Por: André Freire, colunista do Esquerda Online
A ampliação do processo de resistência contra os ataques do governo Temer, principalmente a partir das grandes manifestações e dias de luta de março deste ano (8, 15 e 31) e, sobretudo, com a realização histórica da greve geral de 28 de abril, colocou em outro patamar a luta para derrotar as reformas reacionárias e para acumularmos forças para derrubarmos este governo ilegítimo.
O crescimento das lutas animou novamente milhares de ativistas, que já estavam presentes nas lutas contra o golpe parlamentar do impeachment e os primeiros ataques de Temer e Meirelles, ainda no ano passado; fez também surgir novos ativistas, principalmente estudantes e jovens trabalhadores e trabalhadoras, que querem derrotar o governo dos partidos da velha direita e grandes empresas, sustentado pela mídia oficial (principalmente, a famigerada TV Globo).
Entre os que lutam contra os ataques de Temer, cresce também a importante discussão sobre qual alternativa política temos que construir contra esse governo nefasto, que foi fruto de uma manobra reacionária deste Congresso Nacional, formado por uma maioria corrupta e conservadora.
Muitos ainda acreditam ser o melhor dar o apoio à candidatura Lula em 2018, através de uma frente ampla, para derrotar os apoiadores do golpe, apostando num novo rumo do PT; outros tantos já querem apostar numa nova alternativa da esquerda socialista, por exemplo, com a defesa da pré-candidatura do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) à Presidência da República, ou ainda apostam na possibilidade de que Guilherme Boulos (Coordenação Nacional do MTST) se disponha a construir uma nova alternativa política e eleitoral, já nas próximas eleições.
Este texto não é neutro neste debate. Ele parte da defesa convicta de que temos que apostar em uma nova alternativa que defenda, em primeiro lugar, a independência política do povo trabalhador.
Seguir apostando em Lula e no PT é ceder à velha receita das alianças com os partidos da ordem burguesa e com as grandes empresas e num programa rebaixado, que não se propõe a atacar o pacto histórico de preservação dos interesses das elites brasileiras.
A repetição dos erros dos quase 13 anos de governos do PT só irá preparar mais derrotas e desmoralizações no futuro para os trabalhadores, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos. É nisto consiste a chamada frente ampla, defendida pela direção petista, ou seja, uma proposta requentada de conciliação de classes.
Nossa aposta deve ser outra. Temos que desde já, não esperar 2018, construir uma nova alternativa política, uma verdadeira Frente de Esquerda e Socialista, formada pelos partidos da esquerda socialista – PSOL, PSTU e PCB; por movimentos sociais combativos, como o MTST; e por organizações socialistas ainda sem legalidade.
Mas, para a construção desta nova alternativa é fundamental adotarmos alguns eixos políticos básicos, que ajudem no seu desenvolvimento e no diálogo com a classe trabalhadora, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos, inclusive com aqueles que ainda acreditam no Lulismo.
Neste artigo, proponho alguns eixos políticos, mas o fundamental agora é abrir essa importante discussão com o conjunto da esquerda socialista brasileira. São eles:
Construir a Frente Única contra o governo ilegítimo de Temer e seus ataques
De forma sincera, temos que lutar diariamente pela construção e fortalecimento de uma ampla frente única para a ação, que busque, num primeiro momento, derrotar os terríveis ataques do governo de Temer. Mas, queremos que este movimento unitário se fortaleça cada vez mais, criando as condições para derrubar Temer e esse Congresso, antecipando eleições gerais em nosso país.
Não estamos interessados na disputa fratricida de “protagonismos”, seja entre centrais, frentes ou partidos. Devemos ser contrários, por exemplo, a ruptura de atos unitários e a resistência a construção de espaços comuns de discussão e de definição de calendários de luta.
Sem em nenhum momento deixarmos de apresentar publicamente nossas posições políticas, na ação concreta contra esses ataques, como agora na luta para derrotar as reformas reacionárias, realmente e honestamente, devemos ter como objetivo unir todos os setores que se opõe a estas medidas draconianas contra a classe trabalhadora e a maioria do povo.
Uma nova alternativa política que enfrente a velha direita, mas que supere também o Lulismo
Mas, não confundimos a necessária unidade para lutar contra os ataques de Temer e Meirelles, com a extensão dessa unidade na construção de uma alternativa política contra os governos, a velha direita e os patrões.
Somos contrários à proposta da direção do PT de construção de uma frente ampla em torno da candidatura Lula em 2018, uma nova alternativa de alianças com as grandes empresas e com partidos burgueses da velha direita.
Seria muito positivo que Lula e o PT estivessem realmente dispostos a mudar seu programa e rever a sua política de alianças com a velha direita para as próximas eleições. Mas, esta possibilidade, não existe.
Não é possível um novo rumo para o PT. Seja o balanço dos quase 13 anos de governos petistas de conciliação de classes e, principalmente, a política que a direção do PT mantém até hoje, demonstra que seu projeto se mantém o mesmo da chamada “carta ao povo brasileiro”, ou seja, reeditar um governo que aplica a mesma política econômica das administrações anteriores, de governar de acordo com os interesses das grandes empresas.
Por isso, defendemos a construção de uma nova alternativa política de independência de classe, uma verdadeira Frente de Esquerda e Socialista, que uma PSOL, PSTU, PCB, movimentos sociais combativos, como o MTST, e organizações socialistas ainda sem legalidade.
Defendemos essa construção a partir de um programa anticapitalista. E não a defendemos apenas para as eleições de 2018, mas desde já, construindo nacionalmente os espaços das frentes e, ou blocos de esquerda e socialista.
Contra todo o tipo de opressão, apontando um programa classista e socialista
Queremos construir cotidianamente, e com cada vez mais força, a luta contra toda e qualquer forma de opressão, seja ela contra negros e negras, mulheres, LGBTs, nacionalidades e povos, entre outras.
Nossa política deve ser cada vez mais importância à luta das mulheres contra o machismo, a violência e o feminicídio; Contra o racismo e a dita guerra as drogas, que na verdade a criminalização da pobreza, praticando um genocídio cotidiano da juventude negra nas comunidades carentes das grandes cidades brasileiras; e contra a homofobia que agride e mata diariamente homens e mulheres pelo simples fato de terem outra orientação sexual.
Na construção dessas mobilizações buscamos sempre a organização dos setores oprimidos para a luta, apresentando nosso programa classista e socialista, que tem como objetivo disputar a consciência da classe trabalhadora, para que ela atue de forma unificada contra as opressões.
Estrategicamente só o fim do sistema capitalista vai abrir as condições de que acabemos de uma vez por todas com os horrores do machismo, do racismo e da homofobia.
Avançar na unificação dos marxistas revolucionários em torno de um programa anticapitalista para o Brasil
Nossa proposta deve ser realizar, de forma aberta, o debate sobre o programa anticapitalista e socialista para o Brasil. atualização programática. Pois, entendemos que a tarefa de atualizar e construir o programa da esquerda socialista não é da militância de uma só organização.
Devemos lutar para reagrupar os marxistas revolucionários em torno de um programa anticapitalista e de uma organização política voltada prioritariamente para ação política n o movimento de massas. O objetivo é realizar esta tarefa sem ser sectários e auto proclamatórios.
A busca pela construção de uma organização comum entre a Nova Organização Socialista (NOS) e o Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (MAIS) é um dos exemplos importantes que temos que reivindicar. Devemos estar dispostos seguir este mesmo caminho com outros setores da esquerda socialista.
Por uma Plenária Nacional da Frente de Esquerda e Socialista
Em torno destes 4 eixos políticos e programáticos principais devemos desenvolver a construção e fortalecimento da Frente de Esquerda e Socialista. Eles são um ponto de partida, que não negam que deve haver outros pontos políticos importantes, que devemos discutir coletivamente.
Para avançar na construção dessa nova alternativa política, propomos a construção de uma plenária nacional da Frente (ou Blocos) de Esquerda e Socialista, que já se organizam em vários Estados.
Essa convocação deve partir destes pontos políticos iniciais, mas ele deve ter a ambição de avançar em um programa de emergência para a crise política, econômica e social em que vive o nosso país, uma saída classista, anticapitalista e socialista para o Brasil.
Foto: Greve Geral no Rio de Janeiro | Carol Burgos | Esquerda Online
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