Editorial 6 de junho
A turbulência nas alturas ganhou intensidade. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inicia nesta terça-feira (6) o julgamento que poderá definir o futuro do presidente. A chapa Dilma-Temer é acusada de abuso de poder econômico nas eleições de 2014.
A bem da verdade, a possibilidade da queda de Temer no julgamento do TSE, que há um mês era considerada improvável, explica-se pelo súbito agravamento da crise política nas últimas semanas. A divulgação das gravações de Joesley, no âmbito da delação da JBS, deixou o governo semi-morto, em estado de agonia.
Contribuiu, também, para o enfraquecimento de Temer, a crescente resistência social às contra-reformas. A greve geral do dia 28 de abril, que parou as principais cidades do país, e o enorme protesto que tomou conta de Brasília, em 24 de maio, demonstraram o amplo rechaço popular à agenda de reformas neoliberais e ao governo.
Perante o cenário crítico, parcela significativa da classe dominante passou a advogar pelo afastamento de Temer. Como se manifesta tanto entre os que ainda apoiam o peemedebista, como entre os que querem sua saída, a defesa das eleições indiretas é praticamente unânime na burguesia.
E há uma razão para essa unidade dos poderosos em torno das indiretas: existe um acordo no que toca à urgência das reformas Trabalhista e Previdenciária. Isto é, apesar dos sérios conflitos políticos e institucionais no interior da classe dominante (Lava Jato versus sistema partidário, por exemplo), há um consenso ao redor do programa econômico. Nesse sentido, caso Temer seja cassado, o caminho mais rápido para a aprovação das reformas impopulares é via a eleição de um novo governo nesse Congresso ilegítimo.
Por esse motivo, adquire redobrada importância a defesa de eleições diretas. Nesse momento, a bandeira das ‘Diretas, Já’ entra em conflito frontal com a principal proposta articulada pela burguesia diante da grave crise política. É positivo e necessário, portanto, a mais ampla unidade de ação, com todos setores que estejam dispostos, em torno da campanha pelas eleições diretas.
Caminhos e estratégias diferentes
Porém, essa progressiva e abrangente unidade, que reúne distintos segmentos políticos e sociais, não deve apagar as profundas diferenças programáticas e estratégicas entre os que hoje se alinham contra as indiretas.
Em primeiro lugar, há os que se focam quase exclusivamente na luta institucional e parlamentar, e deixam em segundo lugar a luta direta do povo.Temos outra posição: acreditamos que o fundamental é a concentração de esforços na luta dos trabalhadores.
Nessa perspectiva, a prioridade, ao nosso ver, deve ser, desde já, a construção da greve geral marcada para 30 de junho. É pela força da mobilização de massas, parando o país e tomando as ruas com grandes protestos, que poderemos derrotar definitivamente as reformas e Temer, e, assim, abrir caminho para um governo dos trabalhadores e do povo.
Há também uma divergência sobre o alcance que deve ter as eleições diretas. O PT, REDE, PSB e o PDT, por exemplo, defendem apenas ‘Diretas’ para presidente. Pensamos que esse Congresso de corruptos também deve ser questionado. Assim como Temer, consideramos que a vasta maioria dos deputados e senadores, comprometidos com as reformas e o golpe parlamentar, não têm legitimidade para continuar seus mandatos. Por essa razão, são necessãrias eleições diretas também para eleger deputados e senadores: o atual Congresso precisa ser dissolvido.
A Nota da Executiva Nacional do PSOL, publicada no dia 20 de maio, fala corretamente em “absoluta ilegitimidade do Congresso Nacional”, mas não inclui a exigência de eleições diretas também para o Congresso, o que pensamos ser um erro.
O PT e Lula fazem um jogo duplo. Em público, discursam pelas eleições diretas, a favor da greve geral e contra as reformas. Mas, em conversas de bastidores, negociam com o PSDB, PMDB e outros setores uma saída para a crise instalada e a defesa comum ante a ofensiva da Lava Jato. Em realidade, Lula e o PT mantém a tradicional linha petista de conciliação com os ricos e poderosos. Com a mão esquerda, acenam aos trabalhadores e ao povo pobre com o objetivo de recuperar o prestígio perdido, mas com a direita, dialogam com a burguesia para refazer o pacto rompido.
Há, ainda, os setores da esquerda que renunciaram à real disputa que está colocada no país e hesitam na defesa das eleições diretas. A proposta de um governo de conselhos populares não corresponde à atual correlação de forças entre as classes sociais, em primeiro lugar, porque esses conselhos sequer existem.
Por uma nova alternativa
É preciso construir outro caminho para a esquerda. A estratégia de conciliação de classes abriu as portas para o golpe parlamentar. Lula e o PT governaram o país junto com a corrupta elite econômica e política por 13 anos. Depois dos anos de bonança econômica, período no qual foi possível algumas concessões, veio a crise e a retirada de direitos. Agora, outra vez, demonstram que não aprenderam com a história: querem repetir os mesmos erros, formando uma Frente Ampla com setores de direita para as eleições de 2018.
Chegou a hora de construir uma nova alternativa de esquerda, para apresentar aos trabalhadores e ao povo um programa anticapitalista de transformação social e política. Um programa que tenha a coragem de enfrentar os ricos e poderosos. Nesse sentido, ganha ainda mais importância, para as lutas e as eleições, a construção da Frente de Esquerda Socialista com o PSOL, MTST, PCB, PSTU, movimentos sociais, sindicatos combativos, entre outros.
Foto: Daniela Orofino | Mídia Ninja
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