Por Renato Fernandes, Campinas/SP
Foto: AFP
Nas duas últimas semanas ocorreram as eleições legislativas francesas. O resultado das urnas foi uma grande vitória para o novo presidente Emmanuel Macron: a aliança entre o seu partido La République En Marche (LREM) e o Mouvement Democratique (MoDem) obteve 350 cadeiras na Assembleia nacional, garantindo uma maioria folgada entre os 577 deputados. Os dois partidos são considerados de “centro” no cenário político francês.
A oposição conservadora de direita é a primeira oposição com 130 deputados pelos Les Républicains (LR) e a Union des Démocrates et Indépendants (UDI). Na esquerda, o bloco dirigido pelo Parti Socialiste (PS) conseguiu 43 deputados, enquanto o bloco da France Insoumisse (FI) e do Parti Communiste Français (PCF) conseguiram 27.
A queda do PS é a mais impressionante: em 2012, eles elegeram 258 deputados tendo 9,4 milhões de eleitores (40,9% dos votos); já em 2017, após 5 anos de um governo social-liberal, o PS teve seus 29 deputados com apenas 1 milhão (5,68%) – um verdadeiro salto para o abismo que gerou fortes crises no aparato do partido.
Apesar do “massacre” eleitoral de Macron, um dado que chamou a atenção foi a forte abstenção no pleito. No primeiro turno das legislativas, a abstenção foi de aproximadamente 50%. Já no segundo turno, a abstenção chegou a 57,36%. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta considerar que do total de inscritos para votar, somente 18,88% votaram na aliança entre LREM/MoDem. Com isso, a maioria que o governo obteve não foi eleita nem por 1/5 dos franceses, o que demonstra a pouca legitimidade eleitoral. O alto nível de abstenção leva alguns analistas a afirmarem que existe uma “americanização” do sistema eleitoral francês, isto é, altos níveis de abstenção combinados a um alto nível de lobby empresarial nas campanhas políticas.
Como dissemos em outro artigo, essa maioria terá o objetivo de garantir uma política neoliberal. O grande projeto de Macron será o de adequar a França aos planos de austeridade da União Europeia (UE) garantindo o respeito ao Pacto de Estabilidade e Crescimento que prevê um déficit orçamentário máximo de 3% do PIB e, também, um conjunto de contrarreformas neoliberais como é o caso da contrarreforma trabalhista. O objetivo de Macron é o de se adequar aos parâmetros alemães para poder negociar uma maior integração da UE em relação às questões como o Eurobônus e o Orçamento Europeu.
Uma resistência que urge
Para a classe trabalhadora francesa esse programa econômico será um desastre: uma maior desregulamentação dos direitos trabalhistas aumentará a precariedade laboral no país e, consequentemente, os níveis de exploração dos trabalhadores. Sem dúvida, essas contrarreformas são a continuidade das políticas econômicas de Nicolas Sarkozy (2007-2012), que fez uma reforma da previdência, e de François Hollande (2012-2017), que fez uma reforma trabalhista. Nos dois casos os trabalhadores resistiram bravamente, com greves, ocupações e manifestações de rua, mas infelizmente foram derrotados.
Agora, uma nova resistência está se gestando pela base. Um dia após as eleições, em 19 de junho, o Front Social convocou atos e marchas por toda a França. Essa frente é composta por sindicatos de base da principal central sindical, CGT, e também por outras organizações sindicais como o SUD-Solidaires e partidos de esquerda como o Nouveau Parti Anticapitaliste e setores da France Insoumisse.
Os atos tiveram duas motivações principais: rejeitar a contrarreforma trabalhista que já está sendo debatida nos bastidores e que será apresentada por Decretos na volta das férias de verão (setembro) e, também, se opor ao governo Macron e sua maioria na Assembleia Nacional. As manifestações ocorreram em 35 cidades diferentes reunindo cerca de 20 mil pessoas nacionalmente. O que não parece nada mal, dado a ressaca eleitoral e a proximidade das férias de verão.
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