Por: Lucas Fogaça, de São Leopoldo, RS
Estive na última terça-feira (5) na assembleia dos municipários de Porto Alegre no salão de atos da PUCRS. Eu que sou metalúrgico em São Leopoldo e nunca vi uma assembleia com mais de cem operários, foi emocionante ver mais de mil trabalhadores reunidos para lutar por seus direitos e enfrentar o governo municipal de Marchezan (PSDB). Neste mesmo dia, os trabalhadores da rede pública estadual de ensino também se reuniram e decidiram entrar em greve enfrentando o governo estadual de Sartori (PMDB).
Em ambos os casos a luta era contra os ataques ao plano de carreira e pelo pagamento integral do salário, fim do parcelamento. Em ambos os casos os trabalhadores e as lideranças ligadas ao PT/PCdoB bradaram contra a retirada de direitos e o parcelamento de salários, bem como fizeram os trabalhadores e as lideranças ligadas à esquerda radical. É assim que deve ser, união e solidariedade para lutar contra os inimigos da classe trabalhadora.
Ocorre que neste mesmo dia fiquei pensando sobre o que acontece aqui em São Leopoldo: o Prefeito Ary Vanazzi (PT) lamentavelmente também parcelou o salário dos servidores públicos municipais. E está sendo assim desde maio. E vejam, Vanazzi não é um amador. Foi fundador do PT, deputado várias vezes, e ex presidente estadual da sigla. E São Leopoldo por sua vez também não é uma cidade qualquer, mas uma das cidades com maior PIB do Estado, centro industrial da região do Vale dos Sinos.
Aqui em São Leopoldo, como o governo é do PT, exceto por um pequeno mas aguerrido grupo de trabalhadores autonomeado Coletivo Independente e do ainda pequeno PSOL municipal, os trabalhadores enfrentam o parcelamento sozinhos. A maioria dos movimentos sociais locais, que são ligados ao PT, não apoiam as lutas contra um governo do mesmo partido. E sozinhos, não podendo sequer contar com seus sindicatos as chances de vencerem é muito menor não é?! Sequer com palavras de solidariedade os servidores públicos de São Leopoldo podem contar dos parlamentares do PT/PCdoB e dirigentes sindicais da CUT/CTB que enchem a boca para criticar o parcelamento de Sartori (PMDB) e Marchezan (PSDB).
O parcelamento de salário é um absurdo em qualquer situação. Mas feito por um partido que se diz do trabalhador é gravíssimo. Isso porque
- abre brecha para que partidos de direita, ainda mais comprometidos com os ataques aos serviços e servidores públicos, posem de defensores dos servidores. Ao contrário do chavão levantado ao PSOL e à esquerda radical, quem faz o jogo da direita neste caso é o PT;
- divide a esquerda e os movimentos sociais. Impede a criação de uma frente única para mobilizar e organizar a classe trabalhadora contra os ataques;
- a seletividade das organizações políticas e dos movimentos sociais ligados ao PT (isto é, só apoia as lutas que não sejam contra o PT) educa a classe na passividade. O que é o pior de tudo, pois estimula a ideia de que basta votar e esperar que o governo fará tudo por nós;
- sem resistência os ataques vão passando, os direitos vão se acabando, e o nível de exploração vai aumentando.
Das duas uma: ou as lideranças do PT/PCdoB lutarão contra o parcelamento do Vanazzi (PT) no mínimo como lutam contra o parcelamento do Sartori (PMDB) e Marchezan (PSDB) ou são incoerentes, seletivos e cúmplices pela passividade com os ataques aos trabalhadores daqui. Em Esteio o último ato do prefeito Gilmar Rinaldi (PT) no final de dezembro passado foi aumentar o preço da passagem de ônibus. A militância petista silenciou. Quando o atual prefeito de Esteio Leonardo Pascoal (PP) aumentar a passagem, o que farão? Se lutam contra o aumento condenam seu passado quando silenciaram. Mas como dirigem os movimentos sociais locais, se não lutam são cúmplices do ataque. Veja a que sinuca de bico essa seletividade os leva.
Em momentos como o que vivemos que a “unidade da esquerda” virou um mantra, é preciso unidade da esquerda para lutar contra quem for que ataque a classe trabalhadora e os estudantes. Seria um primeiro passo importante que a assembleia do dia 29/09 dos municipários de Porto Alegre aprovasse por unanimidade o rechaço ao parcelamento de Vanazzi (PT) e o apoio aos servidores públicos de São Leopoldo. Também porque para derrotar o parcelamento dos salários e os demais ataques feitos pelos governos é preciso erguer um forte movimento da classe trabalhadora, a começar pela união dos trabalhadores que tem seus salários parcelados.
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