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Relato da construção de uma greve geral

Da Redação

Para a construção do 28 de abril como um dia de greve geral, foi necessária a contribuição de milhares de pessoas de Norte a Sul do Brasil. Cada um deu um pouquinho de si. O Esquerda Online divulga o relato da estudante Clara Saraiva, do Rio de Janeiro, do curso de Serviço Social da UFRJ, sobre a experiência de como foi participar desse processo. Confira:

“Foram 10, 15, sei lá quantos ônibus que peguei esses últimos dias, conversando com os motoristas e trocadores que abriam um sorriso quando eu perguntava se eles iam parar. o primeiro que perguntei me respondeu assim: o brasil todo vai parar, pô! o sorriso foi meu.

foi o osmar, operador da vivo, que veio trocar o modem da internet na minha casa hoje e quando eu perguntei se ele tava sabendo, se ia parar, me disse “claro… vi na rádio, na tv, já falei com o pessoal da minha equipe, a gente combinou de se falar de manhã e ninguém vai, não”.

foram 4 reuniões de um comitê de base que construímos na praia vermelha que trouxe muita vida e luta ao campus da UFRJ, mobilizando estudantes, calouros, CAs, técnico-administrativos, fazendo faixa, banquinha (RIP), cartaz, aula pública e muita passagem em sala.

foram 2 terceirizados do meu curso que eu conversei muito explicando a reforma e a greve, ouvindo a realidade deles, que estavam animados em parar e que a dani, mulher negra da limpeza da UFRJ, chegou pra mim um dia e disse: falei lá na escola da minha filha pra eles pararem também, acho que vão parar! <3

foram tantas músicas compostas, memes criativos, nomes de filme com a palavra greve, 9 verdades e 1 mentira da greve, vídeos de figuras públicas, de criancinhas fofas, de atividades de esquenta, zaps e mais zaps, até das pessoas mais inusitadas me chamando pra greve.

foi participar da marcha em brasília contra a PEC ano passado, que me fez voltar pra casa bem desmoralizada, assim como muitos ativistas, e retomar a confiança na luta, na nossa unidade, na construção do 8 de março, do 15 de março, do 31 de março, e agora do 28 de abril.

foi ver as centrais batendo a cabeça por tanto tempo, colocando seus interesses políticos a frente dos interesses da nossa classe e, enfim, tomando vergonha na cara e chamando a construção de um dia unificado de greve geral.

foi ir vendo a greve num crescente, os informes das categorias votando em assembléia, o clima se impondo nas ruas, nas redes, em casa, no bar, na porra toda, 100 anos depois da primeira greve geral, 30 anos depois da última.

foram muitas reuniões do MAIS, algumas junto com a NOS, refletindo sobre a conjuntura, a correlação de forças, a nossa política, a necessidade da mais ampla unidade, a construção democrática da greve, a contradição de ser chamada e dirigida por uma burocracia sindical, a importância de apresentar saídas mais profundas pra situação calamitosa do nosso país em panfletos, faixas, cartazes.

foi receber a pior notícia às vésperas da greve geral, da condenação de 11 anos do rafael braga, único preso das jornadas de junho de 2013, simplesmente por ser negro e pobre, e ver a necessidade de que o dia 28 seja também um grito pela sua liberdade.

foi receber as pancadas da aprovação da lei da terceirização, da reforma trabalhista, ver seu otimismo e energia revolucionária baqueados, e se fortalecer com os camaradas ao seu lado, com calouros entrando na luta e dizendo pra mim: “agora eu tô me sentindo de verdade na UFRJ”, com as atividades planejadas dando certo (nem todas!), reuniões crescendo, uma aula pública sobre previdência desmascarando a simples crueldade dos golpistas contra quem sustenta esse país.

foi, principalmente, voltar a sentir que dá pra virar o jogo. como é bom sentir a força da juventude e da nossa classe em ação! será que daí um processo maior se abre? será que vamos conseguir barrar as reformas? quase às duas da manhã na minha insônia ansiosa de greve geral, só nos resta depositar toda a força possível e nunca perder a confiança que o futuro pode ser nosso. o passo a dar agora é amanhã. ou melhor, daqui a pouco”.