Por: Sônia Conti, do ABC, SP
Quem entra para a vida pública o faz por vontade própria. Escolheu ser um representante da sociedade. Portanto, deveria fazer com dedicação de forma a propiciar o bem comum desta sociedade, para resolver e atender às necessidades da população em geral e não em proveito próprio. Este deveria ser o princípio de todo homem ou mulher que escolhe participar da vida política e pública.
Infelizmente, o que temos visto é que nas campanhas eleitorais muito se promete e depois pouco se cumpre. Os governantes, em sua ampla maioria, governam para seus interesses e para os interesses das elites que os mantêm: bancos e empresários poderosos. Não governam para os interesses dos trabalhadores. Para estes, pouco ou nada se faz. A grande maioria, após ser eleita, reduz promessas a migalhas distribuídas em alguns bairros que muitas vezes servem apenas como vitrine.
A grande desculpa é ter encontrado os cofres públicos quebrados. Diga-se de passagem, quebrados por ela própria, com corrupção, má gestão, desvios de verbas, apadrinhamento político. Mais uma vez é o que se ouve neste começo de mandato nas cidades do Brasil. Em São Bernardo do Campo, não está sendo diferente.
Orlando Morando (PSDB) assumiu em janeiro com muitas promessas, mas já apontando que recebeu de seu antecessor a cidade quebrada. No balanço dos 100 primeiros dias de seu mandato, destacou o ensino de qualidade em tempo integral, com as escolas oferecendo além da grade regular, aulas de inglês, cultura e esporte, além de promessas de zerar a fila de 70 mil exames e consultas médicas. Assim como em relação aos atendimentos de saúde bucal, que têm uma fila de espera de seis mil pessoas. Prometeu zerar a fila em 120 dias. A fila de consultas médicas e exames, segundo o prefeito, será zerada em quatro meses, sendo utilizadas, para isto, clínicas particulares, a um preço “honestíssimo”.
Falou sobre o programa de limpeza e manutenção de passeios públicos. Apontou a regularização de moradias, a melhoria de praças e parques. Também fez promessa de geração de empregos e renda, combate a enchentes e à dengue no município, entre outros. Mas, o que vimos acontecer nestes primeiros cem dias de governo?
EDUCAÇÃO – A Prefeitura de São Bernardo ainda não deu início a entrega de 84 mil kits de material escolar adquiridos em 08/04, para estudantes da rede municipal. Não entregou uniforme no início do ano letivo como prometido em campanha eleitoral. A entrega dos kits de uniformes, que neste ano será feita somente para novos alunos da rede municipal, deve ocorrer somente no segundo semestre.
O projeto que ampliaria a carga horária de ensino de cinco para nove horas diárias, contando com disciplinas alternativas, como robótica, grupos de estudos e línguas estrangeiras, está atendendo até o momento 1.174 crianças de zero a 10 anos em cinco escolas da cidade. (Que não sejam as tais vitrines) Segundo dados da prefeitura existem 111.378 crianças nesta faixa etária. Apenas 1% está atendida até o momento.
CULTURA – Devido ao descaso da atual gestão de São Bernardo em relação à Cultura, artistas representantes do Cajuv, Clac, CAV, e artistas de rua preocupados com o desenvolvimento cultural, intelectual, criativo e social do município, realizaram movimentos contra o desmanche da cultura no município dia 12 de abril, em frente a Coordenadoria de Ações da Juventude, a CAJUV, vinculada à Prefeitura de São Bernardo do Campo. Eles são contra o fechamento da secretaria e de outros espaços culturais, além do congelamento do orçamento para a cultura na cidade.
Depois de vetar as apresentações de Gal Costa e Djavan, que seriam no dia 17/02, no Pavilhão Vera Cruz – alegando que o local não tem alvará de funcionamento. O órgão municipal não autorizou, para as datas solicitadas, os shows de Maria Gadú e Ana Carolina, marcados para 4 de março, e de Luan Santana, para o dia 10/03, no Ginásio Poliesportivo Adib Moysés Dib. Desta vez, a alegação tem relação a prazos. Para os shows de Gal Costa e Djavan há notícias de que foram transferidos para Santo André, assim como os demais citados acima.
Não podemos esquecer das batalhas de Hip-Hop que sofrem com repressão da GCM e PM. Estas batalhas, que acontecem nas praças da cidade, são de muita importância para os jovens, na sua maioria negros e moradores da periferia, sem acesso a outras manifestações culturais. Orlando Morando segue a mesma política higienista de Dória, perseguindo grafiteiros, artistas de rua, artesãos, e qualquer tipo de cultura que seja de iniciativa da população das periferias da cidade.
SAÚDE – No quesito saúde, moradores de diversos bairros de São Bernardo apontam a falta de medicamentos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Remédios comuns para tratar de pressão alta e diabetes e até mesmo analgésicos, não são encontrados na rede pública de Saúde do Município, com estoques cada vez mais escassos.
O medicamento Losartana indicado para o tratamento da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca e de uso diário não é encontrado. Os pacientes da unidade Alvarenga que sofrem com hipertensão arterial também não podem contar com o Atenelol, destaca a aposentada Maria José de Carvalho, 63, em noticiário local. Outro medicamento em falta é o Euthyrox. O item é utilizado no tratamento do hipotireoidismo.
O tratamento dos diabéticos também é prejudicado na rede municipal. A Metformina, utilizada para reduzir os níveis de açúcar no sangue, está em falta na unidade Alvarenga. Em outros locais da cidade, como na UBS Rudge Ramos, também não se encontra a fita utilizada para o exame específico.
Outro medicamento em falta é o omeprazol, utilizado no tratamento de úlceras e gastrite. O ácido fólico também está em falta no sistema. Em algumas UBS, não bastasse o desabastecimento dos remédios de uso prolongado, não existe analgésicos como a Dipirona em estoque.
Nos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial União/Alvarenga, segundo relatos, não são encontradas a Sertralina, um antidepressivo utilizado no tratamento de transtornos como a síndrome do pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo ou do estresse pós-traumático.
Nas UBS do Alvarenga, há relatos de pacientes que esperam há mais de um ano por uma consulta com dentista e oftalmologistas.
Também não podemos esquecer que o hospital de clínicas não é utilizado em toda sua extensão. O Hospital do Funcionalismo continua com suas obras paradas e o atendimento do Instituto Municipal de Assistência ao Funcionalismo funciona de forma precária, com vários cortes de especialidades médicas e laboratórios de análises clínicas. No lugar de contratar clínicas particulares, poderia contratar médicos.
AO INVÉS DE CRIAR, TIRA EMPREGO – Fazendo parte do programa de higienização da cidade, depois de 36 anos em funcionamento, a Feira de Artesanato da praça Lauro Gomes no centro de São Bernardo, foi fechada. Neste momento de crise, sem nenhuma sensibilidade, foi tirado o trabalho dos artesãos. A proposta, de autoria do prefeito, foi aprovada na sessão da Câmara de 08/02. Os comerciantes não voltarão para o mesmo espaço e a Prefeitura ainda analisa nova área para comercialização.
Nas avaliações mais otimistas o nível de desemprego deve continuar alto ainda nos próximos anos. Principalmente na indústria automobilística, que é o forte da região. Para agravar com os retrocessos das “reformas” trabalhista e previdenciária muitos trabalhadores viverão situações precárias de emprego, sendo que os novos empregos prometidos dificilmente serão de relação direta, provavelmente se darão através de terceirização, já que há muito tempo não são abertos concursos públicos e as empresas não estão contratando.
ÁGUA SUJA – Na cidade, muitos reclamam da qualidade da água, que chega às torneiras das residências.
Lista de reclamações apresenta, por exemplo, alterações na cor da água nos bairros Jardim Silvina, Vila São José, Parque Seleta, Rudge Ramos, Vila Vivaldi, dos Casa, Detroit, Pauliceia, Taboão e Assunção.
Operando no município desde 2003, a SABESP assumiu os serviços de fornecimento de água e coleta de esgoto, que eram prestados pelo DAE (Departamento de Água e Esgoto).
Orlando Morando evita citar o pedido de criação de CPI para investigar a empresa em São Bernardo. “Não me cabe opinar sobre decisões da Câmara, mas o instrumento não pode ser vulgarizado”, frisou Morando. Para ser aberta a CPI faltam assinaturas de parlamentares da base aliada que dizem que o texto é palanque político. Mesmo assim, duas CPIs já foram instaladas. Uma que investiga o contrato da PPP (Parceria Público-Privada) do lixo e outro que analisa a prestação dos serviços pela AES (concessionária de energia elétrica)
MELHORIAS NA CIDADE – Podemos notar, sem grande esforço, que os bairros periféricos continuam sem ou pouca varrição de ruas, transporte que continua deficitário e caro, sem atividades culturais e outras melhorias que existem em bairros nobres. Obras paralisadas que causam transtorno na mobilidade, incluindo as obras de combate a enchentes como o piscinão do Paço.
DESVALORIZAÇÃO DO FUNCIONALISMO – Prometendo a valorização do funcionalismo, o que se vê há muito tempo são seus salários serem corroídos pela inflação, além da falta de plano de carreira e outros benefícios.
Em assembleia da categoria realizada em7/4, os trabalhadores rejeitaram a proposta apresentada pelo governo municipal. A categoria considerou que a proposta de reposição salarial, 5%(incluindo a inflação do período) sobre os salários de outubro (pagamento em novembro), sem retroatividade ou abono compensatório (nossa data base é março), aumento do auxílio-alimentação de R$10,00 para R$12,00 e auxílio-transporte de R$80,00 para R$100,00, não atende às expectativas e necessidades dos trabalhadores.
O que são 100 dias?
Cem dias, na opinião de muitos, é pouco para que se façam cobranças. 100 dias também é muito, para que pouco se perceba as mudanças tão prometidas.
A alegação para tudo que não está sendo feito é falta de verbas. Mas o anúncio de isenções fiscais continua existindo para o empresariado, sob a alegação de geração de emprego por parte das empresas, mas já sabemos que isto não garante mais empregos na região ou impede demissões. Como sempre, abrem mão de arrecadação em benefício do empresariado e apresentam um pacote de austeridade para o cidadão comum.
Anuncia uma economia de R$ 1.000.000,00 por dia e usa verbas para propaganda paga na mídia televisiva. Poderia utilizar este dinheiro na compra de remédios, por exemplo.
Intimidação ao funcionalismo, um dia antes da greve geral
“É fundamental o respeito ao direito constitucional de liberdade a todos de expressar suas ideias e seus pensamentos de maneira democrática e ordeira. Por outro lado, o nosso papel é prestar serviços na Saúde, Educação, atendimento de urgência e emergência, razão pela qual se faz necessário garantir que esses serviços funcionem de maneira ininterrupta, com a presença dos funcionários públicos nos seus devidos postos de trabalho. Os problemas políticos que atravessam o país não podem impedir os direitos do cidadão a serviços públicos, principalmente de uma cidade da grandeza de São Bernardo. Contamos com a colaboração e empenho de todos que ajudam a manter a administração e a cidade em funcionamento”. Este comunicado foi publicado em 27 de abril na página do Facebook de Morando.
É preciso avisar ao prefeito que os “problemas políticos” impedem a utilização dos serviços públicos de qualidade na medida em que estes “problemas” tiram trilhões da saúde, da educação, da moradia, da cultura, através do superfaturamento de obras e desvios de verbas dos cofres públicos, através das isenções fiscais, a não cobrança das dívidas de bancos como a não taxação das grandes fortunas.
Os tais “problemas” são a corrupção, a desigualdade social, a reforma da previdência, reforma trabalhista a reforma política, que vão acabar com nossos direitos conquistados com grandes lutas.
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