Por: Pedro Augusto Nascimento*, de Santo André, SP
*Pedro é petroleiro
A menos de dez dias da greve geral contra as reformas de Temer e uma semana após a famosa lista de investigados das delações da Odebrecht, a temperatura política do Brasil subiu alguns graus.
Desde as grandes mobilizações do dia 15 de março contra o desmonte da aposentadoria, o governo ilegítimo tenta convencer o mercado e seus aliados mais instáveis de que continua com o leme das reformas sob o seu controle. A aprovação da PL da Terceirização, nesse mesmo dia, além da tentativa de acelerar a votação da Reforma Trabalhista e o adiamento e maquiagem da Reforma da Previdência foram as manobras de Temer e Rodrigo Maia para tentar ganhar tempo e reorganizar a sua tropa.
As imagens dos depoimentos dos executivos da Odebrecht ganharam da Rede Globo a conotação de um enredo de novela. São horas de programação da maior emissora de TV do país repercutindo um dos maiores fatos políticos dos últimos tempos, mas numa visível tentativa de devolver o foco da população para a Lava Jato e o tema da corrupção, lançando uma cortina de fumaça sobre as reformas impopulares de um governo cada vez mais sem prestígio.
Ocorre que, até o momento, as principais categorias organizadas de trabalhadores continuam aprovando quase unanimemente a participação na greve geral do dia 28 de abril. Professores, metalúrgicos, trabalhadores dos transportes, bancários, petroleiros e servidores públicos devem paralisar em todo o país. Nos ônibus e trens, as conversas misturam o incômodo com a piora das condições de vida, e o desemprego, com as reformas e o ódio aos políticos, numa combinação imprevisível.
Há um fogo que precisamos colocar mais lenha para queimar, que é a insatisfação e a politização cada vez maior da população, atravessada pelo que pode ser o maior dia de greve geral da nossa história. Dizer em alto e bom som que esse Congresso afundado até o pescoço na corrupção não pode impor o fim da aposentadoria e rasgar a CLT é a melhor forma de aproveitar as notícias dos últimos dias em favor da classe trabalhadora.
Remendo nas reformas não pode nos confundir
O relator da Reforma da Previdência, Arthur Maia (PPS-BA), tem agitado nos últimos dias a sua intenção de negociar a diferenciação da idade mínima de aposentadoria para homens e mulheres, a flexibilização da regra de transição e a manutenção do salário mínimo como piso dos benefícios.
Por outro lado, piora ainda mais o cálculo do benefício, incorporando nele os menores salários recebidos desde 1994, além de manter a exigência de pelo menos 20 anos de contribuição para os trabalhadores rurais poderem se aposentar. Ou seja, faz malabarismo mudando quase nada para que tudo permaneça igual na reforma quando, na verdade, ela é inaceitável de cabo a rabo. Desde a falsa alegação de que há déficit na previdência até a aplicação da idade mínima, que caso aprovada condenaria uma legião de trabalhadores a morrerem sem se aposentar, vivendo na indigência.
Já Rogério Marinho (PSDB/ RN), relator da Reforma Trabalhista, num surto de sinceridade fez a seguinte declaração, citada em matéria do UOL: “Aconteceram duas situações muito boas para o projeto. A primeira foi a reforma da Previdência. A reforma da Previdência nos deu uma espécie de cortina de fumaça. Só se discute a reforma da Previdência, só se fala da reforma da Previdência. Está fora do radar a reforma trabalhista. E é bom que seja assim. Agora após a quarta-feira [dia em que apresentou seu relatório] é que houve um despertar. Tanto é que há uma greve geral programada para o dia 18 e outra para o dia 28”.
Seja por excesso de confiança ou falta de noção, Marinho admite que seu principal aliado para a aprovação da reforma trabalhista é a desinformação. Fica a dica: é hora da Reforma Trabalhista ganhar mais destaque na pauta do movimento contra as reformas.
Dia 28 deve ser o início da virada
Apesar da empáfia demonstrada por Temer, o governo sabe que o sucesso da greve geral pode colocar em risco o programa do golpe e, mais do que isso, o seu governo ilegítimo. O placar da Reforma da Previdência, lançado inclusive pela mídia que apoia o governo, demonstra isso, ao menos momentaneamente. A base aliada do governo começa a fazer cálculos eleitorais para se reeleger em 2018, e muitos obcecados com o foro privilegiado nas investigações da Lava Jato.
Cabe aos movimentos sindical e popular jogar todos os esforços para que tenhamos um dia histórico, que possa inverter a correlação de forças e abrir caminho para a derrota das reformas, e para que o governo ilegítimo de Temer e esse Congresso corrupto não durem até o ano que vem. A unidade das centrais sindicais numa pauta e num calendário comum de mobilizações após o 28 deve ser o nosso horizonte desde agora.
A CUT, Lula e a Frente Brasil Popular precisam usar toda a sua influência para ir até o fim nessa batalha, se realmente forem coerentes com o discurso das Diretas, Já. Mesmo a Força Sindical, que oscila entre o apoio tímido ao governo, de Paulinho, e fortes declarações contra as reformas, de seus setores mais organizados, precisa ser pressionada para que rompa com o governo. A Frente do Povo Sem Medo, o MTST, a CSP Conlutas e a Intersindical podem cumprir um papel fundamental para que as principais centrais não cedam a pressões eleitorais ou promessas de impostos sindicais, mantendo-se firmes na defesa da frente única contra as reformas.
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