Por: Rafael Souza e Eduardo Ramos, de Camaçari-Bahia
Foi o dia 27 de agosto. Para muitos é só mais um dia comum. Para nós, não! O 27 de agosto de 2017 marca os dois anos de um dos casos recentes mais graves de retaliação ao movimento estudantil na Bahia. Em 2015, 19 estudantes do Instituto Federal da Bahia (IFBA) fora vítimas de uma ação arbitrária do Reitor, Renato Anunciação, resultado de uma perseguição política contra estudantes que se dispuseram a denunciar ações autoritárias dentro da escola e a lutar por uma sociedade mais justa e por uma escola mais democrática.
Um saldo de 14 estudantes suspensos e 5 expulsos. As punições se deram por meio de um processo administrativo, após uma ocupação na escola, quando mais de 50 alunos exigiam da direção a reabertura da sala do grêmio estudantil. Essa foi a brecha que a gestão encontrou para perseguir e punir os estudantes que já vinham fazendo oposição ao autoritarismo da gestão por meio do grêmio. É possível traçar o perfil de cada punido, o delineamento dessa injustiça é simples e semelhante ao de outros períodos sombrios, conta com estudantes participativos, inocentes úteis, representantes de minorias, enfim, um misto pensado de forma estratégica para minar o movimento estudantil do Campus e ameaçar os demais.
A criminalização do movimento estudantil, infelizmente, é uma realidade na nossa vida. Enquanto parte da sociedade enxerga vândalos sem causa, os estudantes estão nas escolas e nas ruas lutando por uma educação de qualidade e por mais direitos. Ou contra a retirada desses.
A luta dos estudantes brasileiros caminha junto com as demandas postas pela conjuntura política nacional em seus diferentes momentos históricos. O surgimento da União Nacional dos Estudantes (UNE) na década de 30 e a campanha “O Petróleo é nosso” são momentos que merecem destaque. Assim como o período da ditadura civil-militar (1964-1985), quando o movimento estudantil cumpriu um papel extremamente importante na luta e no enfrentamento ao regime, mesmo tendo que atuar na ilegalidade e sendo alvo de uma perseguição incessante.
A luta travada por grande parte do Movimento Estudantil atualmente, ao pautar a democratização dos espaços de ensino, é o alvo das ações repressivas dos governos e das gestões escolares. Não podemos aceitar que o movimento estudantil seja criminalizado simplesmente por pautar um modelo de educação melhor e com mais dialogo. O movimento estudantil deve se pautar na luta contra as ações autoritárias, na defesa dos interesses dos estudantes e em prol de uma educação mais democrática. Temos como grande exemplo as ocupações na primavera secundarista de 2015 e 2016, que começou em São Paulo. E, sem falta modéstia, a ocupação que gerou o caso dos 20 de Camaçari foi a vanguarda das ocupações secundaristas em 2015.
Não esqueceremos dos 20 de Camaçari, e seguiremos na luta contra a criminalização da luta dos estudantes e contra as gestões e governos autoritários. Há dois anos, cerca de 40 movimentos sociais e coletivos políticos se juntaram aos estudantes na luta contra as expulsões e suspensões. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todo o apoio recebido. Sem o auxílio daqueles que lutam, não seria possível reverter as punições, e muito menos possibilitar a permanência de alguns alunos dentro do IFBA até o dia de hoje.
Os 20 de Camaçari resistiram e ainda hoje resistem aos resquícios da perseguição política sofrida na escola. Mas isso serve, para nós, como motivação para seguir na luta por uma educação pública, gratuita, de qualidade e democrática. Lutar não é crime, é direito!
A luta não continua. A luta é contínua! Pela memória dos 20 de Camaçari! #NãoEsqueceremos
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