Por: Bruna Bezerra, de Recife, PE
As ruas vazias
Quem estava acordado nas primeiras horas da última sexta-feira, dia 28, na Região Metropolitana do Recife, logo percebeu que aquele não seria um dia qualquer: o silêncio das ruas vazias denunciava que havia algo acontecendo. Escolas e universidades públicas e particulares, supermercados, agências de banco, restaurantes e uma parcela importante do comércio estiveram de portas fechadas. Não que isto fosse surpresa. A Greve Geral foi virando assunto de inúmeras conversas no transporte público e nos locais de trabalho, nas escolas e universidades, nos bares, nas igrejas (e até nas procissões), sem falar das correntes de “Zapzap” e do “Face”. Muitas foram às reuniões, assembleias, acordos. Milhares de panfletos foram rodados e entregues para a população.
Quem parou
A Greve Geral no Grande Recife teve sua dinâmica ditada pela paralisação dos trabalhadores rodoviários. Na quarta-feira (26) , a Urbana-PE, sindicato patronal, declarou que puniria os trabalhadores que paralisassem devido à Greve Geral. Na quinta (27), a Justiça determinou que, nos horários de pico, 50% da frota deveria circular e nos demais horários, deveriam ser 30%, mas o dia amanheceu e não havia ônibus nas ruas. Nas garagens das empresas de ônibus, muitos trabalhadores sequer compareceram e os que foram, não saíram. No decorrer da manhã, algumas empresas de ônibus liberaram seus trabalhadores para voltarem para casa.
Durante a tarde, contrariando as declarações da direção do Sindicato dos Rodoviários (da Força Sindical), de que os ônibus voltariam a circular, a categoria manteve a paralisação: nenhum ônibus na região do Grande Recife durante 24h. “Aqui na nossa garagem não saiu ônibus, estão todos de braços cruzados, unidos e em defesa dos direitos dos trabalhadores. Continuaremos parados até o final do dia, não sairá nada. E conto também com o apoio de todos os trabalhadores de todas as categorias” declarou Josival Costa, motorista da empresa Transcol e ativista da categoria.
Os metroviários também se somaram ao movimento e paralisaram suas atividades, mesmo com decisão judicial determinando o funcionamento normal do Metrô nos horários de pico. O funcionamento, em capacidade reduzida, foi mantido pela gerência, que deslocou profissionais de outras áreas para manejar os trens, comprometendo a segurança dos trabalhadores e dos próprios passageiros.
Outras importantes categorias se uniram à luta. Canteiros de obra foram interditados já na quinta-feira à noite, pois os trabalhadores da Construção Civil também se uniram ao chamado de Greve Geral. Bancários, funcionalismo público federal, estadual e de vários municípios do estado, trabalhadores dos Correios, servidores do judiciário estadual e federal, petroleiros, metalúrgicos, policiais civis e policiais rodoviários federais, profissionais da educação básica e superior, pública e privada, aeroportuários, profissionais liberais, agentes penitenciários, trabalhadores da construção pesada e outras categorias paralisaram suas atividades.
As ruas fechadas
Além das paralisações, também desde a madrugada, o MTST, movimentos feministas, o MST e outros movimentos sociais também bloquearam parcial, ou completamente, as vias em diversos pontos da Região Metropolitana, como nas avenidas Conselheiro Aguiar e na Avenida Recife, que dá acesso ao aeroporto; na BR 232. próximo ao Curado e em outros pontos; em três pontos da BR 101, em Jardim São Paulo e em Ipojuca e na Avenida Caxangá; na PE 60. Cabo de Santo Agostinho, além da Avenida Norte e da Avenida Cruz Cabugá, no Centro.
Houve bloqueios de rodovias por todo o Interior de Pernambuco. No Sertão, a BR 428 foi fechada em Santa Maria da Boa Vista, assim como a BR 407, em Petrolina. Na região Agreste, houve bloqueio da BR 232 na altura de São Caetano, em dois pontos da BR 104 em Caruaru e em Agrestina e na BR 423 em Águas Belas. Na Zona da Mata foram trancadas a rodovia PE 90, entre Limoeiro e Bom Jardim, a PE 95, entre Limoeiro e Passira, a PE 50, entre Glória do Goitá e Vitória de Santo Antão, a BR 408. em Paudalho e entre Carpina e Timbaúba e a BR 232, em Escada e em Vitória de Santo Antão).
As ruas lotadas
Mesmo sem nenhum ônibus ou metrô funcionando, ocorreu um ato de rua bastante numeroso: mais de 200 sindicatos aderiram e, mesmo havendo divergência em relação à quantidade de manifestantes, a CUT-PE estima que 200 mil pessoas estiveram presentes. A partir desta estimativa, sinaliza que este seria o maior ato de rua realizado no dia de Greve Geral no país.
O protesto teve concentração na Praça do Derby a partir das 14h e se encerrou aproximadamente às 19h30, percorrendo a Avenida Conde da Boa Vista e terminando na Avenida Guararapes. Durante a manifestação, palavras de ordem contra o governo Temer e o Hino Nacional foram entoados. Também se via cartazes com fotos e nomes dos 16 deputados federais de Pernambuco que votaram a favor da Reforma Trabalhista. O governador Paulo Câmara (PSB) também sofreu críticas.
Em Recife, as ruas deram o tom desta Greve Geral. O apoio da população foi intenso e se expressou tanto no silêncio das ruas da cidade por conta da adesão à paralisação no início do dia, quanto nas palavras de ordem que ecoaram fortemente na manifestação massiva que tomou a Avenida Conde da Boa Vista em seu final. De fato, algo estava acontecendo: as reformas deste governo ilegítimo encontraram seus legítimos combatentes, a classe trabalhadora organizada, as mulheres, os indígenas, as LGBTs, os negros e negras. E em Recife não foi diferente.
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