Editorial 9 de Abril |
“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”. Essa frase foi dita, no dia 3 de abril, no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, pelo parlamentar Jair Bolsonaro que é réu em processo no Supremo Tribunal Federal por incitação ao crime de estupro contra as mulheres.
Não há dúvidas que o deputado e suas ideias, que disputam a consciência de milhões, é uma ameaça aos direitos das mulheres. Mas também não há dúvidas que podemos fazer ruir sua misoginia com importantes exemplos de mulheres que conquistaram espaços e fariam qualquer filhote de Bolsonaro se contorcer de raiva.
Cecilia Payne. Katherine Johnson. Anna Fisher. Três mulheres que contrariam e ameaçam as ideias reacionárias do parlamentar Jair Bolsonaro.
Escolhemos apenas três exemplos. Fomos pro Espaço, e trouxemos mulheres que desafiaram o mito da exclusiva racionalidade masculina e ocuparam o mundo da Ciência com importantes descobertas e iniciativas.
O brilho de Cecilia Payne
Cecilia Payne, astrônoma, “só” descobriu a composição do Sol enquanto todos os astrônomos ainda achavam que a estrela tinha a mesma composição da Terra. Foi Payne, em sua tese publicada em 1925, que concluiu que as estrelas são compostas majoritariamente por hidrogênio e hélio. Na época, os salários das mulheres cientistas eram contabilizados como “despesas com equipamentos”, pois eram consideradas profissionais “computadores”, aquelas que faziam contas. Mesmo com todo o preconceito, a astrônoma seguiu seu sonho de ser pesquisadora, e escreveu mais de 350 artigos científicos e analisou entre três a quatro mil estrelas das Nuvens de Magalhães. Em razão do machismo, só trinta anos depois, tornou-se a primeira mulher nomeada chefe do departamento de astronomia da Universidade de Harvard em 1956.
Katherine Johnson, a física, cientista espacial e matemática
Uma mulher negra, nascida no interior de Virginia (EUA), que se formou no ensino médio aos 14 anos, deu contribuições fundamentais para a exploração espacial. Ela calculou as trajetórias, janelas de lançamento e caminhos de retorno de emergência para muitos voos do Projeto Mercury, o primeiro projeto tripulado de exploração espacial da NASA. Em 1969, a cientista também contribuiu para planejar a trajetória do lendário Apollo 11 à Lua. É considerada a primeira grande mulher da história da Nasa. Reconhecimento retardado pelo machismo, pois só em 2015 recebeu a Presidential Medal of Freedom – a maior condecoração que um civil pode receber nos EUA, e, só em 2016, a NASA inaugurou uma central de pesquisa batizada com seu nome.
Anna Fischer, a mamãe no Espaço
Uma astronauta norte-americana que foi selecionada com cinco outras mulheres – Sally Ride, Rhea Seddon, Judith Resnik, Kathryn Sullivan e Shannon Lucid – para a primeira equipa de astronautas femininas da NASA em 1978. Em 1984, Fisher foi ao espaço na tripulação da STS-51-A. Sua filha tinha 14 meses quando Anna foi para missão de oito dias da nave Discovery, caracterizada por ser a primeira a colocar em órbita dois satélites e a recolher outros dois. Na viagem, acumulou 192 horas em órbita e tornou-se a primeira mãe em órbita. “Eu descobri sobre meu voo somente duas semanas antes de dar à luz, então passei todo o ano de treinamento como uma nova mãe. Foi muito difícil deixá-la, mas eu não vejo nenhuma diferença dos meus colegas homens. Eles também se sentem assim, eles sentem falta de sua família e de seus filhos da mesma forma”.
Foto: Anna Fischer
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