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Governo manobra com o resultado do PIB para buscar sobrevivência

(Brasília, DF 15/12/2016) Presidente Michel Temer durante reunião com Eliseu Padilha, Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República; Henrique Meirelles, Ministro da Fazenda e Dyogo Oliveira, Ministro interino do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Foto: Marcos Corrêa/PR

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Por: André Freire, colunista do Esquerda Online

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, no primeiro trimestre de 2017. Depois de oito trimestres sucessivos em queda, a maior recessão da nossa história, houve uma pequena recuperação na economia, com um crescimento raquítico, de apenas 1%. Segundo fontes do próprio IBGE, seria precipitado basear-se apenas neste resultado para identificar o fim da recessão em nossa economia. Afinal, são dois anos em que a economia vem amargando índices negativos, e o resultado de apenas um trimestre não é suficiente para afirmar que a situação já se inverteu.

O pequeno resultado positivo de agora se deve praticamente a um crescimento histórico na safra agrícola, que obteve uma elevação de 13%, neste trimestre. Além do resultado inédito do agronegócio, e alguns resultados menos expressivos no setor de exportação, segue um quadro recessivo em outros ramos da nossa economia. Dados do mesmo IBGE demonstram esse diagnóstico.

O setor industrial obteve um crescimento ainda menor do que o PIB de conjunto, de 0.9% em comparação ao trimestre anterior. Mas, o resultado da indústria em março foi desanimador, caindo 1,8% em relação a fevereiro do mesmo ano. O consumo das famílias também seguiu em queda em relação aos resultados anteriores, agora com um resultado negativo de 0,1%.

A taxa de investimentos no país também caiu 1,6% neste trimestre, o pior resultado desde 1996. Ou seja, embora exista uma pequena melhora, não há nenhum motivo para toda a comemoração que o governo busca fazer via a grande imprensa.

O Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já afirma que o resultado do PIB neste trimestre é “histórico”. O próprio presidente corrupto e golpista Michel Temer afirmou que o resultado do PIB já representa que “o país saiu da recessão”.

As declarações de Temer e Meirelles são uma verdadeira provocação. Justamente quando o desemprego bate recordes atrás de recordes em nosso país, já superando os 13%. Lembrando, inclusive, que estes índices são bastante imprecisos e, na verdade, existe um desemprego ainda muito maior na realidade.

O que assistimos hoje foi um governo ilegítimo, impopular e corrupto, buscando uma “tábua de salvação” em resultados bastante parciais da economia para buscar ganhar alguma sobrevida, depois que a população rejeitou massivamente seu programa de reformas reacionárias, e ainda todos e todas se escandalizaram com o envolvimento direto de Temer nas “negociatas” com a JBS.

O governo quer usar ainda o resultado do PIB para aumentar a pressão no Congresso para que ele retome imediatamente as votações das reformas trabalhista e previdenciária. Sua receita para sair da crise econômica é jogar todo o peso dela nas “costas” do povo trabalhador, mas a decisão dessa guerra será nas ruas.

Na próxima segunda-feira, dia 5 de junho, as centrais sindicais voltam a se reunir em SP. E, em Brasília, acontecerá uma importante reunião para organizar a campanha pelas “Diretas Já” – convocada pela Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular.

Ambas as reuniões devem se posicionar pela realização de uma nova Greve Geral, ainda esse mês. Essa nova Greve Geral – que deve ser mais forte do que a realizada no dia 28 de abril – deve ter como bandeiras principais a derrota imediata das reformas reacionárias, o Fora Temer e as Diretas Já, em nossa opinião, não só para Presidente, mas também para todo o Congresso.

Um Plano de Emergência dos trabalhadores, para combater a crise
Ao contrário da política econômica a favor das grandes empresas e bancos, que infelizmente foi praticada também nos governos do PT, e agora é intensificada pelo governo ilegítimo de Temer, a classe trabalhadora deve apresentar seu plano alternativo.

Nada de reformas reacionárias que ataque os direitos da maioria do povo e nem medidas paliativas. Precisamos de uma política econômica totalmente oposta a praticada pelos governos dos ricos e poderosos. É necessário ter coragem política de combater as injustiças sociais e fazer com que percam as grandes empresas e os bancos com seus lucros exorbitantes, para que a maioria da população, os trabalhadores e a juventude, possam ter uma vida melhor.

É urgente a suspensão imediata do pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, para que seja realizada uma auditoria realmente independente. Praticamente metade do Orçamento anual da União é consumida para o pagamento dos encargos dessa dívida, que na prática, devido aos seus juros criminosos, já foi paga há muito tempo.
Com esse dinheiro, que deve parar imediatamente de ir para os cofres dos banqueiros nacionais e internacionais, devemos propor que se dobre os investimentos imediatos em saúde, educação, transporte, saneamento e moradia. Realizar um grande plano de obras públicas nacional, que garanta a construção de escolas, hospitais, casas populares e estrutura de saneamento básico.

Obras que sejam realizadas por uma empresa pública nacional, estatal e sob o controle dos trabalhadores e do povo, para que acabe com a farra de corrupção das empreiteiras e jamais entreguemos as nossas obras públicas para empresas estrangeiras.

É necessária uma ampla reforma tributária popular, que sobretaxe as grandes fortunas e heranças, aumente os impostos dos que tem muito, para que o povo trabalhador pague menos impostos.

Só com medidas como estas que teremos condições reais de investir em uma reforma agrária, para atacar o grande latifúndio e para tenhamos realmente às terras no Brasil cumprindo sua função social, que é produzir alimentos de qualidade e baratos para atender a maioria da população, e não servindo mais para enriquecer os grandes empresários e o agronegócio.

E, como a mesma importância, realizar uma reforma urbana, que ataque a especulação imobiliária nas grandes cidades brasileiras e priorize a construção de moradias populares.

Para combater o desemprego, devemos propor a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, e acabar de uma vez com a famigerada terceirização da mão-de-obra.

Somente um governo dos trabalhadores e do povo teria coragem para aplicar medidas tão urgentes e necessárias como estas. Portanto, nos processos de luta contra Temer e suas reformas, precisamos construir e fortalecer uma nova alternativa de independência de classe, uma Frente de Esquerda e Socialista, sem a presença dos patrões e dos partidos da velha direita.

Já que a direção do PT segue optando pela conciliação com interesses das grandes empresas e se aliando com representantes de partidos da velha direita, essa frente deve unificar o PSOL, PSTU, PCB, movimentos sociais combativos como MTST e organizações socialistas ainda sem legalidade.

Esta frente política, nas lutas e nas eleições, deve ter a tarefa imediata de apresentar este Plano de Emergência, que realmente rompa a com a atual política econômica, para começarmos a construir um novo país, onde o povo trabalhador e a juventude possam viver dignamente.

Foto: Marcos Corrêa/PR

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