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EDITORIAL

Qual é o pacto de que precisamos?

O dia 28 de abril vai se aproximando e a perspectiva de um novo patamar de resistências às reformas de Temer vai canalizando os esforços de milhares de ativistas, em todo o país, para a preparação da greve geral. São diversas categorias e movimentos sociais que vão organizando iniciativas nos locais de estudo, trabalho e moradia, com vistas a convergir por uma forte mobilização nacional contra Temer e o Congresso.

Esse processo de luta é atravessado pelos desdobramentos políticos de uma nova investida da Operação Lava Jato. Enquanto o impacto da chamada “lista do Fachin” ainda reverbera em Brasília, os mais distintos aparelhos ideológicos da classe dominante entram em contradição com seus próprios discursos pré-impeachment: Temer, Aécio, ministros e parlamentares da base do governo estão comprometidos. Que retumbante fracasso dos que diziam que iam “passar o Brasil a limpo”.

Mediante esses novos fatos, a abordagem da mídia corporativa dá mostras de que é sempre possível cavar mais fundo em matéria de hipocrisia. Quando a aura de moralidade do governo e do Congresso se dissipa, nem por um milímetro os grandes grupos de comunicação se afastam, do ponto de vista programático, dessa gente. É como se nos quisessem convencer de que esses senhores talvez não sejam mesmo tão honestos, mas estão seriamente empenhados em salvar a economia com suas reformas “tão urgentes quanto necessárias”.

Ironicamente, o fato de governistas e opositores, golpistas e golpeados, repousarem juntos na lama tem dado base a discursos – cada vez mais explícitos, diga-se de passagem – em prol de um acordo para, na linguagem cínica comum aos parlamentos, “salvar a política”. E na esteira desse tipo de intento, surge o rumor de que Lula, Temer e FHC estariam articulando um pacto com vistas à sobrevivência política para 2018.

Consta que o presidente de fato e os outros dois ex-mandatários estariam costurando, por meio de emissários, os seguintes termos: preserva-se Temer até 2018, garante-se Lula como candidato e formata-se uma reforma política em moldes tais que preservem os principais partidos do regime e neles concentre poderes.

É notável que a estratégia petista, materializada no slogan “Lula 2018”, tende por si só a alguma margem de conciliação. Reeditar um projeto de colaboração de classes, após o golpe parlamentar e as duras medidas de austeridade exigidas pela burguesia, só poderá ser possível caso Lula recomponha relações com ao menos um setor importante dos grandes empresários do país. Difícil imaginar é o que a classe trabalhadora teria a ganhar nesse cenário, quando de conjunto a classe dominante exige nada menos que décadas de retrocesso em matéria de direitos e garantias sociais.

O pacto de que precisamos é, portanto, de outra natureza e com atores sociais inteiramente distintos. É um acordo para uma luta sem tréguas contra este retrocesso, em que as forças da classe trabalhadora estejam comprometidas até o final com o emprego do máximo de suas energias na luta contra as reformas.

Marcado como:
fhc / lula / pacto / temer