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MOVIMENTO

Depoimento da Professora Letícia Pacheco – #SoudoMunicipioSim

Por Letícia Pacheco, Professora da Rede Municipal de Porto Alegre

Meu nome é Letícia Pacheco, eu nunca fui aluna da Rede Municipal de Porto Alegre, porém a minha história com a rede iniciou quando eu tinha 16 anos.

Em 1999, iniciei na Escola Dom Diogo de Souza, o curso de Magistério, naquele mesmo ano eu iniciei um estágio em uma Escola de Educação Infantil da rede PRIVADA e foi uma experiência bastante traumática, pois além de não ter estrutura física adequada, eu, estagiária, ficava sozinha com diversas crianças de idades diferentes, fiquei 2 meses nessa escola e desisti do estágio. Com tudo isso, pensei até em trocar de curso.

Um ano depois, em 2000, iniciei um estágio na EMEI Vila Elizabeth e logo que cheguei não acreditei no que vi: além da estrutura fantástica da escola, eu realmente estava ali como ESTAGIÁRIA, acompanhando a professora e monitora, ou seja, éramos três para acompanhar 15 crianças da mesma idade. O refeitório era lindo! As reuniões e formações pedagógicas estavam alinhadas com aquilo que eu estudava na escola. Foi ali que aprendi a ser professora, foi convivendo com aquelas professoras, monitoras e crianças que descobri o quanto era maravilhosa a profissão que havia escolhido. Então, eu decidi, queria ser professora do município de Porto Alegre.

Há seis anos ingressei na rede, na EMEF Pepita de Leão, escola que amo trabalhar e onde meus colegas não medem esforços para garantir a qualidade do ensino. Trabalho com os alunos do 1º ciclo e há quatro anos, juntamente com mais duas colegas da rede, faço parte de um grupo de pesquisa na Universidade Federal de Pelotas, e no dia da nossa compensação, nos deslocamos até Pelotas, para pensarmos, discutirmos e desenvolvermos diferentes projetos em nossas escolas. O meu projeto está relacionado diretamente à Educação Integral. Dessa forma, durante três anos acompanhei uma turma integralizada, que iniciou no 1º ano em 2014 e finalizou em 2016, quando completaram o 1º ciclo. Estou nesse momento analisando a prática que desenvolvi e os materiais que selecionei, e quero destacar dois fatores que são desconhecidos por essa nova gestão na SMED:

– A itinerância dos nossos alunos é muito grande, se você pegar uma folha de chamada de uma turma de A10 no início do ano, outra no meio do ano e outra no final do ano, você terá três turmas diferentes. Isso porque as famílias, muitas vezes em função da violência, trocam de bairro e cidade com frequência. Qual criança sem vínculo afetivo terá plenitude em sua aprendizagem? Como um professor poderá desenvolver um trabalho contínuo com uma turma em que mudam os alunos a todo momento?
– As escolas da Rede Municipal de Porto Alegre, estão localizadas na periferia da cidade, onde nossos alunos convivem diariamente com diferentes tipos de violência, somados a isso está a falta de convivência com a cultura do letramento, seja ele através de livros, jogos, brinquedos e visitas a espaços que possibilitem essas experiências.

Nós, professores, somos os maiores interessados em resolver os problemas de aprendizagem dos nossos alunos e sempre estamos buscando diferentes soluções, estudando, nos aperfeiçoando e pesquisando. E apesar de toda dificuldade que encontramos na escola e de todos os problemas enfrentados por nossos alunos, eles mostram grandes avanços e conquistas! Esse ano tive a grata surpresa de ser lembrada por uma mãe da EMEI Vila Elizabeth, que citei acima, sua filha passou no vestibular da UFRGS!

E é por eles que hoje luto e faço esse depoimento. EU ACREDITO NA EDUCAÇÃO PÚBLICA!
#soudomunicipiosim