EDITORIAL 10 DE MAIO
Nesta quarta-feira, 10 de maio, Lula irá prestar o primeiro depoimento presencial diante do Juiz Sérgio Moro. A capital do Paraná, Curitiba, é a sede da Operação Lava Jato, um projeto em curso com evidentes interesses políticos, econômicos e ideológicos.
A grande mídia não esconde sua parcialidade e faz das acusações contra Lula e o PT um espetáculo nacional. A Revista Veja exibe Moro e Lula com máscaras de super heróis. A Época apresenta três mil evidências contra Lula. Sim! Três mil. Ontem o Instituto Lula foi fechado por uma decisão judicial arbitrária de frágil fundamentação jurídica. Até agora são 267 réus na Lava Jato, mas nenhum deles teve tanta cobertura midiática e julgamento pré – estabelecido quanto Lula.
Estamos totalmente contra a prisão ou cassação dos direitos políticos de Lula. Mas não somos petistas, não apoiamos o projeto de conciliação de classes defendido e aplicado por Lula e pelo PT. Defender liberdades democráticas não é o mesmo que fazer a defesa política de um projeto.
O projeto petista precisa ser superado pela esquerda. Engana-se quem pensa que a Lava Jato é um atalho neste sentido. Ao contrário, a operação é parte de uma ofensiva reacionária que precisamos combater, sob pena de assistirmos a destruição de direitos políticos, sociais e trabalhistas da classe trabalhadora.
O espetáculo em Curitiba
A extrema-direita acusa o PT de fazer de Curitiba um palco político, ou nas palavras da Revista Veja um espetáculo de “Lucha Libre”. A verdade é justamente o oposto. Sob o comando do Juiz Sérgio Moro, as conduções coercitivas, os depoimentos, os acordos de delação premiada, as prisões preventivas são espetáculos midiáticos, e não apenas atos de um processo de investigação criminal.
Para os procuradores e juízes: toda a liberdade. A Lava Jato é conduzida num verdadeiro regime de exceção. Para aqueles que querem se manifestar neste 10 de maio: repressão e intimidação.
Não participaremos dos atos que ocorrerão hoje em Curitiba, temos outro projeto político e nenhum acordo com a defesa política dos mandatos do PT, ou da candidatura de Lula em 2018. Mas, não temos nenhum acordo com qualquer tipo de repressão. A extrema-direita divulgou imagens do treinamento da Tropa de Choque e do enorme aparato repressivo que está sendo preparado na capital paranaense. Repudiamos as restrições impostas até aqui, as perseguições nos ônibus que transportam as caravanas e qualquer tipo de violência por parte da Polícia Militar e do Estado em geral. A militância do PT e de todas as forças da Frente Brasil Popular têm o direito democrático de se manifestarem livremente sem a intimidação e a repressão policial.
Lula chefe da quadrilha?
Lula é acusado de ser chefe de uma quadrilha. Junto a essas acusações está a fundamentação de que o PT seria uma organização criminosa. Somos contra essas acusações a Lula e ao PT.
O processo apoia-se em centenas de delações dos executivos das principais empreiteiras do país. Nos depoimentos ficam nítidas as relações totalmente absurdas que o PT estabeleceu com o empresariado brasileiro. Mas essas relações não são uma inovação dos petistas, não são obra de uma quadrilha que chegou ao poder em 2002 e tentou perpetuar-se infinitamente. As relações entre as grandes empresas e a grande maioria dos políticos, entre interesses públicos e privados, são típicas do atual sistema, mais antigas que o próprio regime de 88.
O grande crime do PT foi ter “entrado no jogo da burguesia”, ter-se adaptado ao regime e à institucionalidade ao ponto de envolver-se até mesmo nos grandes esquemas de corrupção da burguesia brasileira. A relação degenerada entre construtoras e Estado Brasileiro vem desde a ditadura militar.
A hipocrisia é tamanha que o Instituto Lula foi fechado hoje por decisão judicial, mas a Odebrecht continua funcionando livremente e lucrando à vontade. A Lava Jato condena o sistema político, mas preserva as empresas corruptoras. Não poderá haver qualquer mudança positiva no regime que venha dos procuradores de Curitiba ou do poder judiciário. Ao contrário, o que estamos vendo são mudanças reacionárias, mais restrições democráticas e o desenvolvimento de um processo de exceção com apoio da grande mídia.
Não seria possível o golpe parlamentar sem a Lava Jato, e não são necessárias muitas linhas para explicar a importância chave que o golpe teve para aplicação das reformas. Os fatos falam por si, Temer é peça fundamental do ataque histórico que está sendo desferido contra os trabalhadores. Já passa da hora de enxergar a realidade de frente.
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Foto: Theo Marques / Fotoarena
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