Editorial 31 de maio
Muitos parlamentares votaram pela saída de Dilma da Presidência em 2016, dizendo que essa era a vontade do povo. Mais de 60% da população queria o impeachment, os escândalos de corrupção pipocavam e haviam mais de 11 milhões de desempregados. Pois agora são 14 milhões de desempregados, os escândalos de corrupção atingem diretamente o presidente e 85% da população quer novas eleições diretas.
Mas, parece que a vontade popular não tem mais o mesmo valor para esses parlamentares. Os deputados e senadores, se quiserem, podem mudar a Constituição e convocar novas eleições. Mas a maioria quer as eleições indiretas, em que apenas deputados e senadores escolheriam o novo governante.
Por que esta mudança de postura? Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, deu a resposta ontem em um evento com investidores financeiros. Ele disse que a agenda da Câmara dos Deputados “tem como foco o mercado, o setor privado”. Ou seja, o que importa para eles é agradar os grandes empresários e banqueiros. E para isto, um novo governo sem votos seria bem conveniente. Principalmente em um momento que eles exigem a aprovação de projetos que retiram direitos, como as reformas trabalhista e previdenciária.
E os movimentos que foram às ruas em 2016?
Quem mudou de postura também foram os movimentos que no ano passado organizaram multidões pela saída de Dilma. Se naquela época o lema era “ou você vai [para as ruas] ou ela fica [Dilma]”, hoje os esses movimentos de direita pedem que o povo espere sentado na cadeira a renúncia de Temer.
Além disso, eles começaram o movimento “Indiretas, Já”, algo inédito na história da humanidade. Eles são contra novas eleições e querem que os deputados e senadores escolham o novo presidente. As desculpas são as mais absurdas possíveis. Alguns dizem é para Lula não ser eleito. Ora, por pior que o Lula possa ser, é ou não é direito do povo votar nele? Por que esses movimentos que dizem saber o que é melhor para o Brasil não apresentam seus candidatos? A vontade do povo só vale quando é conveniente?
Outra desculpa que eles usam é que não se pode mudar a Constituição para convocar novas eleições. Interessante que esses mesmos movimentos querem a mudança da Constituição para aumentar a idade para a aposentadoria. Emenda Constitucional para prejudicar o trabalhador pode, mas para garantir o voto popular não pode? Parece que para esses movimentos o foco também é “o mercado, o setor privado”.
A luta contra as reformas e as Diretas, Já
A luta por novas eleições já mobiliza uma parcela da população. No último domingo, milhares foram às ruas do Rio de Janeiro. As pessoas estão dispostas a lutar por uma das mais básicas liberdades democráticas: escolher seus representantes.
Isso se combina com a luta contra as reformas trabalhista e previdenciária. Não podemos ter ilusões no processo eleitoral. Mas, denunciar a falta de legitimidade de um governo que não foi eleito pelo povo fortalece a luta contra as reformas. E a demanda por novas eleições é a melhor forma de fazer isto.
E é por este motivo que tanto os parlamentares, quanto os movimentos de direita querem eleições indiretas. A convocação de novas eleições atrapalharia os planos deles e também dos banqueiros e grandes empresários, que querem usar a situação política para aumentar seus lucros.
Por isso, a importância de participar tanto da nova greve geral convocada contra as reformas, quanto dos atos por Diretas, Já. Enquanto o Congresso foge do povo e os movimentos de direita inventam desculpas, temos que colocar nosso bloco na rua.
Foto: Diretas Já
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