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BRASIL

Qual classe está na ofensiva?

Por: Gabriel Casoni*, de São Paulo, SP

Nada é estático e permanente. Com mais ou menos lentidão, a realidade transforma-se. E algumas vezes, em situações excepcionais, quando as contradições acumuladas ao longo do tempo irrompem em eventos tempestuosos, ela pode mudar de modo brusco e repentino.

Identificar e medir as oscilações na relação de forças entre as classes sociais, assim como caracterizar sua dinâmica e principais tendências, não é tarefa fácil, mas é inescapável para o exercício da política. Em primeiro lugar, pois são múltiplos e complexos os fatores – políticos, sociais, econômicos, ideológicos, etc. – que atuam nesta determinação concreta, os quais se influenciam reciprocamente e se combinam de modo desigual na conformação de uma totalidade e dinâmica específicas.

Outra dificuldade decorre da frequente confusão na apreciação de níveis distintos de abstração aplicados à análise. Por exemplo, uma conjuntura política particular – momento sempre mais efêmero e flutuante da realidade – pode mudar uma e outra vez sem que tenha se alterado o quadro mais de fundo da correlação de forças.

Expliquemo-nos melhor: pode haver diversas conjunturas dentro de uma mesma situação mais estrutural, por assim dizer. Esses distintos níveis de abstração coexistem e se interagem, de modo que uma conjuntura específica sempre abre a possibilidade de inversão de uma situação de signo inverso (hipótese que pode ou não se efetivar e que sempre se decidirá no e pelo conflito vivo de forças sociais e políticas antagônicas).

Descendo ao terreno concreto: em nossa opinião, ao menos desde março de 2015, existe uma situação política adversa no Brasil, a qual é caracterizada por uma ofensiva política, econômica e ideológica da classe dominante sobre os trabalhadores e o povo pobre. As gigantescas manifestações da direita, hegemonizadas pela classe média; o golpe parlamentar burguês, que pôs fim ao governo de colaboração de classes do PT; e o brutal ajuste estrutural aplicado pelo governo Temer delinearam os componentes centrais desse quadro político.

Consideramos que essa situação defensiva mantêm-se até aqui, pois a iniciativa de ataque segue com a burguesia; quer dizer, a classe dominante, por meio das posições conquistadas, segue em marcha sobre o campo do adversário. A novidade é que a classe trabalhadora, que estava desorientada perante a investida do inimigo, e cujas ações de resistência eram fragmentadas e dispersas, entrou em campo via uma ação de massas unificada de grande envergadura no dia 15 de março, que se desdobrou na convocação de um dia nacional de Greve Geral, em 28 de abril. Esses movimentos das classes sociais, por sua vez, se desenvolvem sob o terreno movediço de uma profunda crise econômica e de um quadro de notável instabilidade política.

Essa mudança de conjuntura, marcada pela emergência da resistência organizada do proletariado e de seus aliados sociais, coloca em questão a viabilidade dos planos da burguesia e os agentes diretos de sua aplicação – Temer e o Congresso. A luta de classes ganhou, assim, intensidade e ritmo. A temperatura social subiu. Nesse sentido, os embates do próximo período, que serão inevitavelmente mais agudos, darão resposta à pergunta chave: as classes oprimidas conseguirão virar o jogo, passando à ofensiva no tabuleiro da luta de classes?

A atuação da esquerda, em particular dos socialistas, deve estar voltada para fortalecer as tendências positivas da realidade e combater as negativas. A análise do cenário político, portanto, não deve estar desvinculada da prática militante comprometida. Ao contrário, a apreciação da correlação de forças tem como objetivo primordial iluminar os caminhos para a ação prática.

*da Secretaria Política do MAIS

Foto: Diego Rivera – Murais para o Museu de Arte Moderna