Por: Henrique Maynart, Jornalista e militante do MAIS
“Passa o tempo e tanta gente a trabalhar. De repente essa clareza pra votar. Basta ser sincero e confiar sem medo de ser feliz. Quero ver chegar.” A primeira estrofe do jingle “Lula lá!”, que animou a primeira candidatura de Lula à presidência em 1989, pode ser parcialmente aplicada no tempo presente. Passa o tempo e o povo segue trabalhandoa cada dia em condições mais questionáveis, mesmo em meio a um desemprego na faixa dos 13 milhões no país e em 160 mil em Sergipe, mas diferente de 1989 não há mais tanta clareza pra votar e não basta ser sincero ou confiar. Mas muita gente ainda quis ver o Lula chegar, e viu. Entre os dias 20 e 22 de agosto a caravana Lula pelo Brasil cortou o estado de Sergipe com uma série de atividades políticas, culturais e homenagens como a entrega do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Este é um breve relato sobre as ações da caravana, os limites e possibilidades da experiência com o lulismo e as tarefas da oposição de esquerda neste cenário. Este relato foi construído a partir do acompanhamento das transmissões ao vivo das atividades em redes sociais, repercussões na mídia e comentários de participantes diretos das atividades. Portanto qualquer imprecisão contida neste relato pode e deve ser apontada, debatida e corrigida.
Antes de tudo: Difamação de militantes da oposição de esquerda na véspera
Ocorreu um fato lamentável no dia 18 de agosto, sexta-feira. O portal Sergipe 247 publicou uma “notícia” acusando o companheiro Alexis Pedrão, militante do Psol e da NOS, de conspirar um atentado contra a caravana do ex-presidente Lula em sua estada na cidade da Lagarto, ao divulgar conversas falsas do camarada com outro amigo nas redes sociais. Ligado ao Portal Brasil 247, que por sua vez possui relações intestinas com setores do ex-governo Dilma Roussef, o Sergipe 247 não conta sequer com uma equipe local atualmente, tendo seu conteúdo gerenciado pela redação fora do Estado. Os veículos oficiais do PT Sergipe e as contas de suas figuras públicas não repercutiram o caso, com exceção de um jornalista que fora secretário de turismo da cidade de Canindé e que deu ampla repercussão à matéria. Um Boletim de Ocorrência foi feito ainda na sexta. A quem serve a difamação de militantes da oposição de esquerda a Lula? A quem serve a tentativa de desmoralização de setores que se posicionaram contra o golpe parlamentar e a condenação mais que absurda do ex-presidente pelo juiz Sérgio Moro?
Na manhã de domingo o vice-presidente do PT de Estância, Zé Carlos do PT, cometeu a gafe de chamar o Lula de “futuro presidiário” ao invés de “futuro presidente”, ao anunciar a aprovação do título de cidadão estanciano ao ex-presidente da Câmara de Vereadores. Não é preciso destacar que parte da mídia local deitou e rolou em cima desta afirmação.
Almoço em acampamento do MST
A caravana Lula pelo Brasil teve início no dia 17 de agosto e pretende percorrer todo o Nordeste em vinte e dois dias, entre comícios, visitas e homenagens em universidades e casas legislativas. A comitiva deu o ar da graça em Sergipe na sexta-feira e o primeiro pit stop foi no acampamento Valdir Macedo, na divisa de Sergipe com a Bahia. O acampamento conta com 50 famílias da região que resistem a quatro anos e meio sobre barracos de lona. O deputado federal João Daniel (PT-SE) publicou nas redes sociais no dia 19, um dia antes da chegada do ex-presidente, que só seria garantida a comida do ônibus da caravana em virtude das limitações estruturais do acampamento, e que o objetivo da primeira atividade seria dar “uma cara popular” à comitiva.
A escolha das cidades para a caravana
É possível observar que a escolha dos municípios visitados atendeu a dois critérios: o peso econômico e eleitoral da cidade e a possibilidade de capitalização para ações de seu governo, sobretudo a construção e/ou ampliação dos campi da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Instituto Federal de Sergipe (IFS). Assim, o ex-presidente Lula passou pelas cidades de Estância e Lagarto (Centro-Sul), Itabaiana (Agreste) Nossa Senhora da Glória (Sertão) e encerrando a comitiva estadual na capital Aracaju em atividade da Frente Brasil Popular no Iate Clube.
Todas as cidades visitadas apresentaram uma votação acima de 60% para a presidenta Dilma Roussef no segundo turno das eleições em 2014; todas elas possuem mais de 50 mil habitantes com exceção de Nossa Senhora da Glória, a “capital do Sertão”; e, com exceção de Estância, todas receberam um Campus da UFS através de obras do Programa de Expansão de Universidades Federais, o REUNI, aprovado no ano de 2007.
Estranho que a caravana não contemplou, ao menos na agenda oficial, nenhuma cidade da região do Baixo São Francisco Sergipano, território que abriga os números mais baixos relativos ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, que sofre constantemente com a situação da bacia do Rio São Francisco e que sofrerá ainda mais com os impactos da conclusão das obras de transposição do Velho Chico. A região não conta com nenhuma cidade com mais de 30 mil habitantes, o cenário de população difusa também conta neste cálculo.
O ex-presidente Lula afirmou na imprensa que o objetivo da caravana seria revisitar o país “para ver o que teve de bom e o que teve de ruim nos últimos anos”. Ora, se o presidente quer conhecer de perto o que “está bom ou o que está ruim”, porque ele então não escolheu visitar a região mais pobre do Estado e que, pela amplitude dos programas sociais de transferência de renda e pela votação massiva das candidaturas presidenciais do PT nestes territórios, seria mais do que bem recebido? Por que não escolher visitar cidades como Neópolis, Propriá ou Brejo Grande, que sofrem a cada dia com a diminuição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), com a salinização da água da foz, dentre outros aspectos? Está claro que o objetivo da caravana é capitalizar “o que está bom” para sua figura pública e deixar “o que está ruim” pra outro dia.
O palanque, os discursos e os incômodos
O primeiro comício da caravana ocorreu na cidade de Estância, cidade de pouco mais de 60 mil habitantes, na região Centro-Sul do Estado. A multidão compareceu à atividade em peso, não houve divulgação do número de participantes pela Polícia Militar mas basta acompanhar os vídeos na página do ex-presidente pra constatar a presença de milhares de pessoas presentes. Destaque para o coordenador da caravana e vice-presidente nacional do PT, o ex-deputado Márcio Macedo, que abriu todos os comícios da caravana, da vice-prefeita e secretária de assistência social de Aracaju, Eliane Aquino e do ex-deputado Rogério Carvalho. O governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB) foi vaiado pela multidão, mesmo pedindo uma salva de palmas para o ex-presidente. Jackson foi acolhido de imediato por Lula ressaltando sua condição de aliado pela democracia e contra o golpe. “Jackson foi o único governador que não é do PT a prestar solidariedade a Dilma Roussef no dia da votação na Câmara dos Deputados, não tenham dúvida de que ele está do nosso lado”, contemporizou o ex-presidente sem maiores resultados.
Dias antes o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT-SE) e cidadão estanciano Rubens Marques, conhecido como professor Dudu, afirmou que não estaria no mesmo palanque que o governador Jackson Barreto. A direção executiva do sindicato dos professores da rede estadual (Sintese), o principal sindicato do serviço público estadual de Sergipe, emitiu nota afirmando a mesma postura. De acordo com a nota emitida no dia 21 de agosto, os militantes do Sintese não estariam “presentes, assim como em nota pública emitida pela CUT, em espaços nos quais o governador Jackson Barreto estiver. O nosso apoio fisicamente a Lula dar-se-á no espaço em que ele vai dialogar com a Frente Brasil Popular, no dia 22 de Agosto, onde nos representará a presidência do SINTESE.” Tanto a CUT-SE quanto o Sintese são dirigidos pela tendência interna do PT, Articulação de Esquerda, que tem travado embates públicos com o governador e declarado oposição a seu governo.
O governador Jackson Barreto foi o responsável por acabar com a Lei do Piso do Magistério, vem congelando e parcelando salários do serviço público, vem cogitando um plano de privatização da Deso, empresa de abastecimento de água no Estado e extinguiu e fundiu secretarias estratégicas, como Direitos Humanos e de Política para Mulheres. Enfim, o governador Jackson Barreto tem aplicado todas as medidas de contenção e ajuste que os governos de Frente Popular vêm aplicando desde o estouro da crise em 2013, tanto nos Estados quanto no próprio governo federal. Acontece que não se aplica ajuste e se retira direitos sem desgaste com parte da base social destes governos, em Sergipe o serviço público em geral e o magistério em particular está bem desgastado. Mas por quê Jackson foi vaiado e Lula não? Não fazem parte do mesmo bloco? Não são aliados históricos? Diferente do que afirmam os militantes da Articulação de Esquerda, nós entendemos que Lula e Jackson não representam projetos diferentes, da mesma forma que Lula e Deda não representavam. É o projeto de conciliação de classes que sequer consegue aplicar uma reforma estrutural, que não faz reforma agrária, que não diminui a jornada de trabalho, que não reverte privatizações. Enfim, o reformismo sem reformas do bloco liderado pelo PT. É verdade que o fato do governador ser do PMDB, partido do presidente Michel Temer, de ter dado declarações vacilantes poucos meses após o golpe como “ deixe o presidente trabalhar” e não mostrar uma posição mais firme frente ao impeachment contribui para sua rejeição, mas não a explica em sua totalidade como argumenta uma parte da militância petista.
Lula é ovacionado porque: 1- É uma liderança popular com muito mais carisma e chão que Jackson Barreto, e 2- Porque a experiência da classe trabalhadora com o Lulismo não está acabada, porque a lembrança dos governos Lula ainda estão calcadas sobre um período em que era possível estabelecer políticas compensatórias, uma política de valorização salarial razoável e ao mesmo tempo atender aos interesses do capital financeiro, do latifúndio e da construção civil. Não à toa Lula deixa o governo com 87% de ótimo e bom de avaliação no Ibope. Dilma, Deda e Jackson não tiveram a mesma sorte. A classe trabalhadora não rompeu com Lula como rompeu momentaneamente com o governo Dilma. Jackson foi vaiado da mesma forma que Deda o seria, da mesma forma que qualquer outro governante da frente popular o seria. É importante romper com Jackson? É fundamental, nós defendemos e saudamos esse movimento, mas para romper com o governo Jackson em sua radicalidade é necessário romper com a estratégia de Lula e do PT que alçaram e construíram o saldo do governo Jackson Barreto, e este passo a Articulação de Esquerda ainda não está disposta a dar, infelizmente.
Em Estância, o ex-presidente lembrou do ex-governador Marcelo Deda, falecido em 2012, e do ex-senador e ex-presidente da Petrobrás José Eduardo Dutra, falecido em 2015, e finalmente falou de dona Marisa Letícia, falecida no mês de fevereiro, abrindo sua intervenção com um grande envolvimento emocional. Marcelo Deda teve seu primeiro mandato de deputado federal na chapa com Jackson Barreto em 1994, assim como o primeiro mandato de José Eduardo Dutra para senador. Lembrando ainda que Jackson era vice de Deda.
O Lula tem uma capacidade extraordinária de dialogar com setores populares utilizando elementos básicos de sua reprodução material. A casa de 33 metros quadrados onde morava com Marisa, a sogra e mais quatro pessoas em São Paulo ilustram a importância do Minha Casa Minha Vida e ações de saneamento. Rememora o fato de ser o único presidente da história sem curso superior que criou 17 novas universidades, oito delas no Nordeste, além dos 28 títulos de Doutor Honoris Causa que já recebera pelo Brasil e pelo mundo. Nenhuma menção à luta organizada para a conquista de direitos, mesmo referenciando sempre as entidades sindicais e populares presentes. Faz referências à disputa política se utilizando a disputa do futebol local, fazendo questão de citar Itabaiana, Sergipe e Confiança. Sua fórmula é uma só: Reaquecer o mercado interno através da ampliação do crédito e fortalecimento das políticas de transferência de renda, através de uma retórica voltada na valorização da autoestima do povo brasileiro. Como já era previsto, nenhuma menção às reformas estruturais, nenhuma menção à reforma trabalhista ou aos retrocessos do governo Temer, como a PEC 55. Uma rápida citação contra a reforma da previdência e ponto final, uma crítica ao presidente “que não foi eleito e que não sabe governar”, jogando a argumentação no campo da competência técnica. Sempre lembrando que ele não estava ali como candidato a nada, só queria “dialogar com as pessoas sobre a vida delas”, pra consolidar o bom e velho drible da vaca na Justiça Eleitoral e se esquivar de qualquer processo por propaganda eleitoral antecipada. Em entrevista ao radialista George Magalhães na Fan FM, o presidente Lula declarou que a movimentação do Temer para o arquivamento de sua denúncia era “legítimo, assim como foi legítima a movimentação do Palácio do Planalto para tentar salvar Dilma Roussef do impeachment”. Ou seja, não importa a liberação de 4 bilhões em emendas parlamentares para comprar votos e salvar o seu mandato, não importa que uma série de cortes bilionários na educação tenham sido efetuados e a UFS corra o risco de fechar as portas em setembro ou outubro por falta de verba.
Doutor Honoris Causa
A cerimônia de entrega do título aconteceu na cidade de Lagarto às 10 horas de segunda-feira e foi relativamente disputada, com cerca de uma hora e quarenta minutos de duração. Um número relativo de pessoas compareceu ao evento no Campus de Lagarto, mas nada comparado à multidão de Estancia. Uma pesquisa realizada pelo Instituto DataForm apontou que 48% dos entrevistados sergipanos estava contrário à homenagem contra 47%.
A repercussão da caravana divide opiniões, mas parece manter intactas as intenções de voto: Na mesma pesquisa 43% acreditam na vitória de Lula em 2018, 25% votariam no Bolsonaro e 16% votariam no João Dória. A pesquisa vai além e mostra que 53% dos mesmos entrevistados acreditam que o Lula é culpado das acusações levantadas pelo juiz Sérgio Moro. Mesmo considerado culpado e mesmo não concordando com a entrega do título, as lembranças do governo Lula ainda são pulsantes na grande maioria do povo sergipano.
Um fato curioso foi o prefeito de Lagarto Valmir Monteiro, do PSC, convidando as pessoas para a cerimônia de entrega do Lula em sua conta nas redes sociais. Valmir Monteiro é aliado de André Moura, líder do governo Temer no congresso e opositor no Estado.
O Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos em Educação da UFS (Sintufs) publicou posicionamento contrário à entrega do título ao ex-presidente na última segunda-feira, 21 de agosto. A direção do Sintufs argumenta que “houve expansão do ensino superior, mas num investimento muito menor do que o permitido à iniciativa privada. A pauta histórica dos 10% do PIB para Educação, nunca foi atendida. A reestruturação da nossa carreira e os reajustes salariais que tivemos foram conquistados na base de muita luta e de grandes Greves da categoria. A redução da nossa jornada de trabalho para 30 horas permaneceu facultativa à administração das Universidades. Os recursos financeiros e humanos para as Universidades Públicas foram numa proporção muito menor do que o número exigido de ampliação das vagas e cursos para sua expansão através do REUNI, do Ensino a Distância e da política de cotas.”
Avalio como correta a posição do Sintufs, mas me parece que o centro da questão não é se Lula deve ou não receber o título, e sim se as universidades públicas devem ter ou não a autonomia para entregar o título de Doutor Honoris Causa a quem julgar pertinente e correto por seus conselhos deliberativos, no caso o Conselho Superior da UFS (Consu). Este é o imbróglio envolvendo a entrega do título pela Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB) em Cruz das Almas, que foi barrada judicialmente através ações movidas por vereadores locais ligados à velha direita, e pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), em Arapiraca. O posicionamento do Sintufs me parece um bom voto para o Consu, mas a atual gestão não teve a oportunidade de apresenta-lo, já que o título foi votado em 2013 e os representantes da gestão anterior votaram favorável à entrega.
A discussão da autonomia universitária nos remete à aprovação do REUNI a dez anos atrás, em outubro de 2007, quando o governo Lula e o ministro da educação Fernando Haddad orientaram acelerar o processo de adesão ao programa mesmo sem cumprir corretamente os ritos regimentais dos conselhos universitários, causando uma onda de ocupações de reitorias país afora. No caso da Universidade Federal de Sergipe, a confusão foi gerada porque os ritos do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFS (Conepe) sequer foram respeitados, os pedidos de vistas dos representantes discentes foram ignorados e, após uma tentativa de obstrução por parte do movimento estudantil, o programa fora aprovado no prédio da Fapese. Hoje o ex-presidente recebe o saldo político de uma expansão que teve sim sua importância, mas que trouxe consigo uma série de percalços por qualquer ausência de previsão de verba e democracia nas instâncias em que fora aprovada e encaminhada. Recordar é viver e defender a autonomia universitária deve respeitar o tempo e a história.
Itabaiana
O comício do Lula coalhou a Associação Atlética de Itabaiana de gente em pleno meio dia. Acompanhado do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, Luciano Bispo (PMDB) do governador Jackson Barreto e de lideranças petistas, a palavra não fora ofertada a nenhum político ou gestor que não fosse o próprio ex-presidente, a fim de evitar o constrangimento ocorrido em Estancia com o governador. Uma série de homenagens foram entregues, a presença dos petistas históricos fundadores da sigla na cidade, além de estudantes da UFS. A Universidade é o ponto central das intervenções, o Campus foi inaugurado na cidade em 2006.
Paradas na estrada
E no caminho em direção à Itabaiana a multidão interceptou o ônibus da caravana na estrada dos municípios de São Domingos e Campo do Brito, aos gritos de “desce, desce!”. O ex-presidente teve que descer e interagir com o povo no meio da BR.
A Capital do Sertão
Me arrisco a dizer que o comício de Nossa Senhora da Glória foi o mais disputado de toda a caravana. O município que responde por 52% da produção leiteira do Estado contou com uma multidão considerável para ouvir o ex-presidente. A PM não divulgou o número oficial de participantes mais uma vez. No palanque constavam o ex-prefeito de Poço Redondo e direção do MST, Roberto Araújo, o ex-prefeito de Canindé Heleno Silva (PRB), o deputado João Daniel (PT), o coordenador da caravana Marcio Macedo, que demonstrou uma força considerável em toda a caravana, o ex-deputado e nome do PT em 2018 na chapa majoritária, Rogério Carvalho, o prefeito de Glória Chico do Correio (PT) e mais uma vez o governador Jackson Barreto. Claramente incomodado com a recepção negativa que teve da multidão, o governador partiu para o ataque frontal com o Sintese. “Vocês sepultaram o governador Marcelo Deda vivo, vocês me atacam como atacaram Marcelo Deda. Vocês podem não gostar de mim , mas o povo de Sergipe sabe o que eu fiz por ele. O Sintese enterrou Marcelo Deda vivo”. O governador ataca uma entidade sindical na frente de toda a cúpula do PT e do próprio Lula, de movimentos sociais do campo e sindicatos locais – cerca de 12 sindicatos – e não acontece absolutamente nada, nenhuma negativa, nenhum sinal de reprovação ou retratação. Definitivamente, a direção do Sintese está em uma situação bastante constrangedora. O governador fez menção ao enterro do Governo Deda após a decretação da ilegalidade da paralisação do magistério pela Justiça em junho de 2012, a pedido do Poder Executivo. Lembro perfeitamente porque estive presente tanto na assembleia quanto no ato. Foi encomendada missa de corpo presente, cordel e foi colocado um caixão em frente ao Palácio Museu Olímpio Campos. As relações entre o Sintese e Marcelo Deda eram tão ruins, ou pior, quanto as com o governador Jackson Barreto. Quem acompanha o movimento sindical sergipano há de lembrar.
O ex-presidente recebe uma série de homenagens e presentes dos movimentos sociais, recebe a medalha do mérito legislativo da Câmara de Vereadores de Glória, presentes do MPA, recebe no palco o vaqueiro mais antigo da região, seu José Pinho, com seus 92 anos de idade. Eram tantas homenagens que o locutor precisou interromper a lista de entidades e o Toré dos índios Xocós, da Ilha de Porto da Folha , não fora apresentado, deixando para apresentação no comício de Aracaju. Aos 71 anos de idade o Lula inicia sua fala já rouco, às vinte horas e trinta minutos. O ex-presidente criticou a proposta de venda da Eletrobrás anunciada na segunda-feira, criticando mais uma vez o presidente Temer “que só quer saber de vender o Brasil”. “ Lula, tudo que eu tenho é por causa do senhor”. A acolhida ao ex-presidente é algo realmente comovente. “Lula, minha filha fez faculdade por causa do Prouni”, “presidente, o Bolsa Família mudou a nossa vida”, essas frases eram ouvidas centenas de vezes entre as entradas e saídas pela transmissão das atividades. Os comícios também exploraram muito estas falas. Em Itabaiana uma estudante de Jornalismo da UFS entregou a placa da caravana ao ex-presidente, em Glória o vaqueiro não escondia a emoção no palco, mal conseguia falar. Quem se propõe a construir um projeto de emancipação do povo brasileiro não pode virar as costas para o componente subjetivo de sua figura pública com os setores mais fragilizados da classe trabalhadora.
Encontro com a Frente Brasil Popular
A atividade pública teve início ao meio dia e foi antecedida por uma reunião com membros da Frente Brasil Popular. Não há maiores relatos desta reunião ocorrida a portas fechadas, apenas imagens de registro. A atividade contou com uma quantidade suntuosa de pessoas e transformou o salão do Iate Clube de Aracaju numa sala de reboco. Como prometido, o presidente da CUT-SE e a presidente do Sintese compareceram à atividade mas não utilizaram o microfone, ao menos nas transmissões. O governador não estava presente, também não foi possível enxergar a presença de demais parlamentares, inclusive os do PT, no vídeo. Nenhuma menção ao reajuste da tarifa do transporte público anunciado na semana passada pelo prefeito Edvaldo Nogueira (PC do B), aumentando o transporte da capital para R$3.50, nenhuma menção à privatização da Deso, aos congelamentos e parcelamentos salariais do serviço público. As falas foram abertas pela vice-prefeita de Aracaju Eliane Aquino. A mesma Frente Brasil Popular que em 2016 ensaiou um plebiscito para vetar o reajuste da passagem em 2016, com João Alves (DEM) a frente da prefeitura, excluindo outros movimentos de luta por transporte, como o Movimento Não Pago, agora deixam de tocar no assunto do reajuste e ainda delegam à vice-prefeita da gestão que aplicou o reajuste o início das falas em seus espaços.
A atividade tem início com uma hora de atraso e Lula segue recebendo pencas de homenagens: O Toré dos índios Xocós da Ilha de São Pedro- que não se apresentaram em Glória mas foram transportados pra Aracaju – a entrega da conta de Xangô por representações do movimento negro sergipano – Kaô Kabecilê – que o presidente mantém por fora da camisa durante todo seu discurso, um estudante de medicina cotista dá o seu relato e, dentre outras homenagens, uma moça negra e bastante jovem fez questão de devolver o seu cartão do Bolsa Família ao ex-presidente. Houve apresentação de dança e falação da representação dos trabalhadores rurais. Lula inicia sua fala se desculpando pelo atraso: “É bom botar o feijão pra esquentar de novo no fogo baixo, que é pra não arriscar queimar”. Segue sua fala na mesma linha dos demais comícios. “O Brasil precisa voltar a andar de cabeça erguida”, “o pobre não é o problema, o pobre é a solução”, “as pessoas precisam voltar a ter poder de compra”, seguidos por gritos de “Olêolêolê Olá. Lula Lula!”e “Lula guerreiro do povo brasileiro”. Nos últimos minutos de seu discurso me dou conta de que o presidente não fez menção à sua condenação ou à Operação Lava Jato uma vez sequer durante todas as atividades transmitidas da caravana.
E fim de papo
O ato é encerrado e a caravana segue em direção à Penedo (AL) com paradas em Neópolis e em um assentamento no meio do caminho, paradas não divulgadas oficialmente. Ficou clara a orientação da mídia local em não repercutir as ações da caravana, muitas pessoas sequer ficaram sabendo da passagem do ex-presidente. O encerramento da caravana está previsto para o dia 6 de setembro no Maranhão em vinte e dois dias de viagem, três deles em Sergipe. Três dias que demonstraram a força do lulismo no Estado e sua profunda relação com setores populares mesmo com todos os artifícios das direções e aparelhos. Tudo é artifício, já dizia Jorge Mautner. Três dias de prova entre a figura do presidente, o saldo de suas políticas com foco na interiorização das universidades federais e as políticas compensatórias, três dias de tensionamento entre o passado de 87% de ótimo e bom no Ibope às vaias e reprovação dos aliados que aplicam a base de seu programa no Estado, com destaque para o governador Jackson Barreto. Três dias para aprender que os trabalhadores sergipanos não romperam com o lulismo e que o PT ainda segue forte por aqui, três dias pra constatar que sua superação pela esquerda demanda uma compreensão ainda mais profunda da formação e das injustiças pulsantes que permeiam a sociedade brasileira.
Notas:
Líder petista em Sergipe anuncia Lula como ‘futuro presidiário’
http://bahia.ba/politica/lider-petista-em-sergipe-anuncia-lula-como-futuro-presidiario/
Pesquisa Dataform revela: sergipanos divididos em homenagem a Lula, mas garantem a sua eleição em 2018
O ex-presidente Lula e a UFS: por que o título de doutor honoris causa?
http://sintufs.org.br/conteudo/597/artigo
UFS aprova adesão ao Reuni
http://www.infonet.com.br/noticias/cidade/ler.asp?id=66984
Jackson Barreto vaiado em Estancia
https://www.youtube.com/watch?v=x1K6fx8HYMs
Governador é vaiado em Glória
https://www.youtube.com/watch?v=I2poWIPL2B0
Nota da direção executiva do SINTESE sobre presença de Lula em Sergipe
Para a CUT, ¨Jackson Barreto é um governador que nega sua história¨
Comentários