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Corrupção: muito além do desperdício de dinheiro público

Por: Josias Porto, de Salvador, BA

Impossível assistir aos telejornais nesses últimos dias e não sentir ódio desse espetáculo de marionetes descortinados a cada dia diante dos nossos olhos. A grande maioria dos políticos brasileiros encenam representar seus eleitores, mas negociam cada projeto de lei para atender aos interesses empresariais e não do povo.

A Bahia, sede da Odebrecht, é o segundo estado com mais nomes na lista dos políticos que o STF autorizou abertura de inquérito. São 12 nomes, perdendo para São Paulo, que tem 17. Os principais figurões da política do estado como Aleluia (DEM), Lídice (PSB), Jaques Vagner (PT) e Geddel (PMDB) estão nessa lista. Evidente que devem ser tratados ainda como suspeitos e garantido o direito de defesa, mas já é um sinal do grau de comprometimento dos mais diversos partidos, com exceções, com os interesses desse grupo.

A grande mídia, que também tem seus financiadores e manipuladores, nos entope dos mínimos detalhes dessa operação de imundícies, com o objetivo de desviar as atenções das duas grandes contrarreformas prestes a serem aprovadas no país e, por isso, não explora o significado dessas relações. Os promotores da operação, apresentados pela “Rede Globo” quase como os heróis da “Marvel”, numa empreitada moralizadora do país, dão “bronca” nos ricos delatores por não diferenciarem o que é “doação legal de campanha”, do que é “caixa 2”, “propina”, entre outros termos.

Uma cobertura sensacionalista que dá ênfase aos R$ 10 bilhões contabilizados de repasses ilegais da Odebrecht aos políticos. Evidente que é absurdo esse volume de dinheiro, mas o maior prejuízo para nós está nas consequências dessa lógica de funcionamento, em que o dinheiro controla a política.

Não existe financiamento desinteressado. Legal ou ilegal, o que cada empresa repassa a políticos, seja para suas espetaculares campanhas eleitorais, seja para seus extravagantes prazeres pessoais, paga por algo, e isso é o mais importante. A Odebrecht não é a única empresa que comprou seu crescimento. O PT não foi o único partido que vendeu sua alma, a maioria já nasceu com ela vendida. Esses são os bastidores de como as coisas funcionam lá em cima, como com muita sinceridade expressam pai e filho da família Odebrecht, novos focos de holofotes no “Reality Show” do Jornal Nacional.

Se “uma Medida Provisória não é vendida a menos de R$ 150 mil, nem na feira do Paraguai”, como afirma maquiavelicamente Romero Jucá (PMDB), quanto será que estão custando as reformas da Previdência e Trabalhista? Quanto devem ter pago, legal ou ilegalmente, a elite desse país, muitos que jamais terão o mesmo azar dos Odebrecht, para que Temer e o Congresso tenham tanta pressa em sua aprovação? O certo é que nós trabalhadores pagaremos exponencialmente mais, caso ela seja aprovada. Pagaremos com suor, sangue e miséria.

Para acabar com essa “feira gourmert” das leis, obras, projetos e direitos no país, um primeiro passo é colocar um fim nas campanhas milionárias e no financiamento privado, lícito e ilícito, delas. Isso vai no sentido oposto da Contrarreforma Política – mais uma! – elaborada pelos mesmos políticos da “lista de Fachin”. Precisamos de outra Reforma Política, não essa farsa. Antes, contudo, temos que derrotar, já, nas greves e nas ruas as contrarreformas da Previdência e Trabalhista desse governo ilegítimo, que quer rifar nosso futuro em troca de valores que, certamente, já estão em suas contas bancárias.

Foto: Varela Notícias