Por: Lucas Reis da Silva*, colunista do Esquerda Online
“Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
E fecundar o chão”
Cio da Terra – Milton Nascimento.
A despeito de não ser essa a melhor data para se comemorar o Dia do Trabalhador Rural, há algumas reflexões importantes a serem feitas na data. A importância de se pautar essa questão se dá por diversos fatores. Primeiro, porque no dia 24 de maio, dez trabalhadores rurais – nove homens e uma mulher – foram mortos na durante ação de despejo realizada por policiais no município de Pau D’Arco, na região de Redenção, Sudeste do Pará, a 860 quilômetros da capital Belém.
Segundo, reconhecemos que a data de hoje não seja a melhor data para comemorar o “Dia do Trabalhador Rural”, já que essa data foi instituída pelo Governo Militar, que nada avançou em reconhecimento de direitos a esse setor da classe trabalhadora e que as organizações dos trabalhadores celebram o dia do trabalhador rural em 25 de junho.
Entretanto, os diversos ataques aos direitos dos trabalhadores rurais nos motivam a denunciar as mazelas do golpe, inclusive nessa data.
Durante o ainda curto tempo como Auditor-Fiscal do Trabalho (profissão da qual MUITO me orgulho), SEMPRE me envolvi com a fiscalização do Trabalho Rural. Viajei de Norte a Sul desde país e conheci de perto a realidade do trabalhador no campo brasileiro.
Há algo que confesso ainda não saber bem o quê, que torna a opressão sofrida por esses trabalhadores ainda mais intensa. Não sei se o trabalho sob o sol e a chuva, não sei se foi a História que demorou a reconhecer a esses trabalhadores os mesmos direitos dos trabalhadores urbanos (o que aconteceu muito recentemente, só com a Constituição de 88)…
Não sei se o nível de escolaridade, de remuneração e de expectativa de vida ainda mais baixo desses trabalhadores… ou talvez seja tudo isso e outros fatores misturados…
E nesse momento em que se discutem duas reformas bastante perniciosas (trabalhista e previdenciária), que atacam de forma ainda mais contundente esse setor da classe trabalhadora, minha preocupação se potencializa.
Que essa data sirva para nossa reflexão a fim de construir uma sociedade mais justa, igual e fraterna, com mais respeito aos trabalhadores de cujas mãos saem o alimento de nossas mesas.
Pela valorização do Trabalhador Rural e pelo fim do Trabalho Escravo no Campo, não às reformas Trabalhista e da Previdência!
*Historiador e Bacharel em Direito. Auditor-Fiscal do Trabalho.
Foto: Café no Assentamento Pau d’ Arco. CPT Rondônia
Comentários