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Mais de quinze mil participam de ato unitário do 8 de março, no Rio

Da Redação

Nesta quarta-feira,  mais de 15 mil pessoas participaram de uma histórica manifestação unitária do 8 de março, Da Internacional da Mulher, no Rio de Janeiro. Entidades, coletivos, movimentos sociais somaram ao chamado internacional e levantaram as bandeiras contra a Reforma da Previdência, por Nem Uma a Menos, pelo Fora Temer e várias outras pautas estampadas em cartazes, faixas, vozes. Com concentração na Candelária, saíram em caminhada até a Praça XV, onde fecharam o dia com intervenções artísticas protagonizadas por mulheres.

8 março
Concentração na Candelária

Desde a concentração, às 16h, era possível ver a diversidade e riqueza do que seria a manifestação. Enquanto mulheres falavam no carro de som, aconteciam oficinas de confecção de materiais, da bateria unitária, um espaço era organizado para as filhas e filhos, chamadas crias. Falaram os partidos de esquerda, movimentos de mulheres, sem terras, trabalhadora da Cedae, entre outras representações, como as Hermanas, mulheres latinas que marcaram o caráter internacionalista da manifestação.

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Petroleiras realizaram atividade no prédio da Petrobras como parte do Dia Internacional da Mulher

Aos poucos, todo o espaço em frente à Candelária foi sendo tomado por quem vinha chegando. Muitas mulheres já tinham realizado ações em seus locais de trabalho e estudo, que chegaram a reunir centenas durante todo o dia, a exemplo de petroleiras, bancárias, estudantes da UERJ e UFRJ, que organizaram atividades e depois se somaram ao ato. Algumas vinham das cidades vizinhas, como as mulheres de Niterói, que marcaram concentração no município e vieram conjuntamente para se somar à atividade no Rio.

Às 18h, era hora de sair em caminhada. À frente, as mães e as crianças envoltas por um gigante cordão humano, para que pudessem participar com tranquilidade. Logo em seguida, uma bateria só de mulheres e cheia de garra construída de forma unitária. Músicas, palavras de ordem criativas e políticas eram entoadas e davam o ritmo do ato. Atrás, centenas de mulheres, trans, gays, lésbicas, negras, homens levantaram suas mais diversas bandeiras relacionadas às lutas das mulheres.

Durante o ato foi lido o manifesto das mulheres que construiu o 8 de março no Rio. “Hoje, neste histórico 8 de março, nós paramos nossas atividades e ocupamos as ruas da nossa cidade. Olhamos para os lados e nos reconhecemos umas nas outras. Não somos dez, não somos cem, não somos mil. Somos mais! Somos muitas! Somos aquelas que mantemos vivas as lutas das nossas mães, das nossas avós, das operárias russas que iniciaram uma revolução há um século. Nós Paramos para manifestar nossa indignação com o sofrimento causado pela violência machista que mata a nós, nossas filhas e irmãs, contra o assassinato de nossas irmãs negras e LGBTs, contra toda desigualdade a que estamos submetidas no trabalho, nas ruas e em casa, contra a Reforma da Previdência e Trabalhista e todo o retrocesso promovido pelos governos e parlamentos conservadores”, iniciava o texto.

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Grupo Maria Vem com as Outras

Ao chegar na Praça XV, diversos grupos culturais de mulheres finalizaram a manifestação com mais criatividade e luta. Os últimos a tocar foram o bloco feminista Maria Vem com a Outras, com músicas de Elza Soares e outros temas que retratam a luta das mulheres e o Maracatu Baque Mulher. Um grande círculo foi formado na Praça com a música popular de letra “Companheira me ajude, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”, seguida do grito geral de “Fora Temer”.

 

Abaixo, na íntegra, o manifesto das mulheres para o 8 de março no Rio de Janeiro

MANIFESTO 8 DE MARÇO DE 2017

Rio de Janeiro

Hoje, neste histórico 8 de março, nós paramos nossas atividades e ocupamos as ruas da nossa cidade. Olhamos para os lados e nos reconhecemos umas nas outras. Não somos dez, não somos cem, não somos mil. Somos mais! Somos muitas! Somos aquelas que mantemos vivas as lutas das nossas mães, das nossas avós, das operárias russas que iniciaram uma revolução há um século!

Nós Paramos para manifestar nossa indignação com o sofrimento causado pela violência machista que mata a nós, nossas filhas e irmãs, contra o assassinato de nossas irmãs negras e LGBTs, contra toda desigualdade a que estamos submetidas no trabalho, nas ruas e em casa, contra a Reforma da Previdência e Trabalhista e todo o retrocesso promovido pelos governos e parlamentos conservadores.

Nós paramos para denunciar o quanto o capitalismo produz desigualdades econômicas e sociais das quais nós, mulheres, somos as maiores vítimas. Somos aquelas que sofrem mais com o desemprego, com o trabalho precarizado, informal, inseguro, pouco protegido pela lei e com os menores salários. Apesar de cada vez mais acumularmos a função de chefes de família, recebemos, em média 25% a menos que os homens, mesmo ocupando os mesmos cargos.

Nós paramos contra a desigual divisão das tarefas domésticas e por elas não serem reconhecidas como trabalho – por conta disso, nós mulheres trabalhamos, por semana, 7,5 horas a mais que os homens. Lutamos por creches e serviços públicos de qualidade que nos permitam trabalhar, estudar e viver.

Nós paramos contra toda violência machista que tem no feminicídio (assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher) sua expressão mais brutal. O Brasil ocupa hoje a vergonhosa quinta posição na quantidade de homicídios de mulheres, em um ranking com 83 países. Lembramos daquelas que hoje estão ausentes, vítimas dessa verdadeira barbárie. São Elisas, Eloás, Amandas, Claudias, Dandaras, Anas, Carolines e muitas outras, infelizmente.

Nós paramos porque não aceitaremos “nem uma a menos!”.
Nós paramos porque “vivas nos queremos! “.
Nós paramos contra a cultura do estupro, que ameaça a integridade física e psicológica de meninas e mulheres e contra a ideia de que a vítima é culpada pela violência que sofre. Lutamos contra o papel da mídia na sexualização das meninas e na transformação dos nossos corpos em mercadoria e objetos.

Nós paramos porque para nós, mulheres negras, as violências de gênero e de raça se combinam para nos discriminar e nos oprimir ainda mais. Lutar contra o machismo e o racismo é vital e necessário. Combatemos os estereótipos construídos por uma sociedade racista, sexista e misógina que massacra as mulheres negras com o seu padrão de beleza europeizado e que, por outro lado, insiste em ver nossos corpos como objeto e coisificação. Perdemos nossos filhos pela violência do Estado, pela ausência de políticas sociais para a população negra e fruto da violência policial, que reproduz o racismo e a criminalização da pobreza.

Nós paramos por Dandara e por todas as mulheres trans que sofrem cotidianamente com a violência transfóbica, que as mata e marginaliza. Dados da agência de pesquisa Transgender Europe mostram que no ano de 2016, 144 travestis e transexuais foram assassinadas no Brasil. No ano de 2015 foram cerca de 123. Estes números, no entanto, são apenas a ponta do iceberg já que se trata apenas de dados noticiados na imprensa. Mesmo assim, tornam o Brasil o país que de longe mais mata mulheres trans e é responsável por metade de todos os assassinatos de pessoas trans do planeta.

Nós paramos por todas as mulheres lésbicas e bissexuais, que são vítimas da violência, dos estupros corretivos e da invisibilidade a que são condenadas suas demandas e necessidades.

Nós paramos pela legalização do aborto, para que tenhamos o direito de decidir sobre nossos corpos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 1 milhão de mulheres no Brasil se submetem a abortos clandestinos anualmente. A cada dois dias, uma mulher morre no país, vítima de aborto clandestino. A maioria das vítimas é de mulheres pobres que não têm dinheiro para pagar clínicas clandestinas caras e acabam utilizando métodos inseguros. Somente com o aborto legal, seguro e gratuito, garantido pelo SUS, é possível mudar essa bárbara realidade.

É pela vida das mulheres!

Nós paramos para que as mulheres sejam livres para escolher se querem ou não ser mães. A maternidade é uma escolha e não uma obrigação ou um destino das mulheres. Que aquelas que desejam, tenham direito a um parto respeitoso e seguro, sem violência obstétrica. E que o Estado garanta educação e saúde públicas, gratuitas e de qualidade, para que todas possam criar e educar seus filhos.

Nós paramos por justiça ambiental e contra a ganância capitalista que nos rouba e esgota os recursos naturais fundamentais à vida. Lutamos pela soberania alimentar dos povos e em defesa do território, da história e memória das populações caiçaras, indígenas e quilombolas.

Nós paramos pelos direitos da Natureza, com as espécies, rios e florestas que a integram, porque somos parte dela.
Nós paramos contra as fronteiras, contra todos os muros que queiram construir no México, na Palestina, na Europa e em cada uma de nossas cidades e países, onde os muros sãos os muros da desigualdade, da pobreza e da exclusão social.

Nós paramos porque como imigrantes continuamos sendo consideradas cidadãs de segunda, cumprindo as tarefas mais precarizadas, em condição de intensa exploração e sem reconhecimento do nosso direito e o de nossas famílias de migrar e residir onde quisermos.

Nós paramos aqui, na Guatemala, na Colômbia, em Honduras, na Argentina, em Puerto Rico, na Venezuela, no Chile, no México, no Equador, em Cuba, na Costa Rica, no Panamá, em muitos lugares da América Latina e do mundo! Nós paramos certas de que a América Latina vai ser toda feminista!

Nós paramos contra o projeto “escola sem partido” e contra o avanço do conservadorismo que tenta nos impor um lugar de submissão, sem voz e sem direitos. A nova “caça às bruxas”, que agora persegue o que nomeia como “ideologia de gênero”, tenta justamente combater e neutralizar nossa força e quebrar nossa vontade. Resistiremos! Não permitiremos!

Nós paramos contra as medidas de ajuste fiscal que os governos tentam nos impor, com a intenção de que paguemos a conta de uma crise econômica que não é responsabilidade nossa.

Nós paramos hoje, em especial, contra a Reforma da Previdência machista do governo Temer, que tenta nos impor a igualdade de idade e tempo de aposentadoria com os homens sem que avancemos na igualdade na divisão do trabalho doméstico e dos cuidados com a família.

Nós paramos pelo FORA TEMER!
Nós paramos em defesa dos serviços públicos estaduais, sucateados pelos seguidos governos corruptos. Marchamos pelo nosso direito à água e contra a privatização da CEDAE! O acesso à água está ligado ao direito fundamental à vida. Sabemos que a lógica privada do lucro é incompatível com a universalização de qualquer direito. A água é nossa! A CEDAE é nossa! Nós paramos pelo FORA PEZÃO!

Nós paramos inspiradas pelas tecelãs russas, que há 100 anos iniciaram uma greve que se transformou no estopim de uma revolução que pela primeira vez na história da humanidade libertou trabalhadoras e trabalhadores da exploração e da opressão. Aquela experiência levou a avanços históricos para as mulheres e mudou a nossa condição para sempre.

Estamos aqui, mais unidas do que nunca, fazendo do tempo presente a ferramenta para a construção de um novo futuro, sem opressão e sem exploração!
É só o começo!

Foto: Mídia NINJA