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BRASIL

Precisamos falar sobre Amazônia

Por: Mão (Ailton Costa), de Macapá, AP

Jeito Tucujú
(Joãozinho Gomes e Val Milhomem)
Quem nunca viu o amazonas
Nunca irá entender a vida de um povo
De alma e cor brasileiras
Suas conquistas ribeiras
Seu ritmo novo
Não contará nossa história
Por não saber e por não fazer jus
Não curtirá nossas festas tucujú
Quem avistar o amazonas nesse momento
E souber transbordar de tanto amor
Esse terá entendido o jeito de ser do povo daqui
Quem nunca viu o amazonas
Jamais irá compreender a crença de um povo
Sua ciência caseira
A reza das benzedeiras
O dom milagroso

No dia 23 de agosto, Temer decreta a extinção da Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados), desferindo um grande ataque à soberania nacional e ameaçando a maior floresta tropical do mundo, chamada por muitos de “pulmão do mundo”. Essa medida criou uma grande comoção no mundo todo. Sobretudo no Brasil, movimentos ambientalistas lançam notas, artistas se posicionam nas redes sociais e poucos dias após, o assunto toma conta dos debates nas rodas de conversa de todo país.

Entenda por que esse assunto tomou grande notoriedade
O Renca foi criado em 1984 e deveria proteger uma área de 46,000 km² que fica na divisa entre Sul e Sudoeste do Amapá com o Noroeste do Pará, uma área equivalente à Dinamarca, ou ao estado do Espírito Santo. Agora, com o decreto de Temer, é liberada para a exploração privada em cerca de 4 milhões de hectares. Para completar, mineradores canadenses já sabiam desse decreto bem antes de sua publicação, demonstrando como estão vendendo nossa soberania. Para se ter uma ideia do tamanho desse absurdo, a Renca engloba nove áreas protegidas: o parque nacional montanhas do Tumucumaque, que sozinho tem o tamanho da Holanda; as florestas estaduais do Paru e do Amapá; reserva biológica de Maicuru; estação ecológica do Jari; reserva extrativista do Rio Cajari; reserva de desenvolvimento sustentável do rio Iratapuru e as terras indígenas Wayãpi e rio Paru D`Este.

renca

A pressão exercida pelo movimento está forçando o governo a fazer manobras no sentido de implementar o seu projeto de destruição da Amazônia, como a mudança na redação do decreto que na verdade não muda em nada a sua essência. Já no dia 30 de agosto, a Justiça Federal suspendeu o decreto, dando mais um fôlego para a luta, porém essa deve continuar, já que o governo deve recorrer.

Esse grande ataque à Amazônia despertou a revolta dos povos da floresta. No entanto, o avanço do capital na Amazônia é um processo nada novo. Os projetos de mineração na Amazônia já vêm em pleno andamento há anos. Podemos citar um aqui no estado do Amapá, o ICOME, que teve concessão de exploração do manganês por 50 anos e que deixou um lastro de destruição, com um passivo irreparável na região, montanhas de rejeito de manganês (arsênio), material altamente cancerígeno para a população e muitas pessoas mutiladas.

Podemos falar também das hidrelétricas construídas na região do Amapá. Só no rio Araguari existem três novas em andamento. Essas construções já acabaram com a cachoeira de Santo Antonio no Jari e até com a famosa pororoca, fenômeno que atrai as atenções do mundo inteiro pela sua grandeza e que movimentava o turismo na região. A famigerada hidrelétrica de Belo Monte, que alagara 18,000 km², uma área 12 vezes maior do que a cidade de São Paulo, expulsa milhares de famílias da região do Xingu. Tudo isso aconteceu no governo do PT.

Outra ameaça na Amazônia é o avanço do agronegócio, principalmente da indústria da soja, que só no Amapá já ocupa 19 mil hectares na capital Macapá e nos municípios de Itaubal, Porto Grande e Tartarugalzinho. Esse avanço tem criado muitos conflitos de terra e tem como conseqüência a expulsão de centenas de pequenos agricultores.

Por isso, chamamos a atenção sobre o fato de que esse debate sobre a defesa da Amazônia nunca foi pauta prioritária para os movimentos sociais, sobretudo para a esquerda, e isto agora vem cobrar seu preço. Precisamos colocar a Amazônia em pauta, esse debate está atrasado, porém ainda há tempo de reverter este fato.

Mesmo que consigamos derrotar o decreto de Temer, outros projetos estão em pleno vapor. Vamos mobilizar o povo da floresta junto com os movimentos sociais para defender a floresta e os povos tradicionais. Precisamos construir o dia 14 de setembro como um importante passo para a greve geral, além da luta contra as reformas do governo e também colocar na pauta a defesa da Amazônia.

Foto: EBC

Marcado como:
amazônia / renca / temer