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BRASIL

Fortalecer um mandato na Câmara Municipal de Salvador a serviço das lutas

Por: Josias Porto, de Salvador, BA

A esquerda precisa refletir sobre como vem ocupando a política institucional. Precisamos debater a forma como vem atuando, seja no Congresso Nacional, numa Assembleia Legislativa Estadual, numa Câmara de Vereadores. É preciso repensar desde a intervenção no processo eleitoral, à atuação dos mandatos da esquerda socialista.

O discurso da governabilidade, das alianças pragmáticas para se conseguir ter força num campo que é extremamente desfavorável para nós, porque foi construído para favorecer os interesses das elites, foi um caminho trilhado por parte da esquerda e que hoje merece uma reflexão profunda sobre sua real viabilidade e suas conseqüências.

No último sábado (26), participei representando o MAIS (corrente recém ingressa no PSOL), da reunião do Conselho Político do Mandato do Vereador de Salvador Hilton Coelho (do mesmo partido). Um espaço com representações de diversos movimentos sociais combativos da cidade, movimento sindical, intelectuais de esquerda, filiados ou não ao PSOL.

A reunião iniciou com uma análise mais profunda da conjuntura do país, realizada pela professora de Sociologia e intelectual de esquerda Graça Druck (UFBA) e uma exposição dos eixos políticos que o mandato tem trabalhado até aqui, apresentada pelo próprio vereador. No debate, os diversos participantes articularam em suas intervenções elementos da conjuntura com a realidade de nossa cidade: as demandas, as lutas e as atualizações necessárias aos eixos norteadores da atuação do vereador.

Nesse espaço, assim como numa plenária mais ampla realizada no último dia 4 desse mês, em que foi eleito esse mesmo conselho, foi impactante para todos que apoiam e de certa forma acompanham a atividade de Hilton, perceber a dimensão do alcance desse mandato com as mais diversas lutas da cidade: desde a mobilidade urbana, a luta por moradia, direitos humanos, da criança e do adolescente, a luta dos educadores contra projetos antidemocráticos do atual prefeito e diversas outras.

A plenária do dia 4 também refletiu um tema central para o país e ainda mais para a nossa cidade, que é o tema racial, fazendo ecoar o grito que tentam abafar nas periferias da nossa cidade: “Parem de nos matar”. Protagonizaram a mesa da atividade várias lideranças femininas e negras, como Vilma Reis, liderança da luta racial e ouvidora da Defensoria Pública do estado; Rosimeire Batista, do Quilombo Rio dos Macacos, que a Marinha tenta a todo custo esmagar para se apropriar do seu histórico território; Rute Fiuza, mãe de Davi Fiúza, garoto negro que a Polícia Militar “seqüestrou” em 2014, quando tinha 16 anos, e até hoje não se sabe onde está e hoje essa lutadora representa na Bahia a Rede Nacional das Mães de Maio; Aloísia Nascimento (Loló) do Movimento Sem Teto da Bahia; Dandara Cruz, da Juventude Negra e Convergência Negra; Denise Souza, Coletivo de Coordenadoras Pedagógicas; Lígia Margarida, Sociedade Protetora dos Desvalidos; Naiara Gomes, Marcha do Empoderamento Crespo; Míriam Oliveira, Movimento Viver em Luta.

Esteve também na mesa representando o movimento sindical, o tema LGBT e ainda o movimento de Auditoria da Dívida Pública com a companheira Denise Andrade. E interviram na atividade uma série de outras lideranças e representações de diversas entidades, organizações, instituições, como o reitor da UFBA, João Carlos Sales.

É inegável que hoje as e os lutadores da cidade, trabalhadoras, mulheres, negros e negras, lgbts contam, na Câmara Municipal, com um parlamentar comprometido com suas lutas. Hilton está quase sozinho e às vezes completamente sozinho nas batalhas que trava naquela casa reacionária. Contudo, ao invés de se afundar num pântano de acordos vendidos com os figurões asquerosos da política de Salvador para tentar “a política do possível”, optou por adotar um caminho diferente, de legislar se apoiando e impulsionando a luta popular, nas ruas. Por mais difícil que seja, certamente alcançou muito mais conquistas apostando nessa via.

Nós do MAIS, como expressei na mesma reunião, queremos colocar nossas pequenas forças a favor das campanhas políticas e lutas abraçadas e impulsionadas por esse mandato. Numa conjuntura como essa em que vivemos, a necessidade de resgatar nos trabalhadores e oprimidos a confiança em si mesmos para mudar nas ruas o nosso futuro é fundamental. Acreditamos que o mandato de Hilton é uma ponta de apoio para fortalecermos essa consciência e essas lutas.

Foto: Plenária do Mandato, em 04/08/17 | Marcos Musse.