Por: Alessandra Fahl Cordeiro, de São Bernardo do Campo, SP
*este texto pode conter alguns leves “spoilers”, porém sem revelações de desfechos
Fui assistir “Logan” no cinema com uma boa expectativa – trailer bem feito e com trilha sonora interpretada por Johnny Cash (diga – se de passagem, um defensor dos direitos humanos), coisas que causaram boas impressões. Mas estas foram superadas a cada minuto do filme. Apesar de não ser uma fã de carteirinha de ficção ou HQ´s, a história de Wolverine e dos X – Men sempre me causaram certa simpatia.
O filme se passa em 2029, com “Logan” doente, dependente de bebidas alcoólicas, e motorista de um aplicativo. Escondido, explorado, e sem ter a quem recorrer ajuda.
Mas o mais importante do filme são as plausíveis críticas anticapitalistas. O próprio personagem principal teve sua condição genética usada contra a sua vontade para ser transformado em uma arma – o que mudou para sempre os rumos da sua vida.
Tudo corre desta forma, até ele descobrir novas experiências realizadas com seres humanos, movidas por interesses meramente lucrativos. Não existem como objetivos curas de doenças, mas a criação de exércitos obedientes que não questionem ordens. E quando esta nova experiência é considerada como um “prejuízo” – esta palavra é claramente pronunciada por um dos personagens – a ordem é de “descarte” imediato, a partir do momento em que uma outra experiência, ” sem alma”, tem resultado aceito como muito mais eficaz. Uma pergunta fica no ar: pesquisas médicas geneticistas pra quem, servindo à quem e à quais interesses?
Logan também foi usado em experiências obscuras, mas não perdeu a capacidade de sentir, opinar e escolher. Assim como Charles Xavier, é considerado “um perigo” por estes motivos. Existe algo mais atual do que isso, em tempos de golpes maquiados e manipulação explícita de opinião pública com uso de ameaças das mais variadas, criminalização de protestos e perseguição cada vez maior aos que destoam do considerado “comportamento padrão”?
Outro ponto marcante é a perseverança na luta. Em meio a todas as adversidades, Logan não desiste do que passa a acreditar no crepúsculo da vida. Abraça finalmente uma causa militante, e não abre mão dessa luta, custe o que custar. Nem da solidariedade, outro aspecto marcante do filme. Muito pertinente, em tempos de individualismo cada vez mais acirrado, reflexo, como diria Marx, da desconfiança que o capitalismo incute entre os indivíduos nas sociedades em que concorrer e ganhar individualmente é mais importante do que colaborar e buscar soluções que beneficiem coletivos.
Vale ressaltar a atuação da atriz Dafne Keen, de apenas 11 anos, que trabalhou uma expressividade inesquecível ao lado dos veteranos Hugh Jackman e Patrick Stewart – todos impecáveis em seus papéis.
Recomendo o filme para fãs e não fãs de Wolverine, Marvel e X – Men. Recomendo para todos que desejam assistir uma produção cinematográfica bem produzida, atual, e permeada de elementos ficcionais não tão ficcionais assim, que aborda um futuro cada vez mais presente.
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