Por André Freire, Colunista do Esquerda Online
Uma polêmica tomou conta da comunidade judaica, quando recentemente a direção do Clube Hebraica de SP, resolveu convidar o “sinistro” deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato a presidência da república, para expor suas idéias de extrema direita, em um debate voltado para a comunidade judaica paulista.
Este fato gerou um enorme desconforto em parcelas mais democráticas de seus associados, que organizaram um abaixo-assinado, com mais de 4 mil assinaturas, pedindo a não realização de tal evento. Para estes setores, seria um contrassenso a organização de um evento especial para uma figura muito conhecida pela defesa de idéias racistas e xenófobas.
A direção do Clube Hebraica paulistano acabou cedendo à pressão, e cancelou o evento, com a desculpa de organizar, futuramente, um debate com todos os pré-candidatos a presidente da república.
Mas, a polêmica está longe de se encerrar, e chegou, inclusive, a grande imprensa. Afinal, o Presidente do Clube Hebraica do Rio de Janeiro, Luiz Mairovitch, acaba de se pronunciar contrário ao cancelamento do evento com Bolsonaro em SP e anunciou que vai convidá-lo para palestrar na sede da agremiação no Rio de Janeiro.
Em uma postura bem mais afinada com a ideologia opressora e xenófoba hegemônica no Estado racista de Israel, o presidente do Clube Hebraica carioca chegou a declarar, ao Jornal Folha de SP, sobre Bolsonaro: “hoje um nome muito forte e muito querido. Eu mesmo tenho simpatia, sim”. E, em outra passagem: “sem querer contrariar ninguém, mas objetivando fazer jus ao Estado democrático de Direito”.
Sem querer me aprofundar nas disputas políticas no interior da comunidade judaica, é inquestionável que o fato chamou a atenção e desnudou uma questão muito importante na atual conjuntura brasileira, para a esquerda socialista e os movimentos da classe trabalhadora em geral: figuras como Jair Bolsonaro devem ter garantido espaços democráticos para defender suas idéias?
Nenhum espaço para os que defendem a ditadura, seus torturadores, a opressão e o fim das liberdades democráticas:
Embora Jair Bolsonaro seja uma figura bastante caricata, existe um projeto político ultraconservador e de extrema direita que encontra nele sua maior expressão na atualidade.
Ele e o seu projeto ganharam força no último período, principalmente com o fracasso dos governos de conciliação de classes do PT, com o golpe parlamentar do Impeachment e com as grandes manifestações reacionárias – hegemonizadas por setores conservadores e mais abastados das classes médias das grandes cidades brasileiras e dirigidos politicamente por setores da direita. Este fato explica seu o crescimento nas pesquisas de opinião entre os possíveis candidatos a presidência da república em 2018.
Este processo no Brasil também é parte de uma realidade internacional, onde vemos também o fortalecimento de movimentos de extrema direita, como a Frente Nacional francesa, e até fascistas, como o movimento Aurora Dourada na Grécia.
Não é novidade para ninguém que Bolsonaro defende os “anos duros” da ditadura militar no Brasil, incluindo seus métodos mais fascistas. Ele se orgulha, por exemplo, de defender torturadores comprovados, como o Coronel Ustra, como fez no seu lamentável discurso quando da votação na Câmara dos Deputados do Impeachment de Dilma.
Ele tem sido um inimigo público da causa dos direitos humanos e um defensor da violência policial, que assassina diariamente a juventude pobre e negra das periferias urbanas brasileiras, além de evidentemente defender a redução da maioridade penal e a pena de morte.
Tem perseguido de forma permanente os oprimidos, as mulheres, os negros e as negras e os LGBT´s, realizando uma verdadeira guerra contra quem defende os direitos dos setores oprimidos, como repetidamente faz contra o deputado federal Jean Wyllys, do PSOL-RJ.
Outra posição muito comum de Bolsonaro é o ataque permanente aos movimentos sindicais da classe trabalhadora e as mobilizações dos movimentos sociais combativos. Sempre se colocando contra as liberdades democráticas daqueles que lutam para defender suas idéias e seus direitos.
A esquerda socialista não deve, de modo nenhum, subestimar a importância de um enfrentamento duro, direto e intenso contra esse projeto ultraconservador e de extrema direita, representado, principalmente hoje, na figura repugnante de Bolsonaro.
O fortalecimento deste projeto nefasto equivale a uma maior repressão e cerceamento das já parcas liberdades democráticas para os movimentos de luta da classe trabalhadora, da juventude e do conjunto dos explorados e oprimidos.
Portanto, a esquerda socialista não deve cair no erro de defender os direitos democráticos daqueles que querem acabar com a mínima democracia existente, reduzindo drasticamente o pouco de conquistas e espaços democráticos que o povo trabalhador ainda possui para se expressar politicamente.
Contra a extrema direita e os setores fascistas, que também começam a se organizar de forma mais contundente no Brasil, não existe diálogo democrático possível. O único caminho a seguir é o combate político direto e permanente, contra as suas idéias reacionárias, buscando evitar a sua penetração em setores da classe trabalhadora e da juventude.
Este confronto pode até chegar a ser físico, caso isso se coloque como uma necessidade para seguirmos expressando democraticamente nossas bandeiras políticas nas lutas do nosso povo.
Frente Única Antifascista
Na história do movimento operário, se comprovou que contra as idéias e o projeto político da extrema direita e, principalmente, do fascismo é necessário unificar todos os movimentos da classe trabalhadora, da juventude, dos oprimidos, democráticos e da esquerda.
A defesa da frente única antifascista já foi uma importante ferramenta política dos movimentos socialistas e dos trabalhadores contra o avanço político destes setores mais reacionários da burguesia.
No Brasil, inclusive, existe um fato histórico memorável. No dia 7 de outubro de 1934, aconteceu a chamada “Batalha da Praça da Sé” ou a noite da “Revoada das Galinhas-Verdes” – nome em alusão a como eram conhecido os integrantes da Ação Integralistas, de Plínio Salgado, um movimento político de cunho fascista, que ganhou forte presença no Brasil na primeira metade da década de 1930.
Uma Frente Antifascista, formada por amplos setores da esquerda, onde os Trotskistas tiveram papel de destaque, dispersou fisicamente uma marcha integralista que tinha a intensão de ocupar a Praça da Sé, no Centro de SP.
Evidentemente, não vivemos o mesmo momento histórico da década de 30 do século passado, e tão pouco estes setores de extrema direita têm hoje a mesma política que tinham no mundo naquela época, mas não devemos descartar a possibilidade da tática da frente única antifascista novamente estar colocada na ordem do dia, caso estes setores sigam se fortalecendo e comecem a colocar em ação seus métodos fascistas, que hoje são defendidos muito mais nos seus discursos.
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