Por Jean Montezuma, de Salvador, BA
Na última quarta, 29 de março, a cidade de Salvador completou 468 anos de sua fundação. A imprensa, em especial a ligada a família do prefeito, se dedicou a fazer uma cobertura ufanista em sintonia com o discurso da prefeitura de ACM Neto (DEM) que alardea a plenos pulmões que tudo vai bem, que a cidade esta se modernizando e dando saltos em direção ao progresso. Esse mesmo discurso é endossado pelo governador Rui Costa (PT) e aquilo que sua gestão propagandea como “obras tamanho G” – novas avenidas e a segunda linha do Metrô – que estariam contribuindo para construir uma nova Salvador.
Na Salvador das progagandas da prefeitura do democrata ACM Neto e do petista Rui Costa tudo é lindo, tudo vai bem. Não existem problemas e desigualdades ou, no máximo, estariam essas questões em vias de serem superadas pelas ações de seus governos. Infelizmente, o povo pobre e trabalhador de Salvador não vive nessas propagandas, vivemos na Salvador real que é atravessada por uma profunda desigualdade social.
Foi justamente essa dura realidade que as chuvas da manhã da última quinta-feira, 30 de março, vieram reafirmar de forma implacável. Horas depois do dia do seu aniversário, a chuva desmanchou a maquiagem de Salvador e revelou aquilo que prefeito e governador fingem não vêr. Revelou ruas e avenidas que sob efeito de qualquer chuva mais intensa tornam-se verdadeiros leitos de rio, o que leva o trânsito ao colapso e a cidade a paralisia. Desfeita a maquiagem, a chuva revelou, ou melhor reafirmou, o crônico problema que assola os bairros populares. Inúmeras ruas alagadas, moradores literalmente ilhados, encostas cedendo ou ameaçando ceder, casas e móveis perdidos.
A realidade se impôs e a pauta dos noticiários teve que mudar. O otismo de anteontem deu lugar ao caos e o drama da vida real. Em todos os telejornais as noticías sobre as consequência das chuvas contaram histórias e revelaram tragédias sociais onde os sujeitos tinham sempre a mesma cor e endereço. As lágrimas que se misturam com a água das chuvas escorrem sempre em rostos negros. Somos nós que sofremos as consequências de uma política marcada pela ausência, pelo descaso. A temporada de chuvas em Salvador só esta começando, todo ela vem, todo ano se sabe que ela vai chegar e mais, com o avanço das técnicas meteorológicas já é possível mensurar inclusive sua intensidade. Porém, ano após ano prefeitos e governadores nada fazem para encarar o problema de frente.
Quando a chuva vem e o caos toma conta, o prefeito, o governador, deputados, vereadores e empresários continuam a dormir tranquilamente no conforto de suas casas. O problema da moradia, da ausência de saneamento e infraestrutura nos bairros populares, a falta de um plano diretor de encostas, tudo isso não os atinge. No projeto de cidade que defendem e se concretiza no privatizante PDDU, todos esses problemas estruturais tornam-se invisíveis. Diante do efeito das chuvas tudo que esses senhores tem a oferecer é a mais completa hipocrisia de culpar a chuva, dizer que foi a força da natureza, pedir orações.
Com o temporal de hoje, Salvador acumulou 173,5 milímetros de chuva nesse mês de março. Para se ter uma ideia a média para o mês de março, que já é alta, é de 151 milímetros. Segundo informações do INMET (Instituto Nacional de Metereologia) a expectativa para abril é ainda maior, cerca de 309 milímetros de chuva. Pra enfrentar essa situação é preciso ter um programa. Salvador precisa de um plano de obras públicas que ataque problemas estruturais da cidade. É preciso um Plano Diretor de Encostas, um plano de construção de moradias que retirem famílias de regiões de risco e proporcione um lugar digno para que elas possam morar, é preciso que tudo isso seja parte de um verdadeiro PDDU voltado para o desevolvimento social e não o PDDU de ACM Neto que visa atender os interesses da especulação imobiliária, e projeta para o futuro uma cidade ainda mais privatizada, excludente e desigual.
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