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OPRESSÕES

Conselheira de Administração do BB sofre ataque machista na internet

Da Redação

RESPEITA AS MÃES – Nesta segunda-feira (27), a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração do Banco do Brasil (Caref), Juliana Donato, publicou uma denúncia, em sua conta pessoal na rede social Facebook, sobre publicações da página “Funcionalismo BB” com conteúdo machista e ataques pessoais contra Juliana. De acordo com a representante dos trabalhadores no Banco do Brasil, o dono da página se utiliza do fato de ter sua identidade não revelada para atacar direitos fundamentais das mulheres, como a escolha, ou não, de ser mãe.  “E a CAREF, bem… Engravidou no final do mandato, pra garantir mais seis meses de salarião”, foi uma das postagens feitas pela página.

Juliana foi eleita pelos trabalhadores para o Conselho de Administração do Banco do Brasil com mandato até abril de 2017. Desde então, é a única mulher representante nas decisões do banco.  Ficou conhecida por não se intimidar desde o início do mandato. Diante de Tarcísio Godoy, à época principal assessor de Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda e presidente do Conselho, Juliana teve posicionamento firme. “Muitas vezes tenho de lembrá-lo de que o Banco do Brasil é uma instituição de capital misto, em que o acionista majoritário é o Estado. Se não estiver satisfeito, que volte ao Bradesco”, disse à Revista Época em agosto de 2015.

De acordo com a Caref, mesmo gozando da licença maternidade, continuou tendo participação em questões como a defesa de direitos trabalhistas para o conjunto da classe trabalhadora, como a participação nos recém protestos contra as reformas Trabalhista, da Previdência, o PL das terceirizações, que, após sancionado, entre outras coisas, expandirá a flexibilização também para atividades fim. A que ganhou maior destaque, no entanto, foi a ação onde Donato questionou o aumento dos salários dos vereadores de São Paulo, conteúdo que saiu na imprensa em todo o Brasil. Segundo ela, toda a gestão se deu “sem receber um centavo dos benefícios proferidos aos conselheiros para além do seu salário normal de bancária”, em rebate às críticas do autor da página.

 

Leia, na íntegra a carta denúncia de Juliana Donato publicada no Facebook: 

EM DEFESA DOS DIREITOS DAS MULHERES

Uma resposta ao administrador da pagina “Funcionalismo BB”

Nos últimos dias, deparei-me com afirmações caluniosas e extremamente machistas vindas de um “colega”, administrador da pagina “Funcionalismo BB”, que escreveu, em um comentário: “E a CAREF, bem… Engravidou no final do mandato, pra garantir mais seis meses de salarião”. Não contente, depois escreveu uma postagem sobre o assunto, para não deixar dúvidas sobre sua opinião machista, no qual afirma: “Essa é a CAREF, que enquanto o pau estava comendo nas agências em razão da reestruturação, estava tranquila, em casa, gozando da licença maternidade…”. A postagem do “colega” foi escrita para se contrapor a uma minha, em que chamo todos e todas para ocuparmos as ruas no dia 31 de março, assim como fizemos no dia 15, contra a retirada de direitos promovida pelo governo Temer. É, portanto, além de machista, um texto contra a luta dos trabalhadores por seus direitos. Em resposta a ele é que este texto foi escrito.

Tornei-me mãe há pouco menos de 6 meses. Não porque queria mais 6 meses de salário como Conselheira de Administração do Banco do Brasil (CAREF). Mas simplesmente porque quis ser mãe. Em respeito aos que me elegeram e talvez não saibam como as coisas funcionam, esclareço que, primeiramente, como prometi em minha campanha, nunca foi para o meu bolso um centavo sequer dos cerca de 5000 reais que recebo por mês para ser conselheira. O dinheiro é gasto em sua totalidade para fazer com que o mandato esteja o mais próximo possível dos funcionários e funcionárias do BB: assessoria de comunicação, boletins impressos, viagens, foram alguns dos gastos que tivemos durante esses 2 anos. Digo tivemos porque temos uma equipe que, junto comigo, toca esse mandato e tomamos todas as decisões coletivamente. Em segundo lugar, o meu mandato iria até abril de 2017, com ou sem a gravidez, assim como o salário. Portanto, a minha gravidez não mudou nada em relação ao salário.

No entanto, ao engravidar, deparei-me com a seguinte situação: descobri que tinha direito à licença maternidade como funcionaria do BB, mas não como conselheira. Um absurdo. Enviei então uma solicitação ao conselho para que fosse dispensada das reuniões neste periodo, ja que estaria em licença maternidade, e pedi também para que se colocasse em discussão uma alteração do estatuto do BB para que as estatutárias (diretoras, conselheiras, etc) tivessem direito à licença maternidade. O fato de nunca terem pensado sobre isso reflete o quanto o BB está longe da equidade de gênero: em relacao a mulheres na diretoria, somos o pior de todos os bancos. No conselho de administração, eu sou a única mulher. Devido ao machismo que reina no banco, como em toda a sociedade, resolvi pautar este tema por diversas vezes, durante o meu mandato.

Quanto à reestruturação, caro “colega”, eu não estava em casa descansando enquanto meus colegas sofriam. Eu estava cuidando do meu filho, sofrendo junto com os colegas e denunciando a reestruturação pelas redes sociais. Infelizmente, era o que estava ao meu alcance. Saibam que eu tomei conhecimento da reestruturação pela imprensa, assim como vocês. Muitos temas que dizem respeito aos funcionários não passam pelo conselho de administração, e os que passam, eu não tenho permissão para participar do debate. É o que diz a lei.

Mas o “colega” faz questão, mais de uma vez de referir-se à minha licença maternidade como um descanso. Pergunto, diante de suas afirmações: o senhor é contra a licença maternidade? O senhor realmente acha que as mulheres em licença ficam em casa descansando? O senhor tem filhos? Se tem, eles comem, tomam banho e dormem sozinhos desde que nasceram? Eu imagino que não. A licença maternidade é um direito básico das mulheres e das crianças e tem que ser defendido com unhas e dentes, pelas mulheres e homens da classe trabalhadora.

Sou feminista e defendo que as mulheres sejam tratadas com igualdade no mercado de trabalho, que recebam salários iguais aos dos homens (hoje recebemos 70% do que eles recebem). Luto contra qualquer tipo de violência contra as mulheres: o estupro e outras formas de violência física, a violência psicológica, o assédio sexual. Defendo que as mulheres tenham direito ao seu próprio corpo e que parem de morrer aos montes em clínicas clandestinas, e por isso defendo a descriminalização do aborto. E isso não se contrapõe, como sugere o “colega”, à defesa da licença maternidade. Defendo que possamos escolher. Que aquelas mulheres que queiram ser mães, possam viver plenamente a maternidade. Que, para isso, tenham creches públicas decentes com vagas para todos, direito a licença maternidade de 6 meses (hoje, isso é um direito de poucas), que os pais também tenham licença paternidade de 6 meses para dividirem com as mulheres os cuidados com os filhos nos primeiros meses, entre outras medidas.

Além de feminista, sou de esquerda e socialista. Isso não é segredo pra ninguém. Minhas posições políticas e ideológicas sempre foram públicas. Sou uma militante organizada no MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista). Sou contra a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a terceirização, a reestruturação e fechamento de postos de trabalho no BB e toda e qualquer tentativa de retirada de direitos dos trabalhadores. Não sou petista e não votei na chapa Dilma/Temer, porque me recuso a participar, aceitar ou elogiar a experiência dos governos petistas, de alianças com banqueiros e empresários. Acredito que os trabalhadores devem governar com suas próprias forças. Mas, apesar de não ser petista, fui contra o impeachment, porque sabia que tirar Dilma era somente um meio para aprofundar ainda mais os ataques aos trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, agora defendo o Fora Temer e a convocação de eleições gerais. Estive e estarei presente em cada luta contra este governo e suas medidas, ao lado de todos e todas que estejam nesta luta.

Como nunca me escondi, caro colega, tomo a liberdade de, ao mesmo tempo em que reitero minhas posições para aqueles que ainda não as conhecem, pedir para que você mostre a sua cara e defenda também as suas posições. Quando faz essa postagem, escondendo-se atrás de uma página, você não esta “me desmascarando”, como diz. Você esta se posicionando contra as coisas que eu defendo. E por isso lhe pergunto: você é a favor de que os trabalhadores trabalhem até morrer? Porque é isso que diz a reforma da previdência. Você é a favor de que milhões de trabalhadores sejam substituídos por outros milhões de trabalhadores com salários menores e quase nenhum direito? Porque é isso que diz a lei das terceirizações. Voce é a favor de que os vereadores ganhem muito mais do que nós e ainda votem seu próprio aumento em plena crise economica? Porque você critica o fato de eu ter entrado com uma ação popular que barrou este aumento. Você é contra que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens? Você é contra a licença maternidade? Você acha certo que mulheres continuem morrendo ao abortar?

Se a resposta é sim, não se iluda. Você não está contra mim, você está contra a massa de trabalhadores brasileiros, que está sendo prejudicada com as medidas deste governo. Você está com Michel Temer e o congresso de picaretas. Você está contra as mulheres, que são oprimidas todos os dias pelo machismo. E é ao lado dessa massa de trabalhadores e trabalhadoras que eu vou pra rua no dia 31. E levarei meu filho, que não tem nem 6 meses de idade, mas já tem lado. E você? De que lado você esta?