Por: Renato Fernandes, de Campinas, SP
A crise social na Argentina é grande: o desemprego e os níveis de pobreza estão em alta. É a contra-face do lucro dos empresários e dos cortes de investimento e a política de austeridade do governo de Mauricio Macri. Nesta quinta-feira (13), aconteceu um forte ataque à luta dos trabalhadores argentinos: a desocupação violenta da fábrica ocupada Pepsico na região de Florida, na cidade de Vicente López, próximo a Buenos Aires.
Os trabalhadores ocuparam a fábrica após a empresa anunciar o fechamento da empresa e a demissão de cerca de 600 trabalhadores no último 20 de junho. A Pepsico é uma multinacional estadunidense responsável por produtos como Elma Chipps e Pepsi, de grande lucratividade a nível global. Para se ter uma ideia, o faturamento global da empresa no primeiro semestre de 2017 foi de pouco mais U$ 27 bilhões, sendo que na Argentina, no ano passado, o faturamento foi de 4,8 bilhões de pesos argentinos, aproximadamente U$ 283 milhões. Foi a 217ª empresa que mais faturou no país.
Desde sua ocupação, setores de base do movimento operário e, principalmente, a esquerda socialista e radical cercou de solidariedade o conflito da Pepsico. Foram visitas diárias, manifestações, exigências na justiça e no parlamento que impulsionaram a luta dos trabalhadores e suas famílias exigindo outra alternativa ao fechamento da empresa.
Macri e a governadora da província de Buenos Aires, María Vidal, da coalização governamental Cambiemos, a mesma de Macri, assim como importantes meios de comunicação como o Clarín, foram os principais adversários dos trabalhadores nessa luta que acabou com a desocupação desta quinta. Foram praticamente oito horas de luta dos trabalhadores contra a polícia, tentando resistir à desocupação. Houve bastante solidariedade, novamente de sindicatos e da esquerda socialista e radical, com os trabalhadores. Porém, a polícia conseguiu invadir a fábrica e os trabalhadores só desocuparam depois de terem negociado para não serem presos. Mas, de acordo com o Clarín, cinco trabalhadores foram detidos na operação.
Solidariedade, crise social e mobilização nacional
Apesar da burocracia do sindicato dos trabalhadores da Alimentação (STIA), dirigida por Rodolfo Daer, ter se oposto à luta encabeçada pela Comissão Interna da Pepsico dirigida pelo PTS – Daer não lutou contra o fechamento da planta, mas por uma maior indenização aos demitidos -, a desocupação violenta fez com que se ampliasse ainda mais a solidariedade de diversas categorias com os trabalhadores da Pepsico. Vários cortes em avenidas centrais de Buenos Aires foram realizados na quinta-feira. No período da tarde, as Mães da Praça de Maio e diversos organismos de direitos humanos, junto com sindicatos e organizações de esquerda, fizeram um ato para repudiar a ação policial e exigir uma política para os trabalhadores demitidos.
O método de ocupação de oficinas e fábricas vem crescendo como método de luta na Argentina. Neste ano, já tinha acontecido a ocupação da gráfica AGR, em Buenos Aires, e a Madeireira MAM, em Neuquén, permanece ocupada.
Neste sábado (15), militantes sindicais e de movimentos sociais fizeram uma plenária de solidariedade com os trabalhadores da Pepsico. Nesta plenária, ficou decidida uma jornada nacional de lutas para o dia 18, terça-feira, exigindo a reabertura da empresa e a reincorporação dos demitidos.
A situação de crise social, somada à repressão brutal e à intervenção judiciária em alguns sindicatos, obrigou a CGT, principal central sindical, a convocar uma manifestação nacional para o dia 22 de agosto. Não será uma greve geral, porém é uma ruptura da trégua que a CGT tinha acordado com o governo. Resultado de uma tragédia, porém que demonstra que a situação por debaixo está bastante movimentada.
Foto: Luciano Thieberger / Dyn
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