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O PIB cresceu? Para quem?

Por: Carmem Toboso*, economista e colunista do Esquerda Online

Em 1o de junho, o IBGE divulgou o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) durante o primeiro trimestre desse ano: o resultado registrado foi 1% de crescimento, com relação ao trimestre anterior. O governo Temer planejava fazer esse anúncio com muito barulho, pretendia comunicar que o seu governo tirara o país da recessão com a prova cabal de 1% de crescimento econômico no trimestre.

No entanto, os planos do governo golpista foram ofuscados pela revelação da delação mega premiada dos empresários da JBS em 17 de maio e, desde então, o governo se viu compelido a dar mais atenção para a própria sobrevivência do que para a comemoração com estrondo desse “brilhante” resultado.

O crescimento pífio de 1% tem mais relevância por interromper uma série de encolhimento de oito trimestres – desde início de 2015 –  do que pela sua magnitude.  Uma breve análise dos determinantes desse crescimento colocará em dúvida se o Brasil já saiu da recessão e deixará bastante evidente que Temer nada teve a ver com esses resultados.

O PIB é um importante indicador da economia e, grosso modo, pode ser comparado à temperatura do corpo humano. Se sua temperatura aumenta, significa que você tem febre, mas o simples fato de saber da febre não permite definir quais os motivos que levaram à subida da temperatura. Vale a mesma lógica se a temperatura cai ou está dentro da normalidade. Portanto, tomar a temperatura como único indicador do seu estado de saúde seguramente não vai resultar em um diagnóstico confiável. Pode te matar.

A chamada análise pela ótica da oferta revela que o crescimento de 1% resultou da combinação da expansão da Agropecuária de 13,4%, a Indústria cresceu 0,9% e o setor de Serviços manteve-se estável com 0%.  Logo, a Agropecuária foi a grande responsável pelo resultado trimestral.

Esse setor está voltado para as exportações, que por sua vez tiveram crescimento de 4,8%, na mesma comparação. Portanto está mais atrelado ao dinamismo externo que interno. Tão pouco esse crescimento está associado à criação de emprego, visto que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio Contínua (PNADc) haviam  8.922 mil ocupados no trimestre findo em março de 2017. Esse volume representa uma redução com relação ao trimestre anterior findo em dezembro de 2016, que registrou 8.922 mil ocupados e uma redução ainda maior em comparação ao mesmo período de 2016, com 9.444 mil ocupados.  Observa-se, ao contrário, uma diminuição do total de empregados. A concentração de renda no setor de agricultura é imensa e aumenta ainda mais quando o número de trabalhadores diminui. Crescimento para quem? Nem os trabalhadores que atuam diretamente no setor que mais cresceu serão beneficiados. Ao contrário, foram dispensados.

Nem que o próprio Temer, junto dos 4% que aprovam seu governo, tivessem plantado essas safras em seu primeiro dia de governo poderia tê-la colhido agora. As boas safras colhidas durante os três primeiros meses desse ano foram frutos de decisões tomadas bem antes de Temer dar o golpe. Para esse ano estão previstos aumentos de safra importantes como milho (46,8%), fumo (28,4%), soja (17,5%) e arroz (13,5%), que também nada tem a ver com Temer.

Por fim, vale ressaltar que a Agropecuária responde por aproximadamente 5% do PIB brasileiro, tendo tento sido registrado 5,5% no primeiro trimestre de 2017. Esse percentual é pequeno frente ao poder da bancada ruralista no Congresso Nacional, que emplaca uma campanha junto com a Rede Globo afirmando que é “agro é tudo”.  Agro não é tudo, é 5%,  e mais voltado para a alimentação de animais que de humanos.

Mesmo sem a delação da JBS e a possibilidade do governo gastar rios de dinheiro pagando lacaios para convencer que saímos da recessão, os brasileiros não seriam facilmente convencidos. Isso porque o consumo das famílias diminui 0,1% nessa mesma comparação e tem registrado quedas sucessivas desde início de 2015. Os brasileiros têm consumido cada vez menos há dois anos. O mercado interno está sofrendo o impacto da recessão, do desemprego e não há no horizonte factível sinal de saída dessa situação.

Desde o governo Dilma, têm sido adotadas medidas recessivas para sair da recessão. Por mais paradoxal que isso possa parecer, é o que tem ocorrido. Nem o governo gasta em nome do ajuste fiscal para manter a renda dos rentistas e nem os empresários ligados a produção produzem, pois além de concorrerem com as taxas de juros mais altas do mundo, estão exigindo que o governo golpista cumpra a sua parte no trato e faça as reformas trabalhista e da previdência.  Derrotar as reformas significa destituir o governo Temer, portanto essa é sem dúvida a pauta econômica dos trabalhadores, junto das lutas cotidianas em defesa do emprego e dos salários. Cada emprego mantido, cada direito mantido e cada reajuste conquistado é uma derrota para esse governo. Está muito claro qual é a saída, ao menos para os trabalhadores. Derrotar a reformas e eleger um novo governo e um novo congresso é a única opção disponível para haver futuro entre os que vivem do trabalho em nosso país.

*[email protected]