Carlos Zacarias de Sena Júnior*, de Salvador, BA
Quando o leitor tiver diante de si esta edição de A Tarde, o Brasil estará vivendo uma Greve Geral, a primeira em mais de duas décadas. Sob qualquer ponto de vista, uma Greve Geral devia ser amplamente noticiada, discutida, problematizada. Historiadores, sociólogos, politólogos, economistas, filósofos, juristas, além de sindicalistas e membros do governo, deviam ser chamados aos meios de comunicação para analisar o significado de uma paralisação nacional desta dimensão e temas correlatos: qual o significado da crise? A corrupção é mesmo o nosso principal problema? Nossas instituições faliram? Por que uma reforma trabalhista feita às pressas e sem discussão com a sociedade? Por que se aprovou a Lei das Terceirizações sem maiores debates? Há mesmo a necessidade de uma reforma da previdência? Em que medida a reforma do ensino médio atende aos interesses da sociedade? A Nova República chegou mesmo ao fim? Questões de importância capital deveriam ser pautadas nos canais abertos, com privilégio às opiniões divergentes. Mas, como sabemos, pouco se falou sobre o assunto.
Lamentavelmente algumas pessoas serão pegas desprevenidas com a Greve, apesar da ampla mobilização nas redes sociais. E, como sempre acontece, veículos de comunicação vão noticiar os transtornos causados pela paralisação. Repórteres e cinegrafistas vão filmar pontos de ônibus cheios e disputas para entrar em lotações improvisadas. Serão mostradas escolas vazias e pessoas nas filas dos hospitais lamentando a falta de atendimento. Uma versão profundamente negativa da Greve Geral será transmitida, com eventuais “confrontos” com a polícia provocada por “vândalos”. Ao fim do dia, na contabilização das perdas e ganhos, os telejornais vão noticiar rapidamente as manifestações de trabalhadores, para depois demonstrarem que o “caos” tomou as cidades. Entre notícias de futebol e novas informações sobre a Lava Jato, os telejornais vão oferecer largo espaço para pronunciamento do governo. Compenetrados ministros vão se revezar diante das câmaras insistindo na necessidade das reformas e entre um e outro, “especialistas” escolhidos a dedo serão ouvidos para dizerem da importância do controle dos gastos públicos e da modernização da legislação promovida pelo governo.
Entre o Brasil real e o da TV, vai uma grande distância e todos que vivemos do suor do nosso trabalho bem o sabemos. Da mesma forma sabemos que Temer entrará para a história como um dos presidentes mais impopulares que já tivemos e um dos poucos a enfrentarem uma Greve Geral (antes somente Figueiredo, Sarney, Collor e FHC tiveram o “privilégio). E se não é possível saber de antemão o resultado desse dia histórico, é garantido que ele será lembrado pela importância das suas pautas e pela disposição demonstrada por milhões de trabalhadores que foram à luta para não perder direitos duramente conquistados. O futuro há de lhes agradecer!
* Publicado no Jornal A Tarde no dia 28 de Abril de 2017
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