Por: Ítalo Coelho de Fortaleza, antiproibicionista do #MAIS
Lia Godoy, militante feminista antiproibicionista da RENCA (Rede Nacional de coletivos e Ativistas Antiproibicionistas)
Neste dia 28 de maio, a partir das 16h20, a orla da beira-mar de Fortaleza (CE) ficou tomada de verde. Mais uma vez, milhares de pessoas saíram de suas casas, em um domingo “bonito pra chover”, pra soltar o grito de legalização da maconha.
Como ocorre todos os anos, idosos, crianças, jovens, em sua maioria moradores das periferias da cidade, usuárias , ou não da planta, provocaram o debate acerca do encarceramento em massa agravado pela política do Estado brasileiro de “combate às drogas”. De fato, o que existe há quase 100 anos, é uma guerra às pessoas que usam determinadas substâncias consideradas ilegais. Ou melhor, o combate é bem mais preciso. Pela configuração das penitenciárias do país, é fácil deduzir que esta política tem como finalidade encarcerar a juventude negra e pobre, moradoras das favelas e comunidades carentes de assistência estatal nas áreas de saúde, educação e geração de emprego de qualidade. Muito pelo contrário, uma das poucas searas estatais a “assistir” estas comunidades é o controle do braço policial e jurídico, que tem no “combate ao tráfico” o melhor pretexto para calar as vozes de seus moradores por vida digna.
As emissoras de televisão reforçam dia a dia este estigma, enquanto lucram milhões de reais em audiência dos espetáculos macabros que são os “programas policiais”, que só servem para semear medo e ódio na cabeça dos trabalhadores e do povo pobre desempregado, que aceitam a desculpa esfarrapada que todo o caos social é culpa das drogas, e não a miséria, desemprego e falta e escolas e assistência social.
Estas mesmas emissoras têm contratos milionários com as fabricantes de cerveja, que fazem diariamente, em todos os horários, apologia ao uso do álcool, uma das drogas mais tóxicas e perigosas, entre legais e ilegais.
Libertem nosso povo
Sendo o sistema prisional o tema da Marcha, casos como o de Rafael Braga, condenado a 11 anos de prisão por porte de 0,6 g de maconha e 9g de cocaína (havia sido preso, nas manifestações de junho 2013 no Rio de janeiro por portar pinho sol) foram bastante lembrados. O Ministério da Justiça, em seu último levantamento, diz que 28% dos presos estão enquadrados no crime de “tráfico de drogas”. Porém, em sua grande maioria, as pessoas presas não fazem parte de organizações criminosas, estavam desarmados no momento da prisão, ou sequer tinham passagem pela polícia. Quase a metade (40%) das pessoas presas ainda não foi julgada! Enquanto os barões do narcotráfico estão freqüentando festas e aparecendo nas colunas sociais, ao lado de seus aliados políticos, empresários, entre outros.
A vida das MANAS importa
Com faixas, cartazes, bandeira e corpos pintados, a ala feminista da Marcha foi um destaque. As palavras de ordem como “não passo o beck pra machista” e “eu só quero é ser feliz, chapar tranquilamente com a droga que eu escolhi, e poder me assegurar, que chapada ou de cara ninguém vai me estuprar!”, as mulheres foram às ruas enfrentar o machismo que relega às mulheres usuárias uma pecha muito pior que o já batido “maconheira”. Muitas vezes, ser usuária de drogas se torna justificativa pra violar seus corpos e seus direitos. As manas vão às ruas lembrar que seus corpos são livres.
Além disto, a repressão ao tráfico tem nas mulheres suas vítimas prediletas. “Segundo o Infopen, em 2016 a população de presos brasileiros estava em 622.222 mil presos. Mais da metade delas, 58%, estão presas por tráfico de drogas. 30% delas são presas provisórias, ou seja, ainda aguardam julgamento.
O perfil é de mulheres negras (no Ceará, são 94%). Os números nacionais atestam que metade das mulheres presas tem entre 18 e 29 anos, se enquadrando no perfil de juventude. Apenas 11% concluíram o Ensino Médio e 50% tem o Ensino Fundamental incompleto. Mais da metade (64%) está presa por tráfico de drogas – em funções como armazenamento, embalagem e pequena distribuição”.
Maconha Medicinal: a saúde tem pressa
Novidade nesta edição, a ala medicinal da Marcha representou a luta das milhares de pessoas que são condenadas a tratamentos caríssimo e perigosos com remédios alopáticos, sendo envenenados pela indústria farmacêutica por não poderem plantar seu remédio em casa, ou ter acesso de maneira barata ou gratuita, para tratar diversas doenças, como Parkinson, câncer, AIDS, glaucoma, dores neuropáticas, entre outras.
Cuidar do próprio corpo da maneira que melhor lhe aprouver é um direito humano fundamental, portanto inalienável. A proibição das drogas, em especial a Maconha, condena estas famílias a buscarem tratamento de forma clandestina, sendo expostas a diversos riscos para adquirir, já que têm que frequentar as “bocas de fumo”, assim como, por não saber a procedência da planta, ingerir outros componentes usados para armazenar ou disfarçar o cheiro da maconha ilegal, como amônia.
Por isto, para fazer avançar a regulamentação da Maconha, na luta pelo direito à vida, saúde e liberdade, Fortaleza gritou bem forte: LEGALIZE, JÁ!
Foto capa: Ramó Alcântara
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