Editorial 19 de julho
O presidente Michel Temer insiste em dizer que o Brasil está em recuperação econômica e que a crise política está perto do fim. Ele diz isso para provar que, apesar de ser um péssimo presidente, o melhor é mantê-lo no mandato para “não gerar instabilidade”. Isso pode ser facilmente desmentido pela realidade.
Temer faz propaganda de dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Cadeg), que pelo terceiro mês seguido mostrou que o país criou vagas de trabalho. Seria a esperança para aqueles que estão desempregados.
Mas, vamos aos fatos. Entre janeiro e junho de 2017, foram criadas 67.358 vagas, um número ridículo se comparado com os 13,8 milhões de desempregados, segundo os números oficiais. Essa “criação de empregos” não resolve nem 1% do problema. Em junho, foram criadas cerca de nove mil vagas, insuficiente para resolver o desemprego em uma cidade pequena.
Além disso, o setor que mais cria vagas no mercado de trabalho é o do agronegócio. Esse ano a safra foi considerada boa, o que aquece a economia. Mas, depois da colheita, o setor vai parar de gerar empregos. A construção civil, a indústria e o setor de serviços continuam demitindo.
Temer também se vangloria de ter “derrotado a inflação”. A previsão para este ano é que ela esteja abaixo dos 4%, um dos índices mais baixos da história. Mas, isso não é mérito do presidente. Qualquer pessoa que já foi a uma aula de economia aprendeu que a inflação excessivamente baixa é sinal de recessão na economia. Como ninguém está comprando, os comerciantes baixam o preço para acabar com o estoque. Nada a ser comemorado.
Se na economia as coisas não estão bem, na política a situação também está longe da chamada “estabilidade” que Temer propagandeia. O governo teve duas vitórias. No Senado, com a aprovação da Reforma Trabalhista e na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, que votou contra o relatório que era favorável à denúncia de corrupção apresentada por Janot. Diga-se de passagem, com a aprovação de milhões em emendas e compra de votos de diversos deputados. Isso não significa o fim da instabilidade e crise do governo abertos depois da delação da JBS no dia 17 de maio.
Agora, no início de agosto, a Câmara dos Deputados, pela primeira vez na história, vai ter que votar se o presidente da República é processado por crime de corrupção. Serão necessários 342 votos para que Temer seja afastado da Presidência e responda ao processo. Rodrigo Maia (PMDB) assumiria automaticamente em seu lugar.
Temer adota como estratégia a manutenção da base aliada, que sustenta seu governo como arma de defesa. Foram substituídos mais de 20 deputados descontentes para a votação do processo contra ele na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e liberados milhões em verbas de emendas. As tensões entre Temer e Maia são debatidas todos os dias nos jornais.
O PSDB está dividido. Uma ala do partido defende abertamente a aprovação das reformas e o afastamento do governo. O que unifica os políticos que apoiaram o golpe neste momento é a defesa dos seus mandatos e da prisão perante a outra ala burguesa, representada pela Lava Jato e por veículos de comunicação como a Rede Globo.
Claro que este governo não vai cair de podre. Sem o povo nas ruas, Temer pode continuar no poder, ou ser substituído por alguém que banque o mesmo projeto de reformas. Mas, os fatos mostram que o palavreado do presidente sobre “fim da crise” é pura balela.
O grande elemento de recuo neste momento é das mobilizações dos trabalhadores. Ocorreu uma traição das principais direções sindicais do país em relação à luta contra a Reforma Trabalhista. Pagamos caro a demora da convocação de uma nova greve geral depois do dia 24 de maio em Brasília. É preciso retomar o caminho da unidade em defesa dos direitos da classe trabalhadora e pelo Fora Temer. Esse é o caminho que pode garantir a mobilização da classe trabalhadora. A agenda das alas burguesas em movimento, independente da manutenção, ou não, de Temer no poder é avançar na Reforma da Previdência no segundo semestre.
A sessão da Câmara dos Deputados para analisar o parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre o pedido de investigação do presidente Michel Temer está marcada para 2 de agosto. É preciso a convocação de um novo dia nacional de lutas pelas centrais sindicais. É tempo de reiniciar o ciclo de lutas e resistência da classe trabalhadora.
Foto: Beto Barata/PR
Comentários