Por: Paula Farias, de Fortaleza, CE
Habeas, do latim ‘ter’, pode soar estranho somado à palavra resistência. Mas, é um trocadilho com o nome de um time de futebol de alunos do curso de direito de uma universidade particular de Fortaleza: Habeas Pernas.
Alguns pensarão: trata-se de um jargão futebolístico. Mas, não foi.
O Centro Acadêmico (CAAT) do curso de Direito da Uni-7 resolveu promover um campeonato de futebol para “promover o companheirismo, a descontração” entre os estudantes do curso, nas palavras do CAAT. Um grupo de alunos se reuniu e pensou em tudo: nome, brasão e até hino. A imagem do brasão é muito reveladora e afasta completamente a hipótese do jargão futebolístico: o corpo de uma mulher de pernas abertas. O que estes estudantes esqueceram foi que na mesma universidade as mulheres estavam atentas. A indignação por parte delas foi imediata e ganhou as redes sociais.
O CAAT, no dia do jogo, pediu educadamente que o brasão fosse coberto por fita adesiva (o time acatou a sugestão do CAAT) que, por sua vez, não resistiu às partidas do campeonato (óbvio né!). Isso é o que informa a nota do centro acadêmico, reforçando ainda a ideia de que não podiam fazer nada de maneira apressada, ou que cancelasse o evento.
Por sua vez, a direção da universidade lançou um comunicado na segunda, dia 10 de abril, cujo título é “Habeas Respeito”, o que provocou o título desta opinião que agora vocês leem. Nela, a direção trata o tema da seguinte forma: “Diante dos fatos e após ouvir o CAAT, a UNI7 iniciou os procedimentos acadêmicos previstos em seu regimento interno. A Instituição valoriza as manifestações dos alunos no debate sobre a questão do respeito nas relações Sociais”. “Habeas Paciência” para esperar a atitude da direção!
As estudantes começaram a se organizar. Primeiro, denunciando, nas redes sociais, na qual foram alvos de comentários misóginos e muito ofensivos de pessoas, tanto homens e também mulheres, poucas, é verdade, de fora da instituição e até de outros estados. E, na última segunda-feira (10), organizaram dois atos de repúdio à atitude dos estudantes. A mobilização foi forte e chamou atenção.
As mulheres, na esteira do que vem ocorrendo nas últimas semanas, estão resistindo. Cada pequena vitória significa um fortalecimento de que não somos o segundo sexo. Significa as mulheres em transformação e os homens em crise, tontos, perdidos, porque não podem mais comportar-se como brutos, desumanos, superiores com as mulheres.
Estamos perdendo o nosso medo. E o homem tem medo da mulher sem medo, como disse Eduardo Galeano. E a sua resposta ao medo que sente é nos calar de qualquer maneira, invisibilizar-nos, tratar de maneira machista, violenta, para, com essa atitude, tentar impedir nosso avanço na sociedade. Não queremos estar nem na frente, nem atrás de vocês. Queremos marchar lado a lado.
Não queremos uma guerra entre os sexos. Os homens podem, sim, ser nossos aliados nessa luta contra o machismo, contra a violência gratuita às mulheres. Para isso, é preciso reconhecer seus erros e estar dispostos a mudar suas atitudes diante de casos desse tipo.
A direção da universidade deve tomar uma atitude que ultrapassou os muros da universidade. Queremos que estes estudantes sejam suspensos e que façam uma carta pública se retratando. É, no mínimo, inadmissível que estudantes de Direito de uma universidade, futuros advogados, juízes, promotores, defensores, só consigam pensar um nome e símbolo que objetifica a mulher, navegando na contramão dos últimos acontecimentos na qual as mulheres, com resistência, arrancaram pequenas vitórias. É inadmissível que a organização estudantil limite-se a tirar de si a responsabilidade sobre os acontecimentos. É preciso uma nova nota autocrítica e um evento que trate sobre violência às mulheres organizada pelo CAAT.
Estamos atentas e seguiremos resistindo. E cada pequena vitória nos deixa mais fortes.
Habeas Resistência!
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