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OPRESSÕES

Aleksandra Kollontay: não esteve entre os grandes… foi uma grande

Por: Giselle Ribeiro, de Belém, Pará

Ha 145 anos, em 31 de março de 1872, nascia Aleksandra Mihaylovna Kollontay em São Petersburgo (Rússia). Kollontay se configurou como uma grande dirigente revolucionária que, desde muito cedo, interessou-se por combater as injustiças sociais e fez do centro de sua vida o trabalho na luta contra o capitalismo e pela libertação da mulher.

Em sua obra, Kollontay demarca a entrada da mulher no processo de produção capitalista, o que a faz sentir, com maior ênfase, o peso do machismo, afinal, nesse contexto, além de assumir tripla jornada (trabalhadora, mãe e “dona de casa”), à mulher é negada a participação política e são relegados salários mais baixos.

O modo de produção capitalista arremessa as mulheres aos chãos das fábricas e começa a construir um novo tipo de mulher, segundo afirma a líder russa. As mulheres começam a lutar pelos seus direitos, movidas pelo próprio aprofundamento das contradições machistas que o modo de produção às impôs. As pautas democráticas das mulheres, como o direito ao voto, estendiam-se às mulheres da burguesia que já estavam organizadas no movimento feminista. Porém, Kollontay se interessou em organizar as mulheres trabalhadoras para a luta de classes, pois entendia que a total libertação da mulher só se daria com a extinção do modo de produção capitalista.

Nesse sentido, Kollontay é precisa em seus escritos ao esclarecer que a luta da mulher deve ser, antes de tudo, uma luta classista, e instigou as mulheres trabalhadoras de sua época questionando se achavam que as mulheres da burguesia incorporariam as suas reivindicações, as quais tinham um caráter de classe, se estas fossem colocadas ao movimento feminista da época. Kollontay tinha clareza de que não seriam incorporadas pelo movimento feminista.

Dentro do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), Kollontay iniciou sua militância na fração bolchevique em 1915, travou uma batalha pela incorporação das reivindicações das mulheres no interior do partido e, por muitas vezes, foi tratada com indiferença. Ainda assim, sua incansável luta foi compreendida pelo Comitê Central e então incorporada ao programa bolchevique. As reivindicações colocadas tiveram materialização com o processo da Revolução Russa, em outubro de 1917.

No ano da Revolução, assumiu o cargo de Comissariada do Povo ao Bem Estar Social, uma pasta com enormes recursos financeiros para a qual deveria ter política para tratar os aleijados de guerra, as crianças órfãs, os idosos e dar assistência às mulheres, assim como garantir um sistema hospitalar e educacional. Porém, sua permanência nesse cargo durou pouco tempo. Em 1918, Kollontay renunciou ao seu posto em razão de discordâncias com a política do partido quando este firmou acordo de paz com a Alemanha antes do fim da Primeira Guerra Mundial (Tratado de Brest-Litovski).

A direção que Kollontay deu no Comissariado garantiu diversos direitos políticos e trabalhistas às mulheres, porém isto não era suficiente para garantir a libertação da mulher, o debate mais de fundo era ideológico e perpassava pelo papel que a mulher cumpria no seio da família. Então, quando se distanciou das tarefas na direção do partido pode se debruçar novamente a estudar e escrever sobre as correntes às quais as mulheres estavam presas.

As tarefas domésticas, às quais as mulheres eram responsabilizadas, também deveriam ser organizadas em perspectiva coletiva e garantidas pelo Estado. Lavanderias, creches, centros de alimentação, maternidades, centros de assistência estavam entre as iniciativas que garantiriam a libertação da mulher, para dar à sua vida o destino que achasse cabível. Entre outras coisas, dedicar-se ao trabalho e à política para a construção de uma nova sociedade.

Kollontay continuou batalhando por suas ideias mesmo fora da direção do partido. Liderou a Oposição Operária, uma das frações que se formaram no X Congresso do Partido (1921), e permaneceu delineando sua obra que chocou a sociedade por meio das concepções de amor, família, relações sexuais e maternidade que ela apresentava.

Neste ano de 2017, centenário da Revolução Russa, vivemos no Brasil uma conjuntura de muitos ataques e muitas lutas. Tais lutas que visam dar respostas aos governos que tentam impor sobre os trabalhadores os danos da crise estrutural do capital que o mundo vivencia e, em particular no Brasil, se expressa fortemente. A resposta dos trabalhadores tem sido um categórico “Não”. O mês de março demonstrou isso por meio dos atos 8M, 15M e 31M. A juventude feminina tem cumprido papel central nas mobilizações, mas isso ainda não se expressa na construção por meio das direções sindicais. Um exemplo claro disso foi a nota do movimento sindical emitida à imprensa em 27 de março de 2017 em que nove homens assinam a nota que chama a greve geral no país para o dia 28 de abril.

A ausência de mulheres nesse espaço é instigante. Nesse sentido, o exemplo de Kollontay na história da luta de classes torna-se inspirador, por ter sido uma mulher quem enfrentou o espaço hostil da política e sua intervenção foi mais do que, simplesmente, estar entre os grandes, Kollontay foi uma das grandes dirigentes revolucionárias. Ela faleceu em 9 de março de 1952, em Moscou, na Rússia, mas sua obra continua viva e atual em defesa do feminismo classista e de uma sociedade que promova o fim da exploração e a libertação da mulher.

Obras de Kollontay publicadas no Brasil:

  • A nova mulher e a moral sexual
  • Marxismo e revolução sexual
  • Oposição Operária (1920-1921)
  • A família e o comunismo
  • As relações sexuais e a luta de classes
  • Autobiografia de uma mulher comunista sexualmente emancipada
  • Um grande amor