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MOVIMENTO

Discurso “apolítico” vence a eleição do DCE UFMG

Por: Izabella Lourença, de Belo Horizonte, MG

Nos dias 28 e 29 de junho, ocorreu a eleição para nova gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFMG). Três chapas concorreram à eleição: chapa 1 – Muda UFMG; chapa 2 – Todas as Vozes e chapa 3 – Lutar e mudar as coisas.

Com o discurso “nem de direita, nem de esquerda”, a chapa 1 venceu a eleição obtendo 2071 votos. Esse discurso não é novo na UFMG, nem no movimento estudantil brasileiro. Geralmente, chapas “apolíticas” aparecem quando se tem uma gestão de esquerda que atua apenas em benefício próprio, não de maneira democrática com o conjunto do movimento estudantil.

A atual gestão do DCE, composta majoritariamente pelo Levante Popular da Juventude e correntes do PT, esvaziando os conselhos de entidades de base, tapando os ouvidos para a oposição, sendo negligente com o dinheiro da entidade e com as representações nos órgãos administrativos, fez surgir uma gestão que secundariza o trabalho político das entidades estudantis.

A chapa vencedora não se montou por ter acordos sobre o que o DCE deve ser politicamente. Os estudantes se unificaram em torno à bandeira de ter um DCE que melhor represente os estudantes, em termos administrativos.

É justo querer um DCE que melhor dialogue com o conjunto dos estudantes e que seja gerido de maneira transparente. Também é justo que os estudantes queiram um DCE que os represente nos órgãos administrativos. Mas, isso não pode significar um esvaziamento político do DCE, como pautou a chapa 1 em sua campanha.

O DCE deve, ou não, se posicionar contra os cortes de verbas na educação e a Emenda à Constituição que congelou os gastos nas áreas sociais por 20 anos? O DCE deve, ou não, lutar para que o estudante de sua base tenha direito a um emprego digno e a se aposentar no futuro? O DCE é “Fica Temer”, ou “Fora Temer”? Infelizmente, a nova gestão não tem acordo internamente sobre as respostas dessas perguntas.

Esse discurso de um DCE “apolítico”, que se apoia no senso comum “apartidário”, é o mesmo defendido pelo PSDB no movimento estudantil, como podemos ver nesse vídeo de sua defesa no Congresso da União Nacional dos Estudantes. Partidos como PSDB apoiam chapas sem posicionamento político porque, para eles, quanto menos resistência o movimento estudantil apresentar, mais fácil é retirar os direitos da juventude.

A chapa 3, composta por diferentes movimentos de esquerda: MAIS, Correnteza, UJC, Juntos, Vamos à luta e diversos estudantes independentes, se apresentou como uma alternativa nessa eleição. Com o nome Lutar e Mudar as coisas, a chapa se apresentou como aqueles que sabem ao lado de quem lutam e sabem que só é possível fazer os estudantes voltarem a confiar no movimento estudantil com diálogo e presença no dia a dia da universidade, ouvindo o que os estudantes têm a dizer, ajudando a resolver seus problemas cotidianos. Com esse discurso, a chapa 3 ganhou em mais da metade das urnas (prédios) e ficou em segundo lugar com 1979 votos, mostrando o grande espaço que tem uma alternativa ao projeto petista.

A chapa 2 obteve 489 votos. O resultado dessa eleição expressa não só o balanço que os estudantes fazem sobre a gestão que fizeram no último ano, como também o preço que se paga ao se aliar com setores que já traíram tantas lutas do movimento estudantil. O Levante Popular da Juventude preferiu se aliar à União da Juventude Socialista (UJS) no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), ao invés de somar forças com a oposição de esquerda que há muitos anos se enfrenta com as práticas burocráticas da entidade. Optar por dar as mãos à UJS, que tantos acordos faz contra os direitos da juventude, fez o Levante perder muitos de seus parceiros e terminar em último lugar nessa eleição.