Da Redação MG
William Rosa é o nome da ocupação que nasceu em outubro de 2013, ocupando um terreno abandonado em Contagem (MG), que havia sido cedido pelo Governo Federal à Ceasa – Centrais de Abastecimentos de Minas Gerais. Desde a sua instalação, os moradores convivem cotidianamente com ameaças de despejo.
Na última semana, as famílias mais uma vez foram assombradas com a notícia que o governador do estado, Fernando Pimentel (PT), autorizou o cumprimento do mandado de reintegração posse, pela Polícia Militar, até o dia 17 de junho.
O Esquerda Online entrevistou Lacerda dos Santos, liderança da Ocupação, que contou sobre as estratégias que o movimento tem adotado para resistir.
E.O.: A Ocupação William Rosa já está consolidada há muito tempo; famílias moram lá há anos e ocorreram muitas negociações entre a comunidade, os governos e a CEASA. Por que essa ameaça de reintegração de posse agora?
Lacerda: Em primeiro lugar, obrigado pela oportunidade de informar sobre o drama das famílias da ocupação William Rosa. É uma ocupação que existe há três anos e oito meses. Hoje ela conta com 400 famílias que moram na ocupação. Isso dá em torno de 1500 pessoas. Entre homens, mulheres, crianças, jovens e adolescentes. São famílias de baixa renda. A grande maioria trabalha de maneira precária, quando consegue serviço formal, e uma parte está na informalidade. Então, é uma situação social muito crítica.
Nesse período todo em que as famílias estão lá, elas sempre buscaram negociações com as esferas do governo. Algumas são autoras da ação de reintegração de posse, outras são corresponsáveis pela situação social que vive o país. A gente cobra do governo federal e do Ceasa o fim da ação de reintegração de posse, ou que pelo menos dê uma garantia digna para as famílias de acesso a moradia permanente. Do governo estadual, a gente cobra que se avance em um programa de habitação que, de fato, atenda aos trabalhadores. Cobramos também que não autorize a polícia, que está sob seu comando, a fazer a ação de reintegração de posse, isso pode significar um massacre. E do município, a gente também cobra solução para as famílias, já que as famílias são de Contagem. Então, estamos fazendo essa pressão sobre o poder público.
A situação hoje é tensa porque, no último dia 25, novamente a Ceasa Minas voltou a pressionar pela reintegração de posse. A informação que temos é que a juíza autorizou. E nós tivemos a informação, junto ao governo do Estado (por meio do representante da mesa de diálogo), que a polícia tem até o dia 17 de junho para cumprir esse despejo. Ou seja, a qualquer momento podemos ser surpreendidos com essa situação. O fato é que eles não ofereceram nenhuma alternativa digna e nenhuma negociação até agora. O que temos é o despejo pelo despejo.
E.O.: Quais os próximos passos do movimento para evitar o despejo?
Lacerda: Nós vamos fazer um ato de rua; estamos fazendo assembleias; estamos buscando apoio entre os sindicatos e tentando fazer uma reunião com a comissão jurídica para tentar reverter.
E.O.: Nessa conjuntura de crise social e política, quando grandes empresas, principalmente construtoras, tem sido flagradas dando propina aos políticos, é uma grande contradição querer despejar o povo que não tem onde morar. Como você vê essa situação? Quais interesses têm por trás dessas tentativas de despejos?
Lacerda: Nós vivemos em uma sociedade extremamente contraditória e desigual. A falta de moradias não está condicionada a falta de casas. Existem mais propriedades ociosas ou subutilizadas do que o próprio déficit habitacional brasileiro. A gente percebe que a falta de serviços sociais dignos não é pela falta de dinheiro. Nós somos a nona economia mais forte do mundo e em termos de desigualdade, os números são alarmantes. Esse cenário de corrupção, onde as grandes empresas e políticos se beneficiam em detrimento do povo trabalhador, só faz aumentar a nossa indignação e resistência.
E.O.: Muito obrigado pela entrevista, Lacerda. Esperamos que a luta da Ocupação William Rosa seja vitoriosa.
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