Foto retirada de: http://www.ctera.org.ar/ – Mobilização de professores 22/03
Por Renato Fernandes, Campinas/SP
A situação social e econômica dos países do Cone Sul não é das melhores: crescimento do desemprego, alta da inflação, criminalização dos protestos, aumento da pobreza e da miséria e retirada de direitos. Essa política, com pequenas diferenças, está sendo a constante do governo Temer no Brasil e de Macri na Argentina, que tentam recuperar o projeto neoliberal reduzindo os investimentos estatais para garantir o religioso pagamento da dívida.
Porém, a situação de resistência dos trabalhadores está demonstrando que há uma mudança na conjuntura: a greve de mulheres internacional no 8M; a marcha chilena no último domingo, 26, exigindo uma previdência pública; o 15M no Brasil; e as mobilizações gigantescas de professores na Argentina (paralisação entre 6-8/3 e agora 28-30/3) demonstram um salto na resistência dos trabalhadores na região. Resistência importante e que aponta para uma saída alternativa dos projetos da classe dominante de seus países.
A paralisação docente e os atos da CTA
Assim como no Brasil, os docentes são a categoria mais mobilizadas na Argentina. As condições de trabalho não são muito diferentes das brasileiras: salas superlotadas e salários baixos e desvalorizados por causa da inflação (a estimativa é de 26% no último ano). Além disso, há uma série de cortes e de demissões em setores da educação que precarizam cada vez mais o trabalho. Dessa forma, a necessidade de aumentar os investimentos em educação e aumentar os salários para garantir uma vida digna para os trabalhadores é fundamental.
Ontem foi mais um dia de mobilizações. Por todo o país, os trabalhadores da educação (professores das escolas e das universidades) paralisaram suas atividades e saíram às ruas em defesa de suas reivindicações. Em Neuquén marcharam cerca de 15 mil pessoas. Em Santa Cruz, houve também uma marcha massiva contra a política de Alicia Kirchner, governadora da província e cunhada da ex-presidente Cristina Kirchner. O ajuste fiscal implementado por Macri é também implementado pelos partidos de oposição institucional, como o peronismo.
A maior mobilização aconteceu em Buenos Aires e foi convocada (e desconvocada) pela Central de Trabajadores de la Argentina (CTA): milhares de trabalhadores da educação ocuparam as ruas contra Macri. A marcha que estava prevista há um tempo, havia sido na prática desconvocada pela direção burocrática da CTA, que aderiu à greve geral do dia 6, chamada pela Confederación General del Trabajo (CGT). Mesmo assim, a força das mobilizações se impôs e houve paralisação de 2 horas no metrô de Buenos Aires, paralisação dos funcionários do Estado, além da greve dos professores que foram a vanguarda do processo.
Mesmo após esse conjunto de mobilizações, que inclui a Marcha Federal do último dia 22 que ocupou Buenos Aires com centenas de milhares de professores, o governo federal e das províncias insistem em fechar os acordos por decreto, não negociando, e ainda ameaçando a categoria com bônus para professores que não fizerem a greve e a contratação emergencial de professores “fura greve” para substituir os grevistas.
A cólera social é muito grande na Argentina. Em diversas empresas privadas, explodiram conflitos no último período, como na gráfica ocupada AGR-Clarín em Buenos Aires, na SanCor (empresa alimentícia) na província de Santa Fé e na GM de Rosário. Conflitos nos quais a classe trabalhadora se coloca contra o fechamento ou as demissões que a patronal está levando em cada local de trabalho.
Greve geral no dia 6/4
Foi a partir da combinação entre a crise econômica e social que se aprofunda e das lutas de resistências dos trabalhadores, que a direção da principal central sindical, a CGT decidiu convocar uma greve geral no próximo dia 6/4. Para se ter uma ideia, a vontade da direção era continuar a trégua com o governo, fazendo mobilizações pequenas ao invés de pressioná-lo com os métodos da classe trabalhadora. Tanto é assim que, na última mobilização do dia 7/4, a base dos trabalhadores “expulsou” os burocratas da CGT do palco da mobilização em Buenos Aires, exigindo que se colocasse uma “data” para a greve geral. Essa data só saiu uma semana depois e, pior, saiu como uma greve para as que as pessoas fiquem em casa, já que a CGT (e a CTA) não organizaram atos nem mobilizações. De acordo com um dos líderes do triunvirato da CGT, o dia da greve geral será um dia para que “fiquemos todos em casa tomando um mate”. O que a burocracia quer é uma paralisação passiva, domingueira, para não ter que se enfrentar com sua própria base e não deixar que a cólera social se enfrente com a política de miséria do governo Macri.
Este momento em que cresce a resistência e que a própria burocracia não consegue segurar a pressão que vem da base é uma ótima oportunidade para que a esquerda radical cresça em sua influência e supere as direções tradicionais. Nesse sentido, transformar a greve do 6A em uma paralisação ativa, com mobilizações de rua e cortes de vias parece ser a tarefa correta para ampliar a insatisfação com o governo Macri e com a própria burocracia sindical. Tanto lá na Argentina, como no Brasil, somente com a esquerda socialista e radical construindo na base as mobilizações será possível superar as velhas direções e construir uma outra saída para a crise de nossos países.
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