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MOVIMENTO

Pelo direito ao pão, à poesia e a um futuro digno

São Paulo – Em protesto pela morte de cinco jovens da zona leste da capital paulista, integrantes de movimentos sociais ocuparam o saguão da Secretaria de Segurança Pública (Rovena Rosa/Agência Brasil)

“Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens…”

Belchior

Por: Gabriel Santos, de Maceió, AL

Grandes marxistas do século passado como Trotsky, Gramsci e Cannon costumavam dizer que na política o tempo é o crucial. Afinal, o tempo é um grande mistério, e falar sobre ele é falar sobre transformação. Sobre aquilo que hoje é, ontem foi e amanhã pode ser, ou não ser. O presente é consequência de ações passadas, enquanto o futuro é consequência das ações do presente.

Falar sobre tempo, em especial sobre o futuro, hoje é falar sobre incerteza. Ainda mais para nós que somos jovens. Vivemos em tempos difíceis. Tempos de golpe parlamentar, retirada de direitos, avanço do conservadorismo e da direita. O futuro é cada vez mais uma incógnita.

Normalmente definem a juventude como aquela fase da vida na qual começamos a caminhar em busca de nossos projetos de vida. Uma época de conquistas e sonhos. Porém, a realidade é bem mais cruel. Ser jovem hoje no Brasil é caminhar numa trilha incerta. Acordamos diariamente e nos cobramos, por que, afinal, não seremos jovens para sempre, e a sociedade nos cobra. Temos que ter respostas. Que emprego seguir? Que faculdade fazer? Será que vai valer à pena? Será que vou me formar? Temos desejos, mas muitas vezes não temos tempo para sonhar. Temos que dar respostas e resultados a um mundo que não nos responde nada e nos apresenta cada vez menos perspectivas.

A aprovação da terceirização e o projeto da reforma da previdência são uma mostra de que para a nossa geração o direito ao futuro vem sendo roubado. Hoje, mais de 24% da juventude se encontra desempregada. E se hoje em dia a situação é complicada, imagina daqui a vinte anos, com a vigência da PEC dos tetos dos gatos, com a terceirização rolando solta, sem os direitos trabalhistas e sem perspectivas de aposentadoria. Tudo pode ser pior.

A burguesia está vindo com tudo. Quer passar por cima da classe trabalhadora como um trator, e de quebra, esmagar o nosso futuro. Porém, a mesma incerteza que nos amedronta, também pesa a nosso favor. Pois o futuro é algo incerto. Ele é construído através do presente. Sendo assim, podemos mudá-lo. Karl Marx já dizia: “Os homens fazem sua história, mas não a fazem como a querem, e sim, de acordo com o que foi herdado de gerações anteriores”.

O direito ao futuro está na balança. De um lado, os ricos e poderosos querendo saqueá-lo. Do outro, nós, jovens, querendo defendê-lo. E é porque queremos o direito ao futuro que a juventude brasileira tem dado inúmeros exemplos de resistência. Ocupando os locais de estudo de todo o país, como fizemos ano passado. E agora, ocupando as ruas, contra Temer e suas medidas. Não nos serve esperar o futuro, nós queremos construí-lo a partir do presente.

O recado que a juventude vem dando é que não vamos assistir parados enquanto nosso direito ao futuro é jogado no lixo, nós vamos à luta, à resistência, vamos organizar nossa indignação.

Para os marxistas, a fé no futuro é algo fundamental. Na prática, é o que nos move. É a crença num outro tipo de sociedade, uma sociedade futura, que rompa com a sociedade atual e seus problemas. Uma sociedade mais igualitária, mais justa, livre de preconceitos e exploração. Uma sociedade sem exploração. Uma sociedade socialista. Tudo isto pode ser simplificado em um trecho da letra da música da Internacional Comunista: “o futuro nos pertence”. Mas, para alcançarmos este futuro, é preciso começar a construí-lo desde agora. É mais do que preciso se organizar num projeto coletivo de superação do atual modelo de sociedade.

A juventude não quer mais as péssimas condições de emprego. As mulheres jovens estão dizendo um basta ao machismo. As LGBTs estão lutando pelo direito à vida, de ser quem realmente são, sem temer. Os jovens negros e negras da periferia estão resistindo ao genocídio que este sistema realiza, afirmando sua negritude. A juventude não quer mais este sistema que nos mata e explora. A juventude que luta e sonha quer tocar fogo no sistema atual e construir um novo. Queremos fazer anticapitalismo, queremos fazer revolução.

”O tempo é escasso, mãos à obra.
Primeiro é preciso transformar a vida,
para cantá-la em seguida.
(…)
É preciso arrancar alegria ao futuro.”

Maiakovski

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil