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EDITORIAL

Nossas tarefas após a greve geral

Editorial 02 de maio

A greve geral que ocorreu no dia 28 de abril foi um acontecimento histórico que só foi possível ser realizada pelo fato dos trabalhadores terem avançado na compreensão do significado do Governo Temer e suas reformas, a consciência se transformou em ação. Soma-se a isso de forma qualitativa o fato das Centrais Sindicais e movimentos sociais terem formado uma frente única para lutar contra os ataques do governo e do congresso. Esses elementos objetivos e subjetivos criaram as condições para a realização de uma ação unificada num país de dimensões continentais como o Brasil. É unânime a caracterização que a greve geral foi vitoriosa e que a luta tem que continuar ganhando ainda mais força para derrotar a determinação do capital em saquear direitos sociais e democráticos.

A unidade entre as centrais, movimentos sociais e as mobilizações unificadas precisam continuar

As centrais sindicais, movimentos sociais, organizações políticas e o ativismo em geral organizado ou não possuem muitas responsabilidades nesse momento. A primeira e mais importante delas é manter o caráter de frente única na construção de calendários unificados de luta e a exigência que o congresso retire da pauta as reformas trabalhistas, previdenciária e revogue a lei das terceirizações. Não há espaço para negociar nada nesse momento, agora é intensificar as mobilizações considerando um novo dia de greve geral de 48 horas e também a possibilidade de ocuparmos Brasília com uma grande caravana nacional. É preciso discutir o que é mais tático para unificar o movimento respeitando a opinião e os ritmos de cada setor, mas a continuidade da luta unitária é indiscutível e seria uma irresponsabilidade e uma traição completa recuar agora. Essa semana as centrais sindicais vão se reunir, esperamos que um calendário unificado de lutas seja acordado para esse mês e que possamos parar o Brasil novamente.

Fortalecer o trabalho de base
Outra tarefa fundamental é aprofundar, fortalecer e dar ainda mais capilaridade ao trabalho de base em todos os locais de trabalho, nas fábricas, bancos, refinarias, garagens, escolas, universidades, lojas, etc… Precisamos ganhar mais e mais trabalhadores para um novo calendário unificado, a grande imprensa vai continuar fazendo uma forte propaganda a favor das reformas e contra as manifestações. Estudar as consequências das reformas e levar informação correta para os trabalhadores para desconstruir as mentiras da grande imprensa e da direita é fundamental para não deixarmos o movimento perder força e para ganharmos mais adesão.

Atenção para o papel da violência policial, dos serviços de inteligência e da grande mídia
A burguesia quer dar um salto de qualidade na exploração, querem uma mão de obra mais barata para diminuir os custos da produção e ganhar condições privilegiadas para disputar mercados internacionais que estão cada vez mais escassos por conta da crise econômica. É um projeto internacional. Estão ainda mais vorazes e dispostos a não medir consequências para aplicar o ajuste fiscal pra valer no Brasil, nem que para isso aumentem a violência policial e ataquem as liberdades democráticas.

A violência do estado não atua somente jogando bombas contra as manifestações, mas também através dos serviços de inteligência que se infiltram para gerar confusão e ações precipitadas. Atuam de forma combinada com a grande mídia para desmoralizar e isolar o nosso movimento em relação a opinião pública. Neste momento, interessa para eles, para a classe dominante, que as mobilizações terminem em pancadaria e a grande mídia tenha cenas de violência para divulgar intimidando à adesão de mais trabalhadores à novos protestos, causando medo e isolamento.

Em relação aos enfrentamentos nas ruas a primeira tarefa é organizar a autodefesa para evitar que os ativistas sejam atingidos pela violência policial, quanto mais as manifestações incomodarem maior será a repressão e a violência do estado. Unidade, planejamento e ação coletiva são decisivas para a classe trabalhadora neste momento.

Parte central de nossas tarefas também precisa ser a denúncia da violência policial do estado. Preparar equipes responsáveis para filmar e fotografar as ações da polícia nas manifestações é muito importante, precisamos de uma imprensa que conte a verdade sobre os enfrentamentos, como fez o Mídia Ninja em diversas coberturas importantes desde os protestos de junho e como também vem fazendo o próprio Esquerda Online. Em geral a grande mídia está ali para colaborar com a própria polícia.

Organizar debates e atividades de propaganda que denunciem a violência policial nesse momento é primordial para ganhar a opinião pública e constranger as forças de repressão. Precisamos envolver mais gente, reunir entidades dos direitos humanos, advogados, personalidades, etc.

A construção de uma alternativa política é decisiva
A nossa estratégia não pode ser 2018. A estratégia precisa ser a derrubada do governo ilegítimo de Temer agora, a partir de um calendário de mobilização unificado. Essa deve ser a prioridade das centrais sindicais nesse momento. Caso não derrotemos o governo e as reformas agora, em 2018 todos os projetos que atacam os trabalhadores e nos fazem retroceder 70 anos já estarão aprovados.

A conciliação de classes não é o caminho
O cenário político do país tende à polarização, com Lula e Bolsonaro crescendo nas pesquisas eleitorais. Nossa tarefa é construir uma alternativa pela esquerda ao lulismo. Não podemos repetir os erros da conciliação de classes. Precisamos tirar lições do golpe parlamentar, o projeto das mediações, do “Brasil de todos” faliu, chegou à um esgotamento.

Não podemos menosprezar o crescimento da ultra direita que se expressa na figura de Jair Bolsonaro. Contra ele, toda unidade. Não podemos deixá-los crescer. Mas isso não nos faz ter o mesmo projeto político do PT. Estamos convictos que uma alternativa pela esquerda é vital.

A esquerda socialista precisa apresentar uma saída política para a crise com um programa de ruptura com o capital. É tempo de construí-lo nas ruas e nas lutas.