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EDITORIAL

Lula e os coronéis

Editorial de 29 de agosto,

A caravana de Lula pelo nordeste vem revelando, além do apelo popular do ex-presidente na região, a estratégia do PT para as eleições presidenciais de 2018.

Em suas passagens pelas cidades nordestinas, o petista perfila um discurso de contundente oposição ao governo Temer, de críticas às contra-reformas e defesa de medidas em benefício dos mais pobres. O ex-metalúrgico faz questão de relembrar, em todas falas, os anos de crescimento econômico e as políticas sociais do PT.

Ao produzir imagens de contraste, quando compara a época de seus governos com o atual cenário desolador, provoca sentimentos de esperança. A mensagem transmitida é simples: com Lula presidente o Brasil voltará a crescer com justiça social.

Mas há outro objetivo com a caravana: costurar alianças com as velhas oligarquias.

Lula desfilou ao lado de Renan Calheiros em Alagoas. Estendeu as mãos à candidatura da ruralista Kátia Abreu ao governo do Tocantins. E não perdeu a oportunidade para elogiar Sarney, do Maranhão. Em Sergipe, dividiu o palanque com o governador do PMDB, Jackson Barreto. E, em Pernambuco, buscou aproximação com a família Campos, do PSB.

A intenção do petista é compor uma aliança com setores das elites nordestinas, tendo em vista as próximas eleições. Lula oferece às velhas raposas o prestígio junto ao povo e recebe, em troca, a máquina eleitoral dos coronéis.

O “x” da questão

Perante o mal estar gerado na esquerda, o ex-presidente não fugiu da polêmica e justificou a formação de alianças com setores da direita e lideranças golpistas em nome da conhecida “governabilidade”.

Em entrevista coletiva, Lula afirmou: “Quando um partido como o PT procura fazer alianças políticas, só procura fazer essas alianças porque tem clareza de que, sozinho, não ganha as eleições, e, se ganhar, não tem como governar se não tiver maioria no Congresso Nacional”.

O petista tem, em certo sentido, razão. No atual regime político, sem maioria parlamentar não se governa. É necessário se aliar a partidos de direita, uma vez que a esquerda não  faz maioria em eleições controladas pela força do dinheiro.

E como o próprio ex-presidente diz, é preciso costurar também alianças com grandes empresários, para conformação de um pacto social para governar o Brasil.

Assim, chegamos a um círculo vicioso. Os ricos ficam cada vez mais ricos explorando e oprimindo os trabalhadores, retirando direitos sociais e se apropriando do patrimônio público, além de contaminar o estado com o vírus da corrupção. Porém, para vencer as eleições, é preciso se aliar a eles. Mas se aliando a setores da direita, como mudar de verdade o Brasil?

Não é por acaso que Lula, até agora, não assumiu o compromisso de revogar as contra-reformas e as privatizações de Temer. Não pode fazê-lo sem romper com a estratégia de conciliação de classes que tanto persegue. Não o fará, pois não quer assustar o “andar de cima” e, desse modo, inviabilizar acordos com a direita.

Sem ruptura, não há esperança 

Lula e o PT não aprenderam nada com o golpe parlamentar, e nem mesmo com a real possibilidade de prisão ou perda de direitos políticos do ex-presidente. Querem repetir o mesmo caminho de conciliação que levou ao desastre que estamos vendo agora.

Não é possível mudar de verdade o Brasil sem enfrentar a dominação burguesa e imperialista que prende o país ao atraso, à pobreza e à brutal desigualdade social. As mudanças estruturais não virão de cima, por meio de  alianças com banqueiros, latifundiários, corruptos e partidos da direita. Não virão por meio desse Congresso dominado por empresários, bandidos e reacionários. Não virão de eleições controladas pelo poder econômico. Enfim, não virão por dentro deste regime apodrecido.

A mudança real só poderá surgir das ruas, da organização e união dos explorados e dos oprimidos. Mas para isso é preciso uma esquerda com uma estratégia anticapitalista, isto é, uma esquerda que assuma o desafio do enfrentamento com os ricos e poderosos. Uma esquerda socialista que reencante os trabalhadores com um programa de transformação democrática, social e econômica. Um programa que desperte esperança, um programa de ruptura. Para tanto, é necessário dar o primeiro passo nesse sentido: superar o projeto de colaboração de classes do lulismo.