Proposta visa potencializar a ação política da comunidade negra no país. De acordo com a entidade, o debate sobre a questão racial no Brasil é colocado em segundo plano, mesmo no campo da esquerda.
Texto: Pedro Borges*
Edição de Imagem: Pedro Borges
A Frente Alternativa Preta (FAP) organiza um mapeamento de iniciativas políticas e culturais da comunidade negra. A listagem é feita de maneira online e todas as pessoas que participam de coletivos ou movimentos sociais negros podem inscrever o seu projeto.
“O mapeamento de iniciativas negra é de extrema importância porque possibilita ao Movimento Negro brasileiro uma atuação ainda mais organizada”, explica Beatriz Lourenço, advogada e integrante da FAP.
O objetivo é reunir as diferentes organizações da comunidade negra e periférica e construir uma frente de entidades com peso na discussão política brasileira. Para a Frente Alternativa Preta, os principais debates nacionais, como as reformas da previdência e tributária, excluem a posição do movimento negro
Os integrantes da FAP acreditam que se a comunidade negra ocupa os piores cargos sociais no país, deve ser ela a responsável por refletir sobre propostas de superação do modelo econômico e social brasileiro. Para isso, o grupo exalta a necessidade de olhar para a produção da intelectualidade negra, como Luiza Bairros, Abdias do Nascimento, Sueli Carneiro, Milton Barbosa, entre outros.
“Um país como o Brasil, em que a expressiva maioria da população é preta, é certo que apenas a unidade radical do movimento negro é capaz de alterar os rumos da história do país. A possibilidade de construção dessa unidade passa necessariamente por nos conhecermos, sabermos por quem e o que está sendo feito”, conta Beatriz.
Frente Alternativa Preta
Criada em 2017, a organização busca reunir diferentes ativistas e entidades do movimento negro afim de possibilitar um posicionamento sólido diante da conjuntura política nacional. A Frente reúne desde cursinhos populares, coletivos de bairros, estudantes, até artistas e intelectuais, o que a caracteriza como uma organização diversa.
Além de aumentar o poder de mobilização do movimento negro nos debates políticos do país, Junior Rocha, idealizador do portal Agenda Preta e integrante da FAP, acredita que a organização pode também questionar a estrutura dos partidos brasileiros. Mesmo no campo da esquerda, Junior detecta uma incompatibilidade entre a classe trabalhadora, de maioria negra, e a coordenação dos partidos, composta na maioria por brancos.
“Infelizmente a composição racial do Brasil não se reflete nas direções da maior parte das entidades que buscam organizar a classe e isso se deve ao racismo estruturante em nossa sociedade”, afirma Junior Rocha.
*Publicado originalmente no Alma Preta
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