Editorial 25 de julho
Temer investe todas as forças para encerrar o ciclo de crise aberto com a delação dos irmãos Batista no dia 17 de maio, onde esteve colocada a queda do governo. Neste momento, está ocorrendo nos corredores do Palácio do Jaburu e nos gabinetes parlamentares, um jogo de compras de votos através de emendas parlamentares, para garantir vitória na votação de abertura do processo contra Temer previsto para ir a plenário no dia 2 de agosto.
Uma leitura da conjuntura desde o 17 de maio
A crise do governo, aberta pelo vazamento dos áudios da JBS com Temer, conduzido por Rodrigo Janot e o poder judiciário expôs a crise do sistema político brasileiro erguido depois da redemocratização. A expressão disso é o confronto de duas alas burguesas para a saída da crise.
De um lado, a fração da Lava Jato, com judiciário, ministério público e polícia federal, apoiada por um setor da burguesia brasileira, as organizações Globo. Do outro, a fração burguesa representada pelos partidos burgueses tradicionais que dirigiram o golpe parlamentar e que estão acastelados no Congresso Nacional, defendendo seus interesses.
O elemento diferenciador da crise interburguesa era o ascenso dos trabalhadores perante a gravidade dos ataques em curso. Havia indícios fortes de um aumento da atividade política desse setor. Os atos do 8 de março e os dias nacionais de luta e paralisação, em 15 e 31 de março, foram o “carro abre-alas” para a construção da greve geral do dia 28 de abril, ápice do movimento de massas de resistência e uma das maiores mobilizações sociais da história da classe trabalhadora brasileira.
Depois do dia 28 de abril, se impuseram os limites da situação defensiva aberta pelo golpe parlamentar construído entre 2015 e 2016. As direções majoritárias, como a Força Sindical, boicotaram a mobilização em ascensão da classe, outras se calaram, ou foram cúmplices perante a ação da burocracia traidora da Força e UGT, como a CUT e a CTB.
Houve hesitação das direções das centrais em convocar uma nova greve geral depois da vitoriosa greve do dia 28 de abril. Principalmente depois do vazamento do áudio dos irmãos Batista, quando se abriu a possibilidade de derrubar Temer e o plano da burguesia de aprovar as reformas.
O resultado foi a convocação do #OcupaBrasilia para o dia 24 de maio e uma nova ação da classe trabalhadora apenas no dia 30 de junho, já desmobilizada pelas centrais e burocracias.
A classe trabalhadora perdeu a oportunidade de agir como força independente na crise. O peso das velhas direções pelegas foi decisivo.
Qual a dinâmica atual?
O governo Temer conseguiu, depois do auge da crise política, ter vitórias que diminuíram as possibilidades de sua queda.
A absolvição no julgamento no TSE da chapa Dilma-Temer , a aprovação da Reforma Trabalhista e a vitória da votação do relatório sobre a denúncia da PGR na CCJ indicam um cenário de pequena recuperação superestrutural do governo.
Existem indicadores que demonstram que, apesar da imensa maioria da população odiar o governo Temer, querer a sua derruba e defender, inclusive, eleições diretas, essa bandeira apesar de importantes atos, não demonstrou força de mobilização para mover a classe trabalhadora e as classes médias.
Podemos apontar algumas tendências a partir dessa análise.
As classes médias, base de massas para as mobilizações reacionárias de 2015-2016 continuam fora da rua depois da ascensão de Temer. Odeiam o governo, mas não estão dispostas a se mobilizar, apesar da corrupção do governo atual. O sentimento anti-PT pela direita é o traço predominante.
O aumento do preço dos impostos, particularmente o preço da gasolina em mais de 40 centavos em todo o Brasil, é mais uma prova de que o sentido geral das mobilizações dos setores médios em 2015 não eram os escândalos de corrupção, muito menos os impostos. Era o ódio ao PT, não pelas traições dessa organização política, e sim pelas medidas sociais compensatórias dos governos petistas como o bolsa família, entre outras.
Importante ressaltar que um setor importante das classes médias, os mais próximos socialmente da burguesia brasileira, se aproximam das ideias neofascistas de Bolsonaro, ou da nova direita, como Doria. É preocupante que também na classe trabalhadora o discurso de Bolsonaro tenha espaço.
A classe trabalhadora demonstrou a sua força e sua capacidade social na greve geral e em mobilizações contra a Reforma Trabalhista. No entanto, as marcas da situação defensiva aberta em 2015-2016 estão presentes. Não vivenciamos mobilizações espontâneas, todas foram dirigidas pelos velhos pelegos.
Do ponto de vista da classe trabalhadora, também presenciamos um fortalecimento do lulismo na vanguarda e em categorias mais organizadas da classe. Esse fenômeno também ocorreu em setores de massa das regiões Norte e Nordeste, onde a onda de mobilizações à direita das classes médias se demonstrou mais frágil e as medidas petistas tiveram mais peso.
No Sul , Sudeste e Centro-Oeste esse processo de fortalecimento do petismo em setores de massa mostrou-se menor do que no Nordeste.
Uma das chaves interpretativas da conjuntura brasileira é entender que alternativas de direção não se formam rapidamente. Neste caso, a contestação da direção petista sem o mesmo prestígio de outrora no movimento de massas e a falta de uma alternativa de esquerda de massas forjada no período anterior parece ser um elemento decisivo para entender que, mesmo perante um dos governos mais impopulares da história, não se demonstrou, até agora, uma força espontânea da classe para derrubá-lo.
Rearmar a resistência para o segundo semestre
Temer quer fechar a crise política no dia 2 de agosto. Junto com isso, prepara o avanço da pauta de ataques no Congresso Nacional. Caso obtenha a vitória na votação na Câmara, prepara de imediato o avanço do trâmite da Reforma da Previdência.
A primeira tarefa do movimento é reagrupar a frente única da classe trabalhadora. É preciso exigir das centrais sindicais majoritárias, como a CUT, CTB, Força Sindical , UGT e demais centrais sindicais, que seja rearticulado o fórum das centrais e que sejam preparadas manifestações nacionais no dia 2 de agosto, para denunciar um dos maiores escândalos nacionais de compra de votos para manter Temer no governo.
Uma outra tarefa fundamental é a preparação da resistência à Reforma da Previdência. Essa reforma foi, até o presente momento, o elemento mais mobilizador da classe trabalhadora. É preciso construir a resistência.
Embora tenha ocorrido uma inflexão negativa da conjuntura, a partir do dia 30 de junho, a crise do sistema político partidário expressa no confronto entre a fração Lava Jato e o Congresso Nacional continuará. Esse elemento de crise precisa ser aproveitado. A esquerda socialista deve lutar para, nas lutas de resistência da classe trabalhadora, forjar a alternativa política ao lulismo e à direita. É a nossa aposta.
Foto: Beto Barata/PR
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