. Poucas fábricas e locais de trabalho paralisaram suas atividades, e os atos de rua foram, em geral, esvaziados. Em realidade, as principais centrais fizeram de conta, foi mais teatro do que luta real.

E os trabalhadores, com o desalento político, ataque redobrado das patronais e o corpo-mole dos sindicatos, não se mostraram dispostos a se arriscar.

É preciso refletir sobre essa dinâmica, para pensarmos os próximos passos da resistência popular e operária. Pois motivos para organizar e unificar as lutas não faltam.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil