Por André Freire, Colunista do Esquerda Online
No último dia 9 de abril, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou seu Processo de Eleição Direta (PED). Nestas eleições internas, os filiados do PT votam nas eleições dos diretórios municipais e nas chapas de delegados aos congressos estaduais, etapa regional do sexto congresso nacional do partido, marcado para junho deste ano.
O PT possui cerca de 1,5 milhão de filiados, e destes 290 mil compareceram para votar em todo o país. Estes números demonstram que o PT ainda mantem um grande número de filiados e força política. Mas, o grande fato novo, sem dúvida nenhuma, foi à queda expressiva da participação no PED, sejam em número de filiados votantes, seja em número de cidades atingidas pelo processo.
O PED de 2017 foi significativamente menor do último realizado, em 2013, quando o partido ainda estava no governo federal. Em 2013, votaram 425 mil filiados, agora, no processo de 2017, votaram 290 mil, um número de comparecimento 31% menor. Em 27% das cidades, onde o PT estava formalmente organizado, sequer se conseguiu organizar as eleições.
E, o que é pior, alguns parlamentares e correntes internas, que se reivindicam da ala mais à esquerda do partido, denunciaram a existência de fraudes no PED em dezenas de cidades, em vários Estados, como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, entre outros.
Manifestos políticos destes grupos internos, tanto em SP como em MG, denunciam que filiados mortos chegaram a votar em algumas cidades no interior paulista e em algumas cidades do interior mineiro a totalidade da lista de filiados chegaram a votar na mesma chapa, ligadas a corrente majoritária – Construindo um Novo Brasil (CNB). Segundo estes dirigentes petistas, as fraudes podem chegar atingir cerca de 30 mil filiados, que constam como votantes efetivos no processo.
Na verdade, o resultado demonstra a grave crise em que vive o partido, que esteve na presidência da república entre 2003 e 2016, quando Dilma foi afastada por Impeachment, num golpe parlamentar articulado principalmente pelo PMDB, um partido que foi aliado em boa parte do período dos governos petistas, especialmente pelo atual presidente ilegítimo, Michel Temer (PMDB-SP), que foi vice-presidente de Dilma nas duas eleições que ela concorreu.
É possível mudar os rumos do PT?
Muitas correntes internas e parlamentares apostavam que esta PED poderia abrir um momento de mudanças de rumos no PT. Um processo que significasse uma correção das opções políticas e dos graves erros cometidos pela direção petista, especialmente no desenvolvimento de seus governos de alianças com a velha direita e as grandes empresas.
Mas, os resultados demonstram o oposto do que vinha sendo proposto e esperado pelo Movimento Muda PT. Além da queda significativa dos filiados participantes e das fraudes denunciadas, o que vemos foi que a corrente majoritária, a CNB – de Lula e Zé Dirceu, entre outros, sairá mais uma vez vitoriosa.
Embora ainda não esteja público o resultado nacional oficial das eleições dos (as) delegados (as) eleitos (as) pelas chapas que disputavam o PED, todos já sabem que o maior número dos (as) que terão direito a voto no sexto congresso nacional do PT estará sob o controle da corrente majoritária petista e de seus aliados políticos.
Portanto, ao contrário de uma mudança de rumos, o que veremos será a manutenção da mesma política de conciliação de classes, praticada pela direção do PT nos seus quase 13 anos de governo.
Esse novo projeto de alianças com setores da burguesia já pode ser sentido na política de construção da chamada frente ampla, junto com políticos como Ciro Gomes, Roberto Requião e, pasmem, até uma reaproximação com Renan Calheiros foi cogitada por alguns setores da direção petista.
Além da mesma política de alianças, veremos também defesa de um programa e de uma política econômica que não proporá nenhuma mudança de conteúdo daquela praticada pelos governos de Lula e Dilma.
Ao invés de adotar propostas históricas defendidas pelos movimentos sociais, como suspensão e auditoria da dívida pública, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, a reestatização das empresas privatizadas e a retomada do monopólio estatal sobre o petróleo e o pré-sal, entre outras, veremos, na verdade, a defesa de medidas mínimas que não mexem em nada no pacto político com as elites, que preserva e garante os interesses das grandes empresas e bancos, ou seja, dos mesmos ricos e poderosos de sempre em nosso país.
Construir uma nova alternativa de independência de classe
Infelizmente, mesmo com todas as evidências do continuísmo no atual projeto petista, a maioria das direções das correntes que compõe o Movimento Muda PT seguem defendendo a permanência no PT. Inclusive, se disciplinando as mesmas diretrizes programáticas e de alianças que estarão presentes na plataforma de governo da candidatura Lula 2018, caso ele tenha condições legais de concorrer.
Este caminho é mais um grave erro. A classe trabalhadora, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos precisam de uma nova alternativa de esquerda e socialista, que combate veementemente o governo golpista de Temer e sua maioria no Congresso Nacional, mas que seja também uma ruptura e uma superação completa do projeto de alianças do lulismo com os grandes empresários e os partidos da velha direita.
Essa nova alternativa política deve se construída desde já, principalmente a partir dos processos concretos de luta contra as reformas reacionárias do governo ilegítimo de Temer, como na paralisação nacional do dia 28 de abril.
Além da prioridade na construção do calendário de mobilizações e da greve geral que derrote as reformas reacionárias, o ajuste econômico e o próprio governo, nossa tarefa é apresentar esta nova alternativa também nas eleições de 2018, com a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, formada pelo PSOL, PSTU, PCB, movimentos sociais combativos como o MTST e organizações socialistas ainda sem legalidade.
Essa alternativa deve ser construída a partir das lutas do povo trabalhador e da juventude, deve passar pela apresentação de uma alternativa política de independência de classes nas eleições de 2018, mas não deve parar por aí.
Neste processo, devemos ir acumulando a possibilidade da construção de um novo instrumento político, um partido realmente do povo trabalhador, de esquerda, democrático e socialista.
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