Por: Luiz Harias, de Belém, PA
O dia 28 de abril começou cedo em Belém. Nas primeiras horas do dia, ativistas dos movimentos sociais, sindicalistas e integrantes do movimento estudantil já se dirigiam para a frente de vários locais de trabalho para realizar os piquetes nos portões de entrada. Antes do sol nascer, a UFPA e a UFRA já estavam com seus portões trancados e com barricadas montadas, o que foi pouco necessário, dado o alto nível de adesão de estudantes, técnicos administrativos e professores. Na Construção Civil não foi diferente. Logo cedo, os piquetes paralisaram dezenas de canteiros de obra da cidade.
O sol ia levantando e o dia esquentando, mas havia uma certa apreensão no ar em relação ao impacto da Greve Geral em Belém. Destoando dos grandes centros urbanos do país, o sindicato dos rodoviários havia fechado acordo com a patronal e não iria paralisar a categoria. Mas, o temor logo foi passando quando chegaram informações de que, por fora do sindicato, os rodoviários haviam paralisado diversos ônibus, em dois pontos da capital. A fortíssima adesão de grandes categorias como a de professores, tanto da rede pública, quanto da rede privada, fizeram o clima da sexta-feira ficar completamente atípico na Cidade das Mangueiras. Somando-se a isso, em Ananindeua, a BR-316, principal rota de saída, também foi bloqueada por manifestantes.
Quando já passava das 10h e o sol de todos os dias torrava os belenenses, o ato unificado partiu da Praça da República em direção a São Brás. A manifestação era enorme, concentrava o conjunto dos trabalhadores que haviam cruzado os braços: servidores públicos federais, estaduais e municipais, educadores, bancários, urbanitários, trabalhadores dos Correios em greve, autônomos, estudantes, as centrais sindicais, a Frente Povo Sem Medo, partidos políticos, MST e tantos outros movimentos e entidades. Durante a passeata, o apoio popular era incrível, com destaque para os servidores do Hospital Ophir Loyola e moradores de prédios que chacoalhavam nas janelas panos e toalhas vermelhas.
A participação da juventude foi avassaladora. Era impressionante o número de jovens lá presentes, desde as carinhas mais novas secundaristas, até os “velhos” da geração de junho de 2013. Com seus batuques, músicas e palavras de ordem, as várias colunas de juventude agitavam o protesto e mostravam que nós entendemos quem serão os mais afetados: somos nós, que não vamos nos aposentar e não teremos acesso à carteira de trabalho com essas reformas draconianas.
O ato terminou na frente da Cosanpa, com o sol a pino. O local do desfecho também foi simbólico, já que a empresa estatal está dentro dos planos de privatização de Michel Temer e do governador tucano Simão Jatene. É difícil precisar o número de manifestantes, os mais modestos falam em 15 ou 20 mil, e os mais otimistas em 50 mil. Sem dúvida, foi o maior ato desde as Jornadas de Junho. Mas, o principal foi saber que Belém parou, o caos provocado pelo fechamento de vias esvaziou o Centro da cidade e o comércio e dezenas de milhares não foram para o trabalho, mas sim para protestar em defesa dos direitos sociais e para derrubar as reformas do governo Temer e do Congresso de corruptos.
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