Por: Natália Felix e Paulo Edyr Bueno de Camargo, de Campo Grande, MS
Campo Grande viveu no dia 28 de abril um dia histórico que ficará marcado na memória da multidão que se dispôs a lutar pela manutenção de seus direitos. A marcha contra as reformas da Previdência e Trabalhista propostas pelo governo Temer (PMDB) movimentou a cidade de pouco mais de 800 mil habitantes: cerca de 70 mil pessoas fizeram ecoar a voz da resistência pelas principais ruas da capital. Além da passeata, outras atividades foram desenvolvidas, como o bloqueio das estradas de maior fluxo do estado e a adesão dos trabalhadores do transporte público à greve geral, o que ampliou o impacto das manifestações.
No dia 15 de março a cidade já havia sediado protestos contra a Reforma da Previdência quando outra marcha, com 10 mil pessoas, chamada por diversos sindicatos e movimentos sociais encerrou-se com um acampamento em frente ao condomínio onde mora o Deputado Federal Carlos Marun (PMDB), presidente da comissão da Reforma da Previdência. O acampamento durou dois dias e os manifestantes foram retirados do local por um mandado de reintegração de posse. Participaram deste ato os sindicatos dos professores de Mato Grosso do Sul e da cidade de Campo Grande, sindicato dos trabalhadores públicos federais do MS, o MST, movimentos indígenas e trabalhadores da cultura. Desde então, o dia 28 de abril vinha sendo construído pelos movimentos e coletivos.
A adesão só fez crescer e na última sexta-feira o ato contou com muitos outros sindicatos, movimentos e coletivos. Participaram os sindicatos dos policiais civis, dos trabalhadores da construção civil, dos trabalhadores da educação, da enfermagem, dos médicos, dos Correios, servidores públicos federais, servidores do judiciário, professores e funcionários da universidade estadual, bancários, entre outros. Os movimentos sociais presentes também foram os mais diversos: integrantes da marcha mundial das mulheres levaram para rua a batucada de suas latas, movimento negro e o LGBT marcaram presença, estudantes participantes do RECC agitaram suas bandeiras negras, entre outros. Colocou-se em prática o que dizia Leon Trotsky: marchar separados, lutar juntos. Os trabalhadores do transporte público também participaram dos protestos e os ônibus, única forma de transporte coletivo da cidade, não saíram das garagens antes das 8h30. Os terminais ficaram boa parte do dia fechados.
O movimento dos trabalhadores da cultura também participou da manifestação e os grupos Teatro Imaginário Maracangalha e Teatral Grupo de Risco produziram performances especiais para a ocasião. O Maraca, como é carinhosamente chamado o Teatro Imaginário Maracangalha, foi de abre-alas da passeata, entrando nos comércios, tomando de assalto a população, incitando-a a reagir frente à retirada de seus direitos. Já o Teatral Grupo de Risco lembrou o histórico coronelista do estado encenando as opressões sofridas pelo povo sul mato grossense debaixo do chicote do agronegócio. Este movimento tem acrescentado à luta social a beleza e a pujança lírica da arte socialmente engajada e por isso Campo Grande muito lhes agradece.
O momento mais comovente da caminhada foram as trabalhadoras e trabalhadores do comércio saírem às calçadas e darem apoio aos manifestantes. Mesmo com todo o trabalho da mídia em nos transformar em inimigos, eles compreendem que não há léguas a nos separar; eles entendem que é preciso lutar.
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