Editorial 17 de julho
Os trabalhadores da construção civil de Fortaleza estão em greve desde o dia 6 de julho. O movimento ocorre após cinco meses de campanha salarial sem os patrões atenderem às principais reivindicações da categoria, de aumento salarial com ganho real, reajuste na cesta básica e vale combustível. Apesar de a patronal cearense insistir em fechar os ouvidos aos trabalhadores e tentar de todas as formas desmobilizar a greve, a mobilização continua forte e todos os dias há protesto de peão. Agora, é o momento de encher os lutadores de solidariedade.
O movimento enfrenta a intransigência dos patrões. A política das construtoras é de liberar os trabalhadores para que fiquem em casa e não compareçam às atividades da greve. Ainda, conseguiram, na última quinta-feira (13), um interdito proibitório que busca limitar a realização dos piquetes.
O desespero da patronal é fácil de explicar. Apesar dos lucros que obtiveram em todos os anos anteriores, se recusam ao mínimo de maleabilidade. Insistem em apresentar um reajuste salarial inferir à inflação e se recusam a dar o vale combustível, a principal reivindicação dos grevistas. Em uma capital sem metrô e com um péssimo transporte coletivo, o uso de moto se tornou um dos meios mais populares e é através dele que grande parte da categoria se desloca até o trabalho.
O que a patronal talvez não esperasse é que o movimento ultrapassasse os locais de trabalho. A greve vem crescendo e se estendendo para além dos canteiros de obras, ocupando praça e ruas. A categoria está alinhada também à luta nacional contra a retirada de direitos. Um importante ato foi realizado em frente à Federação das Indústrias do Ceará, com a incorporação dos eixos contra as reformas Trabalhista e da Previdência e também pelo Fora Temer.
Setor lucrou muito nos últimos anos e volta a crescer, em Fortaleza
A postura da patronal não está de acordo com suas afirmações no mundo empresarial. Executivos das maiores construtoras de Fortaleza admitem que projeção para 2017 é de aumento das vendas e de maiores lucros.
Entre abril e junho deste ano, 582 unidades na Região Metropolitana de Fortaleza foram vendidas pelas maiores construtoras. Ao todo, R$ 374 milhões foi o Valor Geral de Vendas (VGV), aumento nominal de 3% em relação ao mesmo período do ano passado e 17% a mais do que os três primeiros meses de 2017. Esses dados do Flash Imobiliário foram apresentados nesta sexta-feira (14) pela Lopes Immobilis. De acordo com os especialistas, setor espera crescimento maior para o segundo semestre, podendo bater R$ 2 bilhões no ano.
A pesquisa e a opinião das construtoras foram divulgadas durante a realização da greve dos operários, ou seja, não há justificativa alguma para não aceitar as reivindicações dos trabalhadores.
Entre as construtoras que mais venderam em 2017 estão as BSPAR em primeiro, com VGV de R$ 59 milhões no semestre; Mota Machado, com R$ 55 milhões e Moura Dubeux, com R$ 50 milhões. No trimestre, a Mota Machado ficou em primeiro, com R$ 35 milhões, seguida pela BSPAR, com R$ 27 milhões, e Moura Dubeux, com R$ 23 milhões.
O setor lucrou muito também em anos anteriores. Em 2009, de acordo com dados do Informativo Tributário Contábil (ITC), os investimentos na construção civil somaram mais de R$ 400 milhões no Brasil, crescendo em 30% em 2010. Esse resultado foi fruto do financiamento do Governo Federal para a produção de imóveis, da expansão das instituições aptas a financiá-los com permissão, a partir de então, para realização deste serviço por bancos privados e do aumento da oferta de créditos. Construção de edifícios, condomínios e casas movimentaram mais de R$ 58 bilhões em 2010, ainda de acordo com o ITC.
Os principais representantes do empresariado da construção civil do Ceará e de Fortaleza, em especial, comemoraram, na época, os altos lucros e o crescimento do setor. De acordo com o sindicato da construção civil do Ceará, o Sinduscon-CE, em 2011 existiam 500 canteiros de obras no primeiro semestre, 200 a mais do que nos três anos anteriores.
Cercar de solidariedade a greve da construção civil de Fortaleza
Para o próximo dia 20 está marcada uma Audiência de Conciliação entre os patrões e os trabalhadores. Os operários já demonstraram que estão dispostos a continuar resistindo e, para isso, não estão sozinhos. Estão organizando uma ampla campanha de solidariedade que está rodando categorias, entidades e movimentos de todo o país, com moção de apoio e vídeos. O Esquerda Online apoia a greve e chama todos a também ampliarem a campanha.
Chega de retirada de direitos! Todo apoio à greve da construção civil de Fortaleza!
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