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Primeiros 100 dias de Crivella: o fracasso do populismo religioso

Comissão de Assuntos Sociais (CAS) realiza audiência pública interativa com o ministro da Saúde, Arthur Chioro, sobre a epidemia de dengue no país. Em pronunciamento, senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Por: André Freire, do Rio de Janeiro

Acaba de se completar os primeiros 100 dias da administração de Marcelo Crivella (PRB-RJ), ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), à frente da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Sua campanha foi feita com o lema “cuidar das pessoas”, mas esses primeiros 100 dias de governo demonstram o oposto. Na verdade, uma avaliação rápida das principais medidas do atual Prefeito demonstra que ele não mudou em nada a lógica da prefeitura anterior, de Eduardo Paes (PMDB-RJ). Ele governa de acordo com os interesses dos ricos e poderosos.

Fica difícil dizer que Crivella está cuidando das pessoas, quando uma de suas primeiras medidas foi cortar 547 milhões de reais do orçamento anual da saúde. Só o Hospital Souza Aguiar, um dos principais da cidade, perderá 33 milhões de reais.

A situação na saúde pública municipal é alarmante. E, com esse corte de verbas absurdo, vai piorar. Lembrando que, na campanha, Crivella se comprometeu a ampliar as verbas da saúde em 250 milhões a cada ano.

Para se ter uma ideia da terrível situação, mais de 150 mil pessoas aguardam atendimento na saúde pública municipal para ter acesso a consultas, exames e cirurgias. Ás vezes a espera supera mais de um ano. E, ao contrário do prometido por Crivella, essa fila da saúde aumentou em mais de 20 mil pessoas do final do ano passado até agora (de 132.541 esperavam atendimento no final do ano, agora são 154.068).

Mas os problemas estão longe de se restringir à saúde pública.

Na educação, por exemplo, havia uma promessa de se ampliar em 60 mil as vagar nas creches e na pré-escola, mas houve uma redução desse compromisso em 10 mil vagas. Na verdade, até agora quase nenhuma medida concreta foi tomada para uma ampliação significativa nos números de vagas oferecidas.

As Bibliotecas Parques seguem fechadas. Embora elas sejam de responsabilidade do governo do estado, Crivella tinha se comprometido em assumir sua administração, reabrindo esses espaços. Até agora, nada.

Diante da tragédia  do assassinato da aluna Maria Eduarda, dentro de uma Escola Municipal, muito provavelmente por balas disparadas por policiais militares (um dos tiros já foi comprovado que partiu de uma arma de um PM), o atual Prefeito saiu com a proposta de blindar as escolas. Ele nem pensa em investir em melhorias sociais para as comunidades carentes, como é a obrigação da prefeitura  e é reivindicado pela própria comunidade escolar.

O dito legado das Olimpíadas vai de mal a pior. Das 22 vilas olímpicas, 12 estão fechadas, demonstrando a falta de compromisso de fato com o acesso da população às práticas esportivas.

O “Parque Radical”, no bairro de Deodoro, foi fechado por falta de verbas da prefeitura para manutenção. Funcionários foram demitidos e a população ficou sem a sua área de lazer.

As obras da Transbrasil, uma pista exclusiva para os BRT´s (ônibus especiais), serão retomadas essa semana. Mas só existe o compromisso de se concluir  o trecho entre os bairros do Caju e Deodoro (que já tinha sido iniciado). Ou seja, ficará faltando uma parte significativa do projeto original. E, ainda por cima, serão utilizados, na futura pista, somente ônibus comuns.

A Fetranspor (federação dos donos de ônibus) segue desrespeitando a exigência contratual de se colocar ar condicionado no ônibus cariocas. E, a Prefeitura, nada faz para que os donos das empresas de ônibus cumpram essa exigência.

A conclusão não pode ser outra. Nos primeiros 100 dias de Crivella, a única coisa que ele não fez foi cuidar pessoas. De fato, não fez nada de concreto para atender as justas reivindicações do povo trabalhador e da maioria da população carioca.

Nepotismo e contratos sem licitação

Mas, Crivella vem tentando usar a prefeitura para “cuidar muito bem das pessoas” da sua família, além de amigos e aliados políticos.

Tentou nomear seu próprio filho, Marcelo Hodge Crivella, como sub-secretário municipal da Casa Civil. A medida foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas seu filho foi apresentado como colaborador da administração, sendo inclusive chamado ao palco, ao lado dos outros secretários municipais, no evento de balanço de 100 dias da sua administração.

Agora nomeou Alessandro Silva Costa para o cargo. O problema que ele é sócio de sua filha, Rachel Crivella, na empresa “Crivella Produções Artísticas e Culturais”.

Nesses primeiros 100 dias, a Prefeitura de Crivella já gastou 70,7 milhões de reais em contratos com entidades privadas, segundo o próprio Portal da Transparência da administração municipal. Destes, 39%, ou seja, o equivalente a 27,5 milhões de reais, foram contratos feitos sem a exigência de licitações públicas.

Fortalecer a oposição de esquerda a Crivella

O caminho a ser seguido pelo povo trabalhador, pela juventude, pelos movimentos sociais combativos e pelos partidos da esquerda socialista é o de construir, fortalecer e ampliar um movimento de oposição a atual prefeitura de Crivella.

Nosso movimento precisa cobrar da prefeitura, a todo o momento, as melhorias sociais que a população carioca necessita e reivindica, especialmente nas áreas da educação, saúde, transporte, saneamento, cultura, entre outras. Também temos que denunciar os ataques que o prefeito Crivella realiza contra o povo trabalhador da cidade e as falcatruas praticadas por sua administração.

Os setores da esquerda socialista, especialmente aqueles que estiveram envolvidos na campanha política que levou Marcelo Freixo (PSOL/RJ) ao segundo turno em 2016, devem dar o pontapé inicial neste movimento. Devemos construir uma verdadeira frente de oposição de esquerda ao atual prefeito, denunciando seus ataques à população e suas mentiras populistas.

Foto: wikipedia