Por: Michel Silva, de Blumenau, SC
Na mesma semana em que se discute a violência da extrema direita em Charlottesville, o Ministério Público protagoniza um ataque aos gestores do campus Abelardo Luz do Instituto Federal Catarinense (IFC), no Oeste de Santa Catarina. Na denúncia, que requer o afastamento da função pública dos gestores e a apreensão de computadores e celulares, denuncia-se uma suposta ingerência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos assuntos do campus. O campus fica localizado no Assentamento José Maria, onde ocorreu uma das primeiras ocupações realizadas pelo MST.
Na denúncia, afirma-se haver uma “intensa imposição de ideologia política” e que os docentes do campus estariam sendo assediados para assinar projetos de curso e perseguidos no que se refere ao conteúdo ministrado em sala de aula. Além disso, a denúncia afirma que a criação do curso superior de Pedagogia seria uma forma de inserir membros do MST como docentes do campus. Afirma-se ainda que haveria irregularidades na participação de membros do MST nos espaços institucionais do campus, como comissões e colegiados, como se abrir espaço para a comunidade participar dos debates da instituição fosse um crime.
Os argumentos presentes na denúncia se assemelham aos difundidos pelo Movimento Escola Sem Partido, ferindo a autonomia didático-pedagógica da instituição. Além disso, a denúncia evidencia o ódio contra os movimentos sociais, neste caso representado pelo MST, e uma ojeriza pela proposta pedagógica do campus, baseada na Educação do Campo.
O processo se insere em um longo embate, iniciado ainda na fundação do campus, há quase três anos, envolvendo empresários locais e políticos da região, que sempre consideraram absurda a implantação do campus de uma instituição federal em um assentamento da reforma agrária, em cujo entorno, atualmente, vivem cerca de 1600 famílias. Para os poderes locais, explicitados de diferentes formas, o campus deveria estar instalado no Centro da cidade e com outra perspectiva pedagógica, voltada aos interesses econômicos locais.
Neste momento, se faz necessária não apenas a ampla solidariedade aos trabalhadores do campus, mas também a defesa do projeto pedagógico que vem sendo implementado em Abelardo Luz. Esse ataque, além de ferir a autonomia de uma instituição de ensino, também significa um profundo ataque aos direitos dos trabalhadores do campo em ter acesso à educação pública, gratuita e de qualidade, conquistada em décadas de luta.
Foto: IFC
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