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BRASIL

Dória começa a privatizar parques e coloca à venda o lazer do povo em São Paulo

Por Carolina Freitas, de São Paulo, SP

O prefeito de São Paulo, João Dória, iniciou hoje o processo de privatizações dos parques públicos da cidade. A partir de hoje, 14 parques estão liberados para serem concedidos à iniciativa privada, conforme anúncio da Secretaria de Desestatização e Parcerias, nesta tarde.

A transferência do patrimônio público da cidade e dos seus moradores às empresas é, por si só, absurda, porque oposta à ideia de um espaço que todos possam usufruir. Torna-se ainda mais absurda quando observamos como Dória está construindo o processo de privatização: sem qualquer regra definida!

A partir do lançamento desse pacote de parques, que é apenas o primeiro entre aqueles que o prefeito quer lançar para os 107 parques da cidade até o fim de 2017, a prefeitura vai analisar os projetos apresentados pelas empresas e quais serão as possibilidades de investimentos e de contrapartidas. Só depois das ofertas dos empresários é que a gestão Dória avaliará que modelo será submetido a cada parque, o que significa que deixará a cargo das empresas candidatas a sugestão de regras de gestão e exploração comercial dos espaços públicos.

Segundo o anúncio, serão privatizados, na zona sul da capital, os parques do Ibirapuera, na Vila Mariana; Chuvisco, no Jardim Aeroporto; e Independência, no Ipiranga. Na zona oeste, foram lançados às empresas os parques Buenos Aires, em Higienópolis; Cemucam, na Raposo Tavares; e Jockey, no Butantã. Na zona norte, os parques Anhanguera, em Perus; Cidade Toronto, em Pirituba; e Vila Guilherme, no bairro de mesmo nome. Na zona leste, os parques anunciados foram o do Carmo, em Itaquera, e o da Vila Prudente. No centro, os parques da Aclimação; o Jardim da Luz, no Bom Retiro; e o Trianon, em Cerqueira César.

A mercantilização dos parques, desde a gestão administrativa até a organização de seus eventos e serviços, implica a exclusão de seu uso pelo povo trabalhador pobre, que não será público alvo consumidor dessas empresas. Os parques são locais de lazer, confraternização e descanso para as crianças, as famílias, a juventude, os idosos; para quem trabalha a semana toda; para quem ainda pode frequentar áreas verdes comuns, em vez de shoppings e lojas de departamento; para quem tem hábito de usar, durante o fim de semana, outros lugares da cidade onde não mora nem trabalha. Esses espaços serão esvaziados de seu valor de uso. Vão se tornar, apenas e cada vez mais, empreendimentos comerciais e imobiliários.

Dória discursa que a iniciativa privada vai cuidar melhor dos parques do que a prefeitura. Que privatização e concessão são coisas diferentes. Mas, na verdade, aproveita que os espaços e serviços públicos são ruins para deixá-los ainda pior com o corte violento de orçamento e, assim, justificar a repartição do patrimônio da cidade aos seus amigos milionários. Não podemos cair nessa armadilha!

Reivindicar o direito de ocupar São Paulo para usos que vão além da circulação obrigatória que o trabalho impõe é, mais do que nunca, necessário. Resistir ao projeto de Dória de transformar a cidade num grande negócio é afirmar que preferimos a alegria, a brincadeira, o exercício, o encontro das pessoas em oposição ao lucro do capital. O lazer do povo não pode ser vendido.