Por: Leandro Santos, do Rio de Janeiro, RJ
No Rio de Janeiro, as balas perdidas possuem endereço certo, atingem principalmente a juventude negra das favelas e, no último dia 30, a vítima foi uma jovem gestante, no Centro de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, quando ia ao mercado. Grávida de 39 semanas do pequeno Arthur, Claudinéia dos Santos Melo, paraibana de 29 anos, foi atingida na pelve, na favela do Lixão. Socorrida, foi submetida a uma cesariana de emergência, quando descobriram que seu bebê também estava ferido. O tiro que atravessou seu quadril perfurou os pulmões da criança, provocando uma lesão na coluna, e ainda tirou um pedaço da orelha. O bebê corre risco de ficar paraplégico.
A polícia diz que no momento estava ocorrendo uma operação na localidade. Este, infelizmente, não é um fato isolado. O número de mortos em operações policiais subiu 78% nos dois primeiros meses deste ano, de 102 para 182, e em relação ao mesmo período de 2016, como aponta o Instituto de Segurança Pública (ISP), ligado ao próprio governo do estado. O sentimento de insegurança, de que a qualquer momento pode-se ser atingido por uma bala perdida, a cada dia aumenta mais.
O Rio de Janeiro está imerso num caos econômico, político e social sem precedentes em sua história. A combinação de retração econômica, recessão na indústria do petróleo, queda na arrecadação, corrupção institucionalizada que, há várias gestões dilapidaram as finanças do estado, coloca o Rio como polo avançado da crise que acomete o país.
Nos últimos meses, temos acompanhado uma escalada da violência a níveis alarmantes, potencializada pela crise. A população pobre e os trabalhadores, fruto do projeto de segurança pública colocado em prática no estado, segue sendo a que mais sofre. O projeto fracassado das UPPs inaugurou as incursões em favelas e bairros pobres com blindados e, apesar da falência desse projeto, esta é a maneira como o Estado segue lidando com a maior parte da população, com violência, terror e mortes.
Além de sofrer com a violência estatal, a população fluminense é vulnerável aos grupos paramilitares e às facções criminosas, as mais armadas do país. Segundo dados, pelo menos um fuzil acaba sendo apreendido diariamente e, em 2016, foram registrados quatro mil confrontos entre policiais militares e esses grupos, uma média de 11 trocas de tiros por dia.
No meio desse confronto está a população pobre e trabalhadora, que é ferida, ou morre diariamente nesta guerra. A realidade é distinta, mas os números se assemelham aos de países em guerra civil, e a população mais pobre, negra e marginalizada é a mais atingida. Nos três primeiros meses de 2017, 1.867 pessoas morreram vítimas de homicídios, roubos, agressões e em operações policiais, no Rio. Na Síria, que hoje se encontra em guerra, por exemplo, neste mesmo período, 2.188 civis morreram em ataques e confrontos.
É mais do que urgente uma outra política de segurança pública, que priorize a vida e não o lucro, ou a especulação imobiliária. É preciso acabar com esta polícia militar, com a forma como funciona, como mantém suas relações, como se financia, de forma extremamente corrupta e também como engrenagem fundamental da manutenção da violência urbana no estado. É preciso paz para o povo. É preciso uma nova polícia.
Foto: Reprodução TV Globo
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